Tempo de envelhecer

Brasil tem 3,5 milhões de pessoas dependentes de cuidados

Nem 1% desse total vive em instituições de longa permanência, ou seja, quem cuida é a família

Por Cristiana Andrade, Maria Irenilda, Milena Geovana e Queila Ariadne
Publicado em 15 de abril de 2024 | 05:01
 
 
 
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O Brasil tem cerca de 3,5 milhões de idosos dependentes de cuidados, sendo que, do total, pouco mais de 100 mil vivem em instituições de longa permanência, públicas e privadas. O país está envelhecendo a passos largos e é preciso pensar políticas públicas de cuidado para essa parcela da população.

“Não há nem 1% dos idosos em instituições. Ou seja, 3,4 milhões deles são cuidados pelas famílias, com quase nenhuma ajuda do Estado. E quando a família não cuida, abandona o idoso no hospital, não busca, ela é criminalizada, pois o Estatuto do Idoso pune o não cuidado. Nesse sentido, nossa legislação é mais punitivista do que ajuda no cuidado”, esclarece a economista e coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Ana Amélia Camarano. 

Neste cenário, ela diz que a crescente tendência da população idosa no país convive ainda com as dificuldades da vida diária, como a redução da capacidade da família cuidar e os novos arranjos familiares. “Você tem pessoas com menos filhos, muitas vezes cada um mora num lugar, há questões de trabalho e também novos arranjos familiares. Casa-se, descasa-se, as uniões de menor duração significam menores vínculos ou vínculos mais fracos. Brinco, dizendo que quem tem muita sogra não vai cuidar de nenhuma”, diz. 

A economista comenta também que a pessoa que cuida de um familiar muitas vezes adoece antes do paciente piorar. “Há muitas pessoas no Brasil com 60 anos ou mais, que estão cuidando de parentes de 80, 90 anos. E, a depender da doença, a situação fica ainda mais difícil. Veja o Alzheimer, ele não é letal, mas incapacitante, e a expectativa de vida de uma pessoa com esse tipo de demência é, em média, de 13 anos, ou seja, um longo e difícil período para quem cuida. Quando uma pessoa adoece, adoece uma família”. 

 

Previdência

 

Outro aspecto levantado pela pesquisadora do Ipea diz respeito à Previdência Social (INSS). “Se o governo e a sociedade não mudarem o esquema de Previdência, o sistema não vai dar conta. As mudanças no mercado de trabalho estão cada vez mais acentuadas, com uma maior tendência à informalidade. Corremos o risco de termos pessoas envelhecendo sem ter renda para fazer um supermercado”, alerta.

Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Marco Túlio Gualberto Cintra é médico geriatra e professor da UFMG
Médico geriatra Marco Túlio Gualberto Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) - Foto: Arquivo pessoal 
 

“A França gastou 150 anos para fazer de 7% da população acima de 65 anos passar para 14%, nós estamos fazendo 20 e poucos anos. Isso é muito acelerado para um país desigual, pobre. Você está se tornando envelhecido antes de enriquecer. É uma situação muito diferente do resto do mundo, onde se enriqueceu antes de envelhecer", aponta o médico geriatra Marco Túlio Gualberto Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

 

Esta matéria integra o especial "Tempo de Envelhecer:quando viramos pais de nossos pais", da Mais Conteúdo, de O TEMPO. O episódio 1 do podcast, com mais personagens e outras análises de especialistas, você ouve abaixo:
 

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