Apreciar todas as particularidades gustativas e aromáticas contidas em um rótulo de vinho de qualidade exige conhecimento. Uma só garrafa pode guardar sabor, aroma, adstringência, corpo e tom completamente diversos em comparação com outra. Reconhecer traços singulares da bebida, no entanto, não precisa ser incumbência exclusiva do sommelier ou do enólogo. A observação da cor do vinho é uma das maneiras de descobrir as propriedades da bebida para, assim, encontrar aquela mais agradável ao paladar.
A informação mais básica sobre a coloração dos vinhos diz respeito ao suco produzido pela uva.
Independentemente da cor da casca da fruta – a maioria é roxa e verde –, o caldo dela é sempre claro. As diferentes tonalidades de vinho resultam do contato em mais ou menos tempo da casca com o caldo. Também é importante destacar o fato de a idade da bebida interferir diretamente na coloração. Quanto mais velho, mais tons escuros o vinho branco adquire. Já o tinto perde a vivacidade com o passar do tempo. Além disso, vinhos de uma mesma cor podem apresentar diferentes graus de secura ou de doçura.
FOTO: Douglas Magno |
Vinho branco Porto Maynard’s 10 anos custa R$ 195 na Casa Rio Verde |
Branco. O vinho branco pode ser produzido a partir de uvas roxas. A diferença está na fermentação, ocorrida na ausência das cascas da fruta. Depois de uma prensagem suave nas uvas, o suco é filtrado e fermentado em cubas de aço inoxidável. “Daí, a cor dele pode ser esverdeada ou mais amarelada”, analisa Renato Costa, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers em Minas.
O frescor é a principal característica desse tipo de vinho, podendo ser consumido em temperaturas baixas de até 4°C. Sauvignon blanc e muscat são os tipos de uva mais utilizados no preparo da bebida, segundo Costa, e pratos leves como peixes e frutos do mar harmonizam melhor com ele.
Porto Branco.Oriundos da região do Douro, no norte de Portugal, os vinhos do Porto são mais conhecidos pelas colorações towny (amarronzada) e ruby (avermelhada). Mas também existem no mercado as cores branca e rosé. “No caso do branco, a fermentação ocorre em contato com as cascas de uva, e o vinho ganha estrutura para ser fermentado em pipas (barris) de carvalho”, detalha o enólogo português da Casa Rio Verde Álvaro Van Zeller. Dessa forma, o vinho branco ganha mais corpo e uma tonalidade mais escura, podendo ir do dourado ao marrom.
Laranja. Mais raros no mercado – e também mais caros –, os vinhos com tons alaranjados seguem um processo de produção semelhante ao do porto branco: na fermentação, o suco fica em contato com cascas de uvas específicas, como a ribolla gialla, na Itália, para adquirir uma cor mais acentuada. O tempo de fermentação, porém, é bem maior em relação ao do branco. “O vinho laranja é, na verdade, um conceito. Se pesquisar a literatura antiga dos vinhos, os brancos têm uma cor alaranjada”, explica Nelton Fagundes, sommelier da Enoteca Decanter, onde é comercializado o rótulo Zidarich.
O sabor da bebida solar é mais encorpado, e receitas de sabores mais intensos, como bacalhau, champignon ou queijos curados, harmonizam melhor com esse tipo de vinho. “Ele tem aromas oxidativos com traços cítricos, paladar fresco, fino e elegante”, avalia o gerente da importadora Premium Wines, Augusto Rodrigues, ao destacar características do rótulo Ferrer-Ribière.
FOTO: Douglas Magno |
Vinho rosé espanhol Montefrio La Mancha sai a R$ 32 na Casa Rio Verde |
Rosé. O vinho rosé é passível de confusão no momento de enquadrá-lo em uma categoria. “Ele é tinto”, crava Costa. A explicação está no fato de o caldo da uva manter contato com as cascas roxas no momento da fermentação, mas por menos tempo em relação aos vinhos tintos. “E o sabor dele lembra o do branco porque é muito delicado”, contrapõe Costa.
Produzido normalmente a partir de uvas tintas, como malbec, cabernet e merlot, o rosé é aromático, tem boa acidez e vivacidade. Combina com burrata e saladas com pesto e pode ser consumido em temperaturas de até 8°C.
FOTO: Leo Fontes |
Tinto Château Andriet 2014 Bordeaux Supérieur é vendido a R$ 83 no restaurante e a R$ 59 na loja do Taste-Vin |
Tinto. Provavelmente, o tipo de vinho mais conhecido é o tinto. Em seu processo de fabricação, as uvas são esmagadas, e o caldo proveniente delas fica em contato com as cascas e as sementes das frutas. A fermentação é feita em barris de carvalho, e a bebida pode ficar armazenada por décadas.
Os tintos são, geralmente, bebidas mais encorpadas. A quantidade de taninos (substância química presente nos fenóis vegetais) liberados no processo de fermentação determina a estrutura do vinho: quanto mais tempo nessa etapa, mais complexa e adstringente será a bebida. Tintos encorpados podem ser harmonizados com carnes como a de cordeiro. “No Brasil, o ideal é apreciá-lo em uma temperatura de 16°C”, segundo Marcondes.
Vinho verde existe? Não. Alguns brancos podem ter pigmentação esverdeada, mas a cor verde não é encontrada em nenhum rótulo. A denominação se refere, na verdade, à região onde as uvas são colhidas, no noroeste de Portugal.
Feito principalmente a partir das uvas alvarinho, os vinhos verdes podem ser brancos, rosé ou tintos. O terroir lusitano confere à bebida boa acidez, leveza e frescor. “O teor alcoólico do vinho é bem menor, e os aromas são florais”, explica o português Cristóvão Laruça, chef do restaurante Caravela.
Ótimos para serem consumidos no verão, os vinhos verdes harmonizam com frutos do mar.
A temperatura ideal para apreciá-lo fica na casa dos 15°C.
FOTO: Stagnari/Divulgação |
Vinho azul pode ser comprado em mercados públicos do Uruguai por R$ 50. A bebida é proibida no Brasil |
Azul. Produzido na Europa há dois anos, vinhos com cor azul têm chamado a atenção pelo tom brilhante. A bebida é resultado de uma combinação de uvas tintas e brancas acrescida de um corante.
No Brasil, o vinho chegou a ser comercializado, mas foi proibido por determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sob o argumento de a bebida conter corante. Ela não agrada aos sommeliers entrevistados pela reportagem. “É moda passageira”, diz Luiza Martini, enófila e sócia da Casa do Vinho.
FOTO: Paulo Cunha/divulgação |
Espumantes rosé e branco Alma M são vendidos a R$ 58 na Casa do Vinho |
Cor do espumante. Já os espumantes obedecem a uma escala de cores semelhante a dos vinhos.
“Mas o tinto é muito raro porque a espinha dorsal do espumante é o frescor”, argumenta Luiza.
Dividido em dois métodos de preparo, os espumantes podem ser frescos (charmat) ou encorpados (champenoise) e podem ser consumidos em temperaturas baixas de até 4°C.
Serviço
Casa do Vinho. Av. Bias Fortes, 1.543, Lourdes, (31) 3337-7177
Casa Rio Verde. Praça Marília de Dirceu, 104, Lourdes, (31) 3275-1237
Enoteca Decanter. Rua Fernandes Tourinho, 503, Funcionários, (31) 3287-3618
Premium Wines. Rua Estevão Pinto, 351, São Lucas, (31) 3282-1588
Restaurante Caravela. Av. Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim, (31) 99585-5804
Taste-Vin. Rua Curitiba, 2.105, Lourdes, (31) 3292-5423