As emblemáticas cachoeiras Tabuleiro e Rabo de Cavalo, em Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas Gerais, tiveram que disputar a atenção dos turistas e moradores da cidade com outros atrativos neste fim de semana. Isso porque a chamada "capital mineira do ecoturismo" foi palco de um festival gastronômico promovido pela plataforma Fartura, responsável por eventos com o foco na culinária como o que ocorre em Tiradentes há 23 anos. Barraquinhas de comida, aulas e outras atrações estiveram presentes.
Esta foi a segunda vez que o evento aportou no município de pouco mais de 18 mil habitantes, mas a primeira, de fato, em que contou com ampla programação aberta ao público.
"Em 2018, iniciamos plantando uma sementinha e, neste ano, já consideramos que estamos colhendo resultados. Viemos com uma expectativa que foi superada: a comunidade dançou, comeu, brindou se divertiu; ficamos felizes de ter esse retorno, de ver que o público local interagiu com as nossas aulas, com os cozinheiros ao vivo, com o evento", comenta Ananda Fernandes, produtora executiva e gastronômica do Festival Cultura e Gastronomia Conceição do Mato Dentro.
O público foi formado, sobretudo, por moradores da região. "Acho importante iniciativas como essa porque fazem com que a gente valorize mais a nossa terra, com os chefs usando ingredientes locais. Isso faz a gente valorizar nossos produtos, nossa cultura, além de trazer conhecimento. Coloca a gente no mapa não só pelo ecoturismo, mas pela gastronomia da região, que é muito rica", comenta Amanda viana, 34, esteticista mora ha seis anos na cidade e aproveitou o projeto para fazer cursos gratuitos sobre a culinária mineira.
Um dos chefs a participar da iniciativa, ministrando uma aula sobre plantas alimentícias não convencionais (PANCs), Américo Piacenza, do Cantina Piacenza, de BH, acredita que o potencial da cidade histórica é muito grande na área alimentar. "A riqueza gastronômica daqui, que vem das cachaças, da PANCs, das leguminosas, tem que ser explorada", diz.
O chef paraense Saulo Jennings, da Cozinha do Saulo (Santarém), celebrou o fato de o evento ocorrer em uma cidade que não é uma capital. "Isso ajuda a fazer o povo do interior do Brasil entender que eles são atores principais, e nós somos apenas coadjuvantes, porque, a partir daí, a população começa a entender que faz parte do processo. A população, que come todo dia uma PANC, como uma maria-gondó, passa a saber que aquilo tem valor pra culinária mineira, brasileira e internacional. Fazia tempo que não ia num evento raiz, com presença efetiva da população local", comenta.
Segundo a organização, 4.000 pessoas estiveram no Largo do Rosário e no Mercado Municipal, locais que concentraram a programação artística, de cursos e as barraquinhas de comida, entre esse sábado e domingo. Na segunda-feira, o evento continua, porém apenas com cursos de capacitação como incentivo à formação de quem trabalha ou quer trabalhar com gastronomia na região.
Ananda defende que outras edições possam ajudar a desenvolver ainda mais a região, e cita a parceria feita com as produtoras de um item tradicional da cidade, o pastel de angu, que montaram uma banca no Largo do Rosário, como exemplo.
"Trabalhamos com as fritadeira de pastel de angu, e elas ficaram entusiasmadas com o festival, com elas poderem demonstrar o que sempre aprenderam dentro de casa, e que esse pode ser um produto de exportação", diz. "Estamos com grandes ideias e expectativas muito boas para os próximos anos", argumenta.
Por enquanto, a próxima parada do Fartura é em abril, em Brasília.
* A repórter viajou à convite da organização do evento