Há pouco mais de um ano e meio, o segundo andar do Mercado Novo, inaugurado em 1960, passou por um processo de revitalização ganhando empreendimentos que, por contrato, precisavam cumprir projetos que respeitassem as características locais. Aliás, uma das formas de manter uma unidade visual foi que as placas de cada um obedecessem à mesma estética e fossem feitas pela mesma empresa.
De um lado, a distribuidora Goitacazes e a Cozinha Tupis puxaram a fila dos empreedimentos a ocupar aquele terreno. E empreendedores que compartilhavam da mesma visão foram seguindo o fluxo. Logo, surgiu uma charcutaria. E uma destilaria de gim. Hoje, todas as 150 lojas do andar que estavam disponíveis há um ano estão alugadas. Pouco a pouco, elas vão abrindo as portas.
Boa parte dessas novidades acabaram convidando o público a não se aglomerar apenas perto dos pioneiros, mas também na outra extremidade – que, aqui, batizamos de “lado b”.
Nos moldes da dobradinha cerveja + comida foram abertas a cervejaria artesanal Odeon e a Rotisseria Central. E, ao lado, surgiram pastelaria, peixaria, massas artesanais e outras portinhas que pensam num cardápio que tem como base ingredientes comprados no comércio local – é um dos pilares do estatuto que rege a ocupação do prédio. O documento foi elaborado por Rafael Quick, empresário que inaugurou o espaço com a citada Goitacazes. Inclusive, ele tornou-se o curador desse movimento que visa a conscientização das pessoas sobre espaço.
Para o público disposto a consumir artigos locais pelo Mercado, mapeamos, aqui, alguns desses novos lugares – mas é bem provável que, ao terminar essa reportagem, outras atrações já estejam descerrando suas portas. (Com João Renato Faria)
Borandá
Pastel e caldo de cana são o carro-chefe da pastelaria Borandá, inaugurada oficialmente no fim de novembro de 2019. “Pastel é tradicional no centro da cidade e nos principais mercados de qualquer lugar no país”, acredita o sócio Roberto Fleury. Para o local, a proposta é levar a mineiridade para o recheio dos pasteis. Assim, o chef Jefferson Wilson desenvolve sabores que mudam mensalmente, como frango com quiabo, galinhada com pequi, queijo do Serro e tomate confitado e banana com doce de leite (R$ 9 cada). Há a versão “porção”, com cinco pasteizinhos (R$ 18). Para acompanhar, vale ir de garapa – natural ou com um toque de limão (R$ 7, o copo).
Guarapari
Uma condição para integrar o time de estabelecimentos do Mercado Novo é que os projetos sejam locais e tenham o DNA da cidade. Mas existe algo mais mineiro do que ir para Guarapari nas férias? A peixaria que leva o mesmo nome do destino litorâneo foi criada há um mês por Adriana Braga Drumond e seu padrasto, Carlos Eduardo Penha Rabelo, que há 30 anos comanda um quiosque de peixe frito na Praia do Morro, na citada cidade do Espírito Santo. Da cozinha daqui saem a excelente porção de manjubinha com molho rosé (R$ 20) ou o clássico peroá com farofa e vinagrete (R$ 25). Os peixes chegam toda semana e são de um fornecedor do (claro) Espírito Santos. De quarta a sexta, o funcionamento é de 18h à 0h, sábado e domingo, a partir das 12h.
Fritadas
Uma placa estrategicamente colocada no corredor de passagem no Mercado Novo aponta uma seta escrito “omelete de macarrão”. Trata-se portando do Fritadas, um lugar especializado na receita famosa em Nápoles, na Itália, chamada frittatta – ou omelete, feita com espaguete. O chef Sandro Fariello conheceu a iguaria quando morou pela Europa e, no Mercado Novo, deu uma “mineirada” nos sabores requeijão com carne de sol e costelinha de porco. Há versões vegetarianas como a de mix de cogumelos e quatro queijos. A fatia, muito bem servida, custa R$ 15.
Rotisseria Central
Com uma proposta de comida afetiva mineira, a Rotisseria Central, comandada pelo chef Djalma Victor, tem menu escrito à mão e pregado na parede – e varia de acordo com a disponibilidade de ingredientes encontrados no próprio Mercado Novo. “O cardápio é todo trabalhado dentro da sazonalidade”, explica o chef. De lá saem preparos feitos na brasa, como espetinhos de queijo coalho com melaço e farofa de torresmo (R$ 18), linguiça caipira com pão de alho (R$ 18) e galeto com purê de batata defumado (R$ 45). Mas, claro, até você terminar de ler os destaques aqui, o cardápio deve ter mudado novamente. O almoço é servido às sextas, sábados e domingos, a partir de 12h, e os petiscos, de quarta a domingo, no funcionamento normal do Mercado.
Carimbó
Uma pequena amostra de Belém do Pará, região Amazônica do país, foi aberta há poucos dias para o público mineiro. Trata-se da Carimbó, loja que oferece açaí e bebidas do Norte e um clima aconchegante e fresco – detalhe para a decoração com palhas e bambus. Para degustar, os proprietários Linda de Oliveira e Pablo Maia – que também integram a banda mineira Psicotrópicos – sugerem a tigela de açaí de fabricação própria e a de creme de cupuaçu (R$ 12 a de 300 mL), que podem ser complementadas com frutas e granola artesanal, à parte. De bebidas, há a cerveja feita com açaí (R$ 7), sucos com frutas exóticas (R$ 10) e “birinights” como o Banzeiro (R$ 12), feito com açaí, catuaba e gengibre. O funcionamento é de terça a domingo, até 0h.
Vermelhão
Inaugurado há duas semanas, o Vermelhão está sob o comando das irmãs (de Ponte Nova) Bete (50) e Glória Nunes (52). Do fogão a lenha – de verdade – montado no estabelecimento só sai comida caseira e “da roça”, como frango com quiabo, tropeiro, feijoada, carne cozida, costelinha e angu. “A comida feita no fogão a lenha é muito diferente. Estamos usando óleo, mas a ideia é trocar por banha de porco”, explicou Bete. O almoço, que inclui o prato feito do dia, bebida e café com rapadura; custa R$ 18, e pode ser saboreado de quarta a domingo (11h30 às 15h). De quinta a sábado (18h às 23h) saem petiscos como torresmo, frango empanado e fígado com jiló, além do tradicional mexidão (R$ 10, cada).
Odeon
A iniciativa conjunta das cervejarias mineiras São Sebastião e Mills deu origem ao Odeon – Bebidas a Granel. Ocupando uma antiga agência do Bemge, o bar é uma espécie de “loja-âncora” daquele lado do Mercado Novo. São 14 torneiras de chope, vendido a R$ 7 (copo) ou R$ 28 (bilha). Os campeões de pedidos são a pilsen e a IPA, mas opções criativas, como uma sour que leva jabuticaba, também têm caído no gosto dos clientes. “Como o preço é único, as pessoas arriscam mais e descobrem estilos pouco conhecidos”, conta Augusto Franco, da São Sebastião.
Mais novidades
O Andarilho, no Mercado Novo, oferece diversas combinações e utilizando apenas licores produzidos em Minas Gerais
Para ir também. Alento (sorveteria artesanal da chef Talita Viza), Cozinha da Vó Anna (massas e iguarias que misturam referências das cozinhas mineiras e italianas), O Andarilho (drinks, shots e doses feitos com licores produzidos em Minas Gerais), Mascate Runeria (casa especializada em rum artesanal) e Massa Mercado (pastifício artesanal executado ao vivo).
O que está por vir. Em breve, o local irá sediar a chocolateria Adoleta, a Fubá (especializada em farinha de milho) e, ainda, uma pizzaria e um restaurante vegano.
Ocupação exige diretrizes específicas
“O negócio que desejo abrir é coerente com um mercado? É necessário que cada projeto tenha um por quê de estar ali”, diz o estatuto de ocupação do Mercado Novo, entregue a todos os futuros empreendedores que desejam participar no movimento de valorização do espaço.
Rafael Quick explica que o estatuto foi desenvolvido por um conselho formado por ele e pelos primeiros empreendedores do local. Todos já estavam envolvidos no processo de revitalização do Mercado Novo antes mesmo de inaugurarem seus próprios estabelecimentos.
O conselho, é claro, dialoga com a administração do prédio. “Senti que se a gente não se organizasse, poderia acabar em um movimento que, ao fim, modificaria a identidade daquele lugar. Era preciso conscientizar as pessoas sobre o DNA daquele espaço”, ressalta Quick. “Isso ajuda os negócios a serem mais verdadeiros”, emenda ele.
As lojas estão todas alugadas e, agora, o Mercado já planeja inaugurar o terceiro andar – estão previstas uma drinkeria e uma loja de móveis. Para serem aprovados dentro das diretrizes, os possíveis ocupantes do espaço passam por etapas de um processo seletivo que engloba o envio do projeto por e-mail (velhomercadonovo@gmail.com), descrevendo o foco do empreendimento, bem como a formatação do espaço – e com imagens de referência.