Quem anda de bicicleta com frequência na orla da lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, é exposto a erros de implantação da ciclovia que criam verdadeiras armadilhas para os ciclistas. Entre eles está o bloco de concreto que separa a via da pista reservada aos veículos, conhecido também como gelo baiano. A divisória criada para ser uma proteção, colocada de forma inadequada, se transforma, segundo especialistas, em um perigo para os usuários.
A Associação de Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte – BH em Ciclo elaborou um relatório com falhas técnicas da ciclovia. O documento foi apresentado à Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), no fim do ano passado. A autarquia já realizou uma vistoria no local e informou, por meio de nota, que está avaliando a melhor forma de realizar os ajustes necessários na pista.
Estreito. Um dos problemas descritos no relatório é que a pista exclusiva para as magrelas na orla da lagoa tem vários trechos com largura inferior a 2 m, considerada a medida padrão no caso de pista dupla em ciclovias. Além disso, o gelo baiano fica posicionado dentro da faixa exclusiva para as bikes, estreitando ainda mais o espaço.
“O gelo baiano não é o mais indicado porque, no caso de uma queda ou de colisão entre ciclistas, a probabilidade de os envolvidos se machucarem com mais seriedade é bem maior”, explicou o perito em segurança de trânsito e diretor do Instituto de Criminalística, Marco Paiva. Segundo ele, o ideal seria a limitação com tachão (comumente usado na delimitação de pistas duplas e conhecido como tartaruga). Porém, como ele não cria uma barreira física para os motoristas, seria preciso uma via mais larga e também que os condutores fossem educados a não invadir a ciclovia.
Diante do risco oferecido pelos carros e motoristas infratores, as associações de ciclistas são a favor do gelo baiano. “O meio-fio contínuo ofereceria menos risco, mas é mais caro para implantar. Infelizmente, temos que ter barreiras por causa da falta de educação dos motoristas”, destacou Augusto Schmidt, membro da BH em Ciclo. O presidente do Sindmotos-MG, Donizete Oliveira, que também representa os ciclistas, concorda que “é mais seguro com os blocos que sem eles”.
Para Marco Paiva, a pista da lagoa da Pampulha não pode ser chamada de ciclovia porque se trata de uma adaptação e ela não tem os elementos de segurança. “O ciclista tem que estar ciente desses riscos e deve ser colocada uma sinalização de alerta”, completou.
Conforme o relatório da BH em Ciclo, além de grande parte da ciclovia da lagoa ter apenas 1,6 m de largura, existem árvores no meio da ciclovia, bueiros malcolocados, desníveis perigosos, curvas estreitas (com 1,3 m), dentre outros.
Fins de semana
Interdição. De acordo com a associação BH em Ciclo, nos fins de semana, o tráfego de bikes, patins e corredores aumenta muito na orla da lagoa. Diante disso, a entidade solicitou à BHTrans que um sentido da avenida Otacílio Negrão de Lima seja interditado para lazer. A autarquia, no entanto, ainda não se posicionou sobre o pedido.
Câmara tem cinco propostas para magrelas
A Câmara Municipal de Belo Horizonte tem cinco projetos que incentivam o uso de bicicleta na capital – todos ainda em análise pelas comissões da Casa. Para movimentos de ciclistas, falta interesse político para viabilizar as magrelas na cidade.
Os projetos propõem colocar rack para suporte de bikes na frente dos ônibus (veja mais na página anterior), trocar as grades dos bueiros para a posição horizontal (as verticais prendem as rodas), liberar o uso de bikes nos parques, implantar ciclovias nas principais vias da capital e instalar bicicletários em locais públicos, como escolas e postos de saúde.
“Com certeza, falta interesse político. Uma prova disso é a própria Câmara Municipal que não tem bicicletário”, disse Vinicius Mundim, membro da Mountain Bike BH. A BHTrans informou, por meio de sua assessoria, que não comenta projetos de lei.