Feito Histórico

Há exatos 50 anos, o Cruzeiro batia o poderoso Santos na final da Taça Brasil de 1966

Denner Taylor

O ano era 1966. Para a crônica esportiva brasileira (leia-se paulista e carioca), a história já estava escrita, só bastava a confirmação. Os principais jornais estamparam nas manchetes: “Santos rumo ao hexacampeonato”. Porém, o curso da história estava prestes a ser mudado. 

Com Pelé e companhia, o Santos, campeão das  cinco edições anteriores da Taça Brasil, disputaria a final de 66 contra o Cruzeiro, de Belo Horizonte, um time pouco conhecido no cenário nacional, comandado por um garoto chamado Tostão. Este sim, já conhecido por ter disputado a Copa do Mundo da Inglaterra no mesmo ano. Mas o time mineiro não era só Tostão. Como em seu escudo, uma constelação vinha brilhando pelos campos do Brasil no campeonato nacional: Raul; Pedro Paulo, Willian, Procópio e Neco; Piazza, Dirceu Lopes e Tostão; Natal, Evaldo e Hilton Oliveira. Esse era o time base, mas havia outros, também muito bons, como Tonho, Cláudio, Hilton Chaves, Zé Carlos e Marco Antônio.

No dia 30 de novembro de 1966, a mesma crônica esportiva assistia, boquiaberta, ao Santos ser massacrado no Mineirão: 6 a 2 para o Cruzeiro, com direito a um placar de 5 a 0 ainda no primeiro tempo, ao destempero e à expulsão de Pelé. Com o Rei apagado, quem brilhava era o Príncipe da Bola: Dirceu Lopes, autor de três gols e de jogadas sensacionais. Em plena fase de crescimento, nem a própria torcida celeste acreditava no que via no placar. Ainda que muitos dos 77 mil pagantes tivessem ido ao estádio para ver Pelé – algo comum nas excursões do Peixe, Brasil e mundo afora –, todos deixaram o Mineirão maravilhados com a equipe celeste.

Mas, aos olhos do “eixo”, a goleada não era suficiente para mudar os rumos da história. Durante uma semana, a certeza era uma só: o Santos iria vencer a segunda partida, talvez até devolvesse a goleada, e depois iria destruir no terceiro jogo. Chegou o 7 de dezembro de 1966. Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Noite chuvosa, campo ruim para o leve time estrelado. Tão ruim que o primeiro tempo terminou 2 a 0 para o Santos. Dirigentes paulistas invadiram o vestiário cruzeirense para discutir a data da terceira partida.

Como um meteoro em meio às estrelas, o presidente Felício Brandi expulsou os santistas e decretou: “Não vai ter outro jogo”. E para seus comandados, quase uma ordem: “Vocês não vão me decepcionar”.

O que se viu em campo no segundo tempo foi quase tão inacreditável quanto a goleada no Mineirão. Com o campo mais seco, o toque de bola apareceu. Os meninos de Belo Horizonte partiram para cima, assustaram os veteranos santistas. Tostão, Dirceu Lopes e Natal viraram o jogo. Três gols que, aí sim, fizeram a roda da história girar para o lado mais improvável. E, definitivamente, fizeram a imagem do Cruzeiro resplandecer.

Como enfrentar o melhor jogador da história?

Leandro Cabido

Não se tratava apenas de uma final ou de uma disputa pelo título. Imagine: seu clube do coração estava para desafiar o maior time do mundo. Em outras palavras, um esquadrão que tinha como líder Pelé. Sim, o Rei. Coroado com cinco títulos nacionais em sequência, inúmeros estaduais, Libertadores e Mundiais, o Santos era aquele adversário que ganhava jogos antes mesmo de entrar em campo. Não costumava conquistar os títulos brasileiros com invencibilidade, mas nem precisava. Normalmente goleava na primeira partida da final e o segundo jogo era uma mera formalidade. Quando precisava de uma terceira partida, ia lá e pronto: massacre.

Esse era o adversário do Cruzeiro em 30 de novembro de 1966. Com mais de 70 mil torcedores no recém-inaugurado Mineirão, a ordem era tentar segurar Pelé o máximo que conseguissem. A crônica especializada achava que seria um feito quase que heroico e imortal. Como culpá-los? Na decisão da temporada anterior, frente ao Vasco, o primeiro jogo já havia definido a conquista santista com um notório 5 a 1. 

Então, quem eram os celestes que ousavam tentar tirar o reinado de uma majestade? Natal, Raul, Dirceu, Tostão. A resposta veio em um eficiente tempo inicial, talvez o maior já praticado com a camisa 5 estrelas. Talvez, o maior baile que Pelé viu em campo.

O 6 a 2 parecia algo de outro mundo. E era. Nelson Rodrigues tratou logo de imortalizar aqueles que fizeram um espetáculo sem precedentes em Minas Gerais. “Depois da vergonha e da frustração da Copa do Mundo, nenhum acontecimento teve a importância e a transcendência da vitória de anteontem. Por outro lado, não foi só a beleza da partida, ou seu dramatismo incomparável. É preciso destacar o nobre feito épico que torna inesquecível o feito do Cruzeiro. Não tenhamos medo de fazer a sóbria justiça: aí está, repito, o maior time do mundo”, dizia o cronista no “Jornal Dos Sports”, dois dias depois da obra celeste.

O segundo capitulo do desafio notável aconteceu no Pacaembu, sete dias depois. Após um 2 a 0 contra no primeiro tempo, a direção alvinegra já marcava o terceiro e decisivo jogo. E mais uma vez, a história se fazia presente com mais uma obra-prima azul. Virada, título, festa, e Belo Horizonte se tornava a capital mundial do futebol. Afinal, por que não? Quem já havia sentido o gosto de vencer Pelé? 

Mineirão

O palco maior iniciava seus dias de glória

A goleada épica do Cruzeiro no primeiro jogo da final da Taça Brasil de 1966 foi a primeira de muitas partidas históricas no estádio, mas, àquela época, os clubes ainda estavam se adaptando ao “gigantismo” da nova arena

Thiago Prata

Dia 5 de setembro de 1965. O grande templo do futebol mineiro era inaugurado. E apenas um ano e três meses depois, aquele que ficaria conhecido como Gigante da Pampulha já sediava um dos maiores acontecimentos da história do esporte no Estado. Ainda caçula em solo tupiniquim, o Mineirão festejava com cada um dos seis gols que o Cruzeiro aplicava no Santos de Pelé. O esmagador triunfo por 6 a 2 da Raposa é considerado um marco para o clube celeste e para o estádio. Uma das primeiras páginas imortais dos feitos nacionais da enciclopédia azul e branca. E dos jogos mais impressionantes que a “nova praça” abrigava.

Mas o estádio ainda era considerado um “campo neutro” para os mineiros. Não no sentido literal, mas, sim, em outra questão. Os clubes mineiros ainda se acostumavam com a mudança do Independência para o Mineirão. De “novidade”, transformou-se no principal campo de batalha do Cruzeiro. Volante e um dos principais jogadores do time azul durante a antológica campanha que culminou no título de 1966, Piazza admite que ainda havia uma certa adaptação das equipes mineiras para jogar em seu coliseu, o que torna o triunfo sobre o Santos ainda mais contundente do que já é.

“Foi nosso primeiro título grande a nível nacional. E os 6 a 2 se deram num período em que o Mineirão ainda era algo novo para todos nós. Havia se passado pouco mais de um ano desde a inauguração dele. Ainda tinha aquele período de adaptação ao estádio. Mas o público sempre marcava presença. E já era uma presença muito forte”, ressaltou o ex-volante cruzeirense.

A partir daquele triunfo e daquele título, o Mineirão se tornou a casa de várias grandes conquistas dos mineiros. “Não tínhamos uma experiência de partidas internacionais, como o Santos, que era um time do mundo, como o Barcelona é hoje. O Santos do Pelé não era só paulista, nem só brasileiro, era do mundo. E os times mineiros ainda eram times só de Minas Gerais. Mas agora tínhamos um estádio à altura de grandes jogos e de grandes decisões. O Mineirão foi o ponto de referência dali para frente. Essa conquista de 1966 veio a calhar, coincidindo nesse momento especial que era o futebol mineiro ter o Mineirão como casa”, afirmou.

Zagueiro daquela conquista dos azuis, Procópio também enfatiza o poder do Mineirão. “Fizemos nossa melhor partida, nosso grande momento, no Mineirão, naquela partida de ida da final. Foi um placar muito dilatado no primeiro tempo, os 5 a 0 que aplicamos. Depois, voltamos para o segundo tempo com o Santos dando uma reagida. Eles fizeram dois gols. Em seguida, marcamos o sexto, e eu e o Pelé fomos expulsos”, comentou.

E o Mineirão também “se manifestava” por meio da torcida. Com as arquibancadas lotadas, o público não perdia a oportunidade de provocar o Rei, como na saída para o intervalo, quando os torcedores gritavam “Cadê Pelé?”. Os dias de glória do Gigante da Pampulha estavam apenas começando, mas começaram em grande estilo.

Gênio

O eterno craque Tostão relembra a façanha do jovem time celeste contra o poderoso Santos

Bruno Trindade

Jovem, recém-contratado do juvenil do América, no início da carreira, mas com um futebol de encher os olhos. A genialidade do garoto Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, fez o Cruzeiro ganhar o mundo. Um dos principais jogadores da história estrelada e um dos ícones de uma das maiores façanhas cruzeirenses, o craque uniu suas características à habilidade e à velocidade de Dirceu Lopes, à garra de Wilson Piazza, à segurança de Procópio e à qualidade e entrosamento da equipe celeste, para fazer a Raposa chocar o planeta e vencer, de forma incontestável, o temido e poderoso Santos de Pelé, Gilmar, Zito, Carlos Alberto Torres, Pepe e cia.

A goleada fulminante de 6 a 2, no Mineirão, e a virada espetacular por 3 a 2, no Pacaembu – após estar perdendo por 2 a 0 –, que resultaram na conquista da Taça Brasil de 1966, completam hoje exatos 50 anos. E as recordações da data especial criam um clima de saudosismo e geram muitas histórias para o clube e seus personagens da época. Tostão se lembra com carinho daquele grande time da Raposa, que foi montado meio que “sem querer” e que se encaixou da melhor forma possível.

“Cheguei ao Cruzeiro do juvenil do América, em 1963. Aos poucos, foram chegando os outros atletas. O Piazza veio do Renascença, um time amador de BH. O Evaldo, o Procópio e o Wilton Oliveira vieram do Fluminense. O Raul veio por acaso, como “troco” do São Paulo. O Natal era da minha idade, e o Dirceu (ambos da base do Cruzeiro) era um garoto. Com três meses no juvenil, colocaram o Dirceu no time principal porque ele era muito bom. O Willian jogou no Atlético na época, e depois foi para o Cruzeiro. Ele era mais veterano, foi zagueiro das seleções mineira e brasileira. E tudo foi se encaixando. Não foi um planejamento. Foi uma coincidência de jogadores muito bons ao mesmo tempo que formaram um grande time”, conta.

“Nos entendemos rapidamente pelas características dos jogadores. O trio do meio campo foi formado rapidamente. Eu não me esqueço de um dos primeiros treinos do Dirceu, do Piazza e meu em Belo Horizonte. Parecia que a gente jogava junto há muito tempo”, completa.

Apesar do favoritismo do Santos, o craque cruzeirense afirma que a equipe acreditava no título. “A gente via condição de ganhar. Acreditávamos na possibilidade, porque nosso time estava no auge, jogando bem, entrosado. O Santos era favorito, mas estava em decadência, tinha muitos veteranos. Já o Cruzeiro era um time jovem, que tinha um conjunto que estava brilhando. A grande surpresa foi ganhar de 6 a 2 no Mineirão e a virada de 3 a 2. Foi um título muito importante”, recorda.

Tostão ressalta que a conquista não poderia ter ser sido mais especial. E que o reflexos do feito resultaram na mudança de patamar do clube mineiro no futebol brasileiro e mundial. “Era impossível ser mais espetacular. Chegamos à final de um torneio com os campeões de todos os Estados. Se o Santos não era o melhor time do mundo, era o mais famoso. Tinha o melhor jogador da historia, o Pelé. Foi um marco. A partir desse título e com a inauguração do Mineirão, o Cruzeiro passou a ser um time de grande prestígio. Virou uma atração no Brasil e na América do Sul. Todo mundo queria ver aquele time jogar”, relembra o gênio celeste.

Acompanhe a entrevista com o jogador Tostão

Quais eram as pretensões do Cruzeiro na Taça Brasil de 1966?
Quando o Cruzeiro foi jogar a Taça Brasil, o time já era um grande destaque em Minas Gerais. Todo mundo só falava nele, jogava bem demais, havia muito entrosamento, ganhava a maioria dos jogos. Eu já tinha ido à Copa do Mundo de 1966, tínhamos sido campeões mineiros em 1965 e 1966. Mas ainda era um time que não era conhecido fora de Minas. Com a inauguração do Mineirão, em 1965, e com o título de 1966, esse time do Cruzeiro começou a despertar a curiosidade de todo o mundo.


Quando se fala da Taça Brasil de 1966, quais são as primeiras lembranças que vêm à sua cabeça?
Era um timaço e foi um orgulho ter participado da ascensão do futebol mineiro, não só do Cruzeiro. O Mineirão foi essencial para o Cruzeiro se tornar um grande time. O futebol mineiro não tinha prestígio nacional, não tinha jogadores na seleção. O Cruzeiro era terceiro time em Minas Gerais. E aí o Cruzeiro se tornou um time popular, conhecido no Brasil todo. As lembranças são ótimas. Tenho muito orgulho de ter feito parte daquele time.


O título de 1966 foi o momento mais especial da sua carreira?
A gente tem muitas lembranças boas na vida. Essa é uma das mais importantes da minha carreira, junto com o fato de ter sido campeão do mundo com a seleção brasileira na Copa de 1970, no México. Ter participado de uma fase de glórias do Cruzeiro, do Mineirão, e tudo em um inicio de carreira, pois era um garoto com 16 anos, foi maravilhoso. O Mineirão foi inaugurado quando eu tinha 18 anos. São lembranças muito gostosas.


Ganhar do Santos, naquela época, era algo considerado praticamente impossível, ou vocês, do Cruzeiro, acreditavam que poderiam surpreender?
Nós sabíamos que era difícil, mas acreditávamos que dava para encarar, ninguém é imbatível. A gente via condição de ganhar. Acreditávamos na possibilidade, porque nosso time estava no auge, jogando bem, entrosado. O Santos era favorito, mas estava em decadência, tinha muitos veteranos. Já o Cruzeiro era um time jovem, que tinha um conjunto que estava brilhando. A grande surpresa foi ganhar de 6 a 2 no Mineirão e a virada de 3 a 2. Foi um título muito importante, para os jogadores e para o clube, que passou a ser mais conhecido no Brasil e até no mundo.

Segurança

No meio de campo celeste, o capitão Piazza cobria a defesa e alimentava o ataque

A goleada épica do Cruzeiro no primeiro jogo da final da Taça Brasil de 1966 foi a primeira de muitas partidas históricas no estádio, mas, àquela época, os clubes ainda estavam se adaptando ao “gigantismo” da nova arena

Thiago Prata

Todo grande esquadrão que se preze tem seu carregador de piano. Aquele jogador encarregado de ligar o meio-campo com o ataque, de entregar a bola para os craques, os atores responsáveis pelo improviso dentro dos palcos do futebol. No Cruzeiro de 1966, o dono do “miolo” atende pelo nome de Wilson Piazza, ou simplesmente, Piazza. É verdade que ele não possuía a destreza e a maestria de Dirceu Lopes ou de Tostão. Mas, se esses dois eram considerados os cérebros do time naquela época, pode-se dizer que o volante era o coração da equipe azul. E Piazza se movia de um lado para o outro para distribuir o sangue necessário ao corpo celeste.

Cabeça erguida, estilo cadenciado, mas também ágil no passe e dono de uma marcação eficaz. Piazza tinha um estilo que mesclava o refinado com o combatente leal. A classe imperava quando era necessário que sair para o jogo. A raça prevalecia na hora em que era imprescindível auxiliar na marcação, quase como um zagueiro – chegou até a atuar como beque na Copa do Mundo de 1970. Essa aliança entre técnica e garra foi primordial para ganhar o meio de campo nas partidas da Taça Brasil de 1966, sobretudo diante do todo poderoso Santos de Pelé, Mengálvio e Pepe.

“Me chamavam de carregador de piano do Cruzeiro, e eu encarava isso com muito prazer. Quando eu jogava a bola nos pés do Dirceu, do Tostão, do Natal e do Evaldo, eles faziam o que faziam. Com a bola nos pés deles, faziam a diferença. Na marcação, eu ajudava ali no lado esquerdo, ia em auxílio dos zagueiros. Quando se escalava o Cruzeiro, diziam que a gente jogava no 4-2-4 ou no 4-3-3. Mas isso era na teoria. Dentro de campo, na prática, era notório que a gente atuava no 4-1-5. Era um time que ia para frente. Eu cercava ali atrás, enquanto os cinco da frente (Tostão, Dirceu, Hilton Oliveira, Evaldo e Natal) faziam quase chover com a bola nos pés. E também auxiliavam, cercando”, destacou Piazza.

Chamá-lo de “monstro do meio-campo cruzeirense” nos dias de hoje não seria exagero algum, porque todo torcedor que viu as partidas do time azul e branco na Taça Brasil de 1966 enfatizava o quão crucial era o papel de Piazza para o time.

As lembranças daquela época estão hospedadas na mente do carregador de pianos da Raposa. E junto com elas, a importância que aquele título de 1966, o primeiro brasileiro da agremiação mineira teve para a história do clube, que começava, ali, a se projetar a nível nacional, sul-americano e mundial.

“Aquele título fez justiça a todos que participaram da campanha impecável que tivemos. Ali, começamos a escrever uma história diferente, uma história a nível nacional e internacional. “Uma conquista invicta, que marcou muito. Um novo tempo para o Cruzeiro e para o futebol mineiro. Uma conquista lindíssima. Era torneio de tiro curto. Não tínhamos muitas informações dos adversários. Sabíamos que o Santos tinha o melhor jogador do mundo e tantos outros craques. Depois que ganhamos a Taça Brasil, muita coisa mudou.

Fizemos mais amistosos e excursões na América do Sul e na Europa. Naquela conquista, o Cruzeiro venceu e convenceu, principalmente pela goleada por 6 a 2 sobre o Santos no primeiro duelo da final”, disse Piazza.

Entrevista - Wilson Piazza

Para muitos torcedores cruzeirenses, aquela goleada sobre o Santos foi a principal vitória da história do clube celeste. Você concorda com isso?
Se não foi a maior, com certeza foi uma das grandes vitórias do Cruzeiro de todos os tempos. Não imaginávamos que poderíamos vencer o Santos daquela forma. Ao longo do jogo, a gente viu que poderia estender o placar. Depois que fomos para o intervalo e víamos que o placar estava 5 a 0 para o Cruzeiro, a gente até pensava: “O placar deve estar errado”. A gente voltou para o segundo tempo com muito respeito pelo Santos. Mesmo com cinco gols à frente, fomos com muito cuidado, pois ainda não tinha nada ganho. Era o Santos do Pelé. E o time deles diminuiu para 5 a 2 logo no começo do segundo tempo. Depois fizemos mais um. E atingimos uma grande vitória. Lembro-me que isso deixou o Pelé louco.


Tanto que o Pelé foi expulso em uma disputa de bola com você, certo? Você se lembra do lance?
Uma bola seria dividida entre o Pelé e eu, que fui na bola. Nunca entrei para dar pontapé num jogo ou chutei alguém num treino. E quando fui na bola, o Pelé achou que eu iria na maldade. E aí ele veio dividindo firme. Sinceramente, se eu não tivesse agilidade em puxar a perna, ele teria quebrado minha perna. O Procópio tomou as dores e foi para cima do Pelé chamando ele de covarde, e o Pelé estava possesso, mandando o Procópio tomar “naquele lugar”. O Armando (Marques, árbitro) se aproximou do bate-boca e expulsou o Procópio e o Pelé. Ele (Pelé) ficou louco, achou tudo um absurdo, disse que não fez nada. O Toninho Guerreiro (atacante do Santos) teve que tirar o Pelé, que depois jogou na partida de volta, pois naquela época não tinha suspensão automática por expulsão.


E como foi o triunfo e a superação no Pacaembu no jogo de volta?
A gente estava perdendo de 2 a 0 no primeiro tempo, com muita chuva em São Paulo. Quase não dava para jogar. Mas, no segundo tempo, buscamos a virada por 3 a 2. Mostramos não foi por acaso que o Cruzeiro tinha ganhado no Mineirão por um placar alarmante. Já havíamos vencido o Santos num amistoso, e depois ganhamos por 6 a 2 na primeira partida da final de 1966. Aí fizemos 3 a 2, o terceiro grande momento nosso contra o Santos. O Cruzeiro fez sua própria escola de jogar para frente, com futebol alegre e solto, de gols.

Retaguarda

Para garantir o espetáculo dos garotos, o time contava com o já rodado zagueiro Procópio

Bernardo Lacerda

A máxima de que todo time campeão começa com uma defesa forte não foi criada em 1966, mas poderia. Mais especificamente, o Cruzeiro campeão da Taça Brasil daquele ano poderia pedir a autoria desta frase, que se tornou uma verdade do futebol. Com uma defesa quase intransponível, que sofreu apenas oito gols em oito jogos, média muito baixa para a época, o entrosamento e a qualidade do principal time da história celeste se iniciava atrás.

Em um time com nomes de peso como Tostão, Piazza e Dirceu Lopes, um zagueiro também não deixava a qualidade diminuir. Procópio Cardoso era, sem dúvida, um dos atletas de peso do esquadrão celeste. Experiente para os padrões do jovem time, ele era uma das vozes responsáveis por passar tranquilidade e orientações. “Eu tinha jogado fora, no São Paulo e no Palmeiras. Era jovem, mas tinha experiência maior do que outros companheiros. Isso ajudou muito”, relembra Procópio.

Segundo o ex-jogador, o conhecimento pessoal, por ter enfrentado, na época em que defendeu o Palmeiras, o Santos de Pelé, foi determinante para o sucesso cruzeirense nos encontros contra a equipe praiana ao longo do torneio.

“Eu conhecia muito bem o Santos, por ter jogado contra por outros clubes. O time todo jogava muito bem, era muito unido, muito entrosado. Tínhamos já a máxima: marcar forte e atacar muito. Com a bola, jogávamos, e sem, a gente marcava forte. O Santos era um time muito bom, além de Pelé, a grande maioria era jogador de seleção brasileira, como Carlos Alberto Torres, que começou comigo e depois foi para o Fluminense. Era um time fantástico, bicampeão mundial”, relembra Procópio.

Mas a máquina santista não foi páreo para o esquadrão celeste. Os clubes se confrontaram na decisão, e foi lá que surgiu um dos resultado mais inesperados da história do futebol brasileiro, vitória por 6 a 2 em pleno Mineirão. “Pouca gente acreditava, achava que era impossível. Estávamos enfrentando o melhor time do mundo, bicampeão mundial. Mas a verdade era que a gente tinha um grande time também. Muito jovem, mas que tinha como qualidade o fato de saber marcar quando estava sem a bola, e quando tinha a bola atacava com uma qualidade impressionante”, recordou-se o zagueiro.

Cinquenta anos depois, Procópio Cardoso lembra com saudades e nostalgia os momentos de glória da Raposa, que conquistou mais do que aquele título, mas também a admiração e respeito do Brasil. “Foi um título inédito para Minas Gerais, para o Cruzeiro. Enfrentamos o maior time do mundo. Só esse fato já marca a comemoração (de 50 anos). Nosso time era muito jovem, maioria garotos, o Willian era o mais velho, depois eu e Neco. Mas a maioria ainda estava começando a carreira”, disse.

Não apenas os duelos decisivos contra o Santos ficaram na memória do ex-defensor. No primeiro jogo, diante do Americano, uma goleada por 4 a 0 marcou a arrancada do esquadrão celeste. Depois, outra goleada, que trouxe o sinal de alerta para a qualidade da Raposa: triunfo por 6 a 1 diante do time carioca, naquele que foi o primeiro jogo no Mineirão pelo torneio.

Entrevista - Procópio

Depois de 50 anos, o que representa essa conquista do Cruzeiro para você?
Felicidade muito grande. Foi um título inédito para não só para o Cruzeiro, mas também para Minas Gerais. Enfrentamos o maior time do mundo. Só esse fato já marca a comemoração. Nós tínhamos um time muito jovem, a maioria garotos. O Willian (zagueiro) era o mais velho, depois eu e Neco (lateral-esquerdo). Outros estavam começando a carreira. Era um time fantástico, a gente jogava muito, mas não podia só jogar, tinha de jogar e marcar, e isso foi fundamental para o título. Jogar contra o Santos sem marcar era suicídio. Eu tinha jogado fora, no São Paulo e no Palmeiras. Era jovem, mas tinha experiência, maior do que outros companheiros.


Qual foi o momento que mais te marcou durante a competição?
Uma coisa que pouca gente falou foi que no jogo no Mineirão, depois de um placar muito dilatado, 5 a 0 no primeiro tempo, voltamos para o segundo tempo e o Santos deu reagida, fez dois gols. No sexto gol, eu e Pelé fomos expulsos, ele pela entrada violenta no Piazza e eu porque fui reclamar. Mas aquele jogo foi o nosso melhor, fizemos uma grande partida.


O Cruzeiro de 1966 foi o melhor time que você defendeu?
Joguei um ano na famosa academia do Palmeiras, ganhamos do Uruguai por 3 a 0. Foram dois times bons. O Palmeiras era um time muito bom, raçudo, de muita técnica, mas o Cruzeiro superava na velocidade. Até pelo fato de o time ser mais jovem. O Palmeiras era um time mais velho, e o Cruzeiro era uma equipe de jovens, só meninos. Mas foram dois times bons. Aquele Palmeiras era outro time que conseguia encarar o Santos.


O Cruzeiro teve alguma dificuldade durante a competição? Os resultados mostram uma superioridade muito grande da equipe.
O que marcou para mim, em termos de dificuldades, foi o jogo da volta, em São Paulo, pois choveu muito, o campo ficou impraticável para o Cruzeiro, que tinha mais toque de bola. O primeiro tempo terminou 2 a 0 para o Santos. Graças a Deus, a chuva parou no segundo tempo, a drenagem funcionou bem e escorreu a água muito rapidamente. Aí o jogo ficou do agrado para o Cruzeiro, que voltou a praticar o futebol que mostrou no Mineirão. Viramos o resultado para 3 a 2, e olha que o Tostão ainda perdeu um pênalti quando estava 2 a 0.

Crescimento

Aliada a outras ações do clube, conquista contribuiu para o surgimento da China Azul

Bruno Trindade

A conquista da Taça Brasil de 1966 foi marcante e histórica, tanto por atrair as atenções do Brasil e do Mundo para o Cruzeiro, principalmente pelo fato de ter vencido o Santos de Pelé, quanto por contribuir para angariar muitos torcedores celestes e fazer da China Azul uma das maiores torcidas do Brasil. Mas a conquista do Brasileirão da época não foi a única responsável por aumentar gradativamente e dar grandes proporções à torcida azul. As razões são diversas e foram relatadas por algumas pessoas que estiveram presentes no Mineirão, que viveram à época ou que buscaram conhecer a fundo essa página da história cruzeirense.

Para o craque Tostão, não só o título da Taça Brasil de 1966, mas o futebol apresentando pelo Cruzeiro em campo, aliado à inauguração do estádio Mineirão, fizeram os mineiros, principalmente do interior, adotarem a Raposa como o clube do coração. “O Mineirão se tornou uma grande atração, tinha uma curiosidade muito grande das pessoas para conhecer o novo estádio (inaugurado em 1965). O Cruzeiro tinha mais torcida do que o Atlético no interior, porque era uma atração turística, as pessoas fretavam ônibus para vir a Belo Horizonte, conhecer o Mineirão e ver o Cruzeiro jogar”, declara o jogador. 

O aumento de aficionados da Raposa, conforme o jornalista e historiador cruzeirense Henrique Ribeiro, se deu por conta da política implantada pelo presidente no clube à época, Felício Brandi, em relação à imprensa. “O Cruzeiro era um clube bem fechado. A imprensa ia no Barro Preto e não conseguia notícia nenhuma. E quando algum jornalista criticava o Cruzeiro ou algum jogador, ficava impedido de entrar no clube. Quando Felício Brandi assumiu, a primeira coisa que ele fez foi uma cabine de imprensa. O Cruzeiro melhorou o espaço e começou a ter melhor relacionamento com os jornalistas. Ele (Brandi) tinha essa visão de que, sem a imprensa, o clube não conseguiria seguir com os seus projetos”, conta.

O jornalista lembrou ainda as artimanhas do dirigente para chamar a atenção das pessoas e levá-las ao estádio, mesmo em jogos sem grande apelo. “Em jogos que não valiam nada, ele criava uma polêmica (na imprensa), fazia uma provocação categórica, sem agredir ninguém, mas agitava a cidade, e o estádio enchia. Sem a imprensa, os clubes de futebol não seria o que são hoje”, completa.

Além disso, Brandi tentou angariar novos torcedores nas escolas, para que, no futuro, as crianças fossem adeptas do clube, conforme ele revelou em um depoimento para a TV Cultura, no fim da década de 1980. “O Cruzeiro não tinha uma grande torcida. Então, o que nós fizemos: vamos pegar a meninada, porque daqui a dez anos o Cruzeiro vai ter a maior torcida de Minas. E começamos então a comprar lápis, caderno, borracha, fazer artigos de promoção do Cruzeiro. E com isso, nós contamos com a boa vontade dos jogadores, que iam aos grupos escolares fazer a distribuição desse material. Além da presença dos jogadores, que eram os ídolos, os garotinhos das escolas recebiam caderno, régua, lápis, todo o material escolar”, contou o ex-dirigente, que presidiu o Cruzeiro de 1961 a 1982. Brandi morreu em 2004, aos 76 anos. 

Felício Brandi idealizava Cruzeiro gigante

Bruno Trindade

Que o título da Taça Brasil de 1966 em cima do Santos de Pelé foi uma das grandes conquistas da história do Cruzeiro, não há como negar. Mas tudo que aquela equipe exibiu em campo foi fruto de um grande trabalho fora dele. O presidente da Raposa na época, Felício Brandi, queria aumentar a estrutura física, a valorização da marca e a qualidade do time para fazer do clube um dos maiores do futebol nacional. “Ele (Felício Brandi) pensava desde a base do time, a concentração, o conforto de treinar e concentrar. Ele foi um cara que idealizou tudo. Tudo que ele sempre fez foi pensando em deixar o Cruzeiro com o reconhecimento de time grande”, declara o filho do ex-presidente celeste Rafael Brandi.

Opinião compartilhada por Tostão, um dos maiores atletas da história cruzeirense e um dos protagonistas do duelo com o Santos. “O Cruzeiro tinha um presidente muito esperto do ponto de vista comercial. Ele e o diretor de futebol da época, o (Carmine) Furletti conseguiram montar uma boa estrutura e contrataram vários bons jogadores”, afirma. 

Para o jornalista e historiador do Cruzeiro Henrique Ribeiro, o título de 1966 foi o coroamento de todo o trabalho que vinha sendo desenvolvido nos últimos anos. “O título da Taça Brasil de 1966 foi só um resultado do trabalho que o Cruzeiro vinha fazendo. Tinha o Mineirão, que começou a gerar renda. E o Cruzeiro acabava de construir a sede no Barro Preto e de ampliar o seu número de sócios, obtendo uma maior arrecadação. Foi a partir da construção da sede, no fim de 1956, que o clube voltou a conquistar campeonatos, foi consequência desse processo. Outros clubes, como Internacional, Grêmio, Atlético, Bahia, também estavam passando por esse processo de estruturação e passariam a dividir o protagonismo do futebol brasileiro com times de Rio e São Paulo”, recorda.

As rendas obtidas nas partidas no exterior, além da divulgação da marca, também se destacaram como políticas de Brandi. “Na década de 1970, o Cruzeiro já pedia para o Conselho Nacional do Desporto licença pra sair do Brasil no meio do ano. Quando jogava no exterior, ganhava em dólar, valores que correspondiam a seis, sete vezes da renda dos jogos daqui. O Felício começou a explorar muito isso para manter os seus principais jogadores”, relata Ribeiro.

Marcante

Testemunhas oculares voltam ao passado e destacam o legado do time de 1966

Bruno Trindade

Já se passaram 50 anos desde a conquista da Taça Brasil pelo Cruzeiro, em 1966, sobre o Santos de Pelé e companhia. Mas o feito histórico, que mudou o panorama do futebol mineiro e brasileiro, que chocou o mundo pela superioridade celeste em campo e que marcou de forma incontestável a força da Raposa, ainda está vivo na memória de muita gente que viveu aquele momento inesquecível. Alguns torcedores ilustres sentiram de perto a emoção daquela conquista. Meio século depois, esses cruzeirenses retornam ao passado, buscam na memória os pormenores do feito e ressaltam a importância de se festejar a data.

O cantor e compositor Lô Borges tinha apenas 14 anos, mas foi uma das 77 mil testemunhas oculares que estiveram nas arquibancadas do Mineirão para ver a goleada celeste, confirmando o surgimento de uma equipe e de atletas de altíssima qualidade. “Eu estava lá. Tinha 14 anos e fui ao jogo com uma equipe de futsal do meu bairro. Fui um dos primeiros a entrar no Mineirão quando os portões foram abertos. Chegamos às 18h e o jogo era às 21h. Eu já era totalmente apaixonado pelo time do Cruzeiro, acompanhava todos os campeonatos e, naquele 1966, era um elenco incrível. Um dos maiores times da história do futebol que eu já vi jogar: Dirceu, Tostão, Procópio, Raul. Não podia perder”, conta.

Apesar da confiança no clube do coração, Lô Borges sabia da força do adversário. E por isso, relembra o clima de euforia após a Raposa conseguir vencer e convencer contra um dos maiores times da história do futebol. “Eu tenho três lembranças bem fortes. Primeiro, chegando ao estádio, pensando que meu time era maravilhoso, mas do outro lado tinha o Pelé. O segundo momento foi quando olhei para o placar no primeiro tempo e estava 5 a 0 para o Cruzeiro. Era inacreditável, simplesmente. A torcida gritava aquela música “Vamos minha gente, vamos bem ligeiro, rápido e rasteiro, como o ataque do Cruzeiro”. E por fim, eu me lembro quando terminou a partida, aquela explosão toda no Mineirão, o 6 a 2 no placar, foi um êxtase coletivo na saída. Tinha gente que não acreditava. Todo mundo foi para o centro de Belo Horizonte comemorar”, recorda.

O presidente celeste à época era Felício Brandi, que morreu em 2004. O filho dele, hoje administrador de empresas e conselheiro do Cruzeiro, Rafael Brandi, ainda não era nascido quando o time celeste bateu o Santos. Mas ele se lembra muito bem das histórias, das lembranças contadas pelo pai e da importância que o título da Taça Brasil teve e tem até hoje para a Raposa. “A conquista de 1966 foi importante para o futebol mineiro aparecer no cenário nacional. Acho que, se cada cruzeirense, cada dirigente do clube hoje mantivesse sempre viva essa história tão bonita, teríamos mais respeito e valor pelo clube. Esses valores jamais podem ser esquecidos, principalmente para as pessoas mais novas, de 15, 20 anos. Tem que ter na memória essa grandeza do Cruzeiro e as grandes conquistas da história do clube”, afirma.

Atual vice-presidente celeste e no clube há 66 anos, José Francisco Lemos Filho relembra o contexto daquela vitória. “Eu estava o Mineirão. Foi uma emoção muito forte. O Cruzeiro estava enfrentando o time de Pelé, melhor do mundo. Era quase impossível ganhar daquela maneira esmagadora. Era praticamente impensado. Mas não foi porque o Santos jogou mal, foi porque o Cruzeiro era muito bom”, relembra o dirigente.

Atenções além do eixo Rio-SP

Até o fim da década de 1960, o eixo do futebol brasileiro se concentrava no Rio de Janeiro e em São Paulo. A realidade começou a mudar justamente após o feito histórico do Cruzeiro, ao derrotar o Santos na decisão da Taça Brasil de 1966. Mineiros, gaúchos, paranaenses, nordestinos e outros clubes do país passaram a ganhar mais visibilidade no cenário nacional. Por conta dessa supremacia de cariocas e paulistas e pelo fato de as principais rádios ouvidas em Belo Horizonte serem de outros Estados, a capital mineira tinha um contingente alto de pessoas que torciam para clubes de outros lugares. 

“Não há dúvida nenhuma de que o título da Taça Brasil contribuiu, e muito, para o aumento da torcida do Cruzeiro. A maioria dos torcedores de futebol de Belo Horizonte e Minas Gerais torcia para equipes de Rio e São Paulo. A partir daquele momento, o Cruzeiro passou a ser conhecido em Minas e no Brasil inteiro também”, relata o atual vice-presidente do Cruzeiro, José Francisco Lemos Filho.

O ex-jogador Wilson Piazza, um dos ícones da conquista celeste, ressaltou a importância do título. “Foi graças a esse título que demos o pontapé inicial em nível nacional, contribuimos para a história do clube e escrevermos a nossa história. E contamos com toda a paixão do torcedor, que nos marcou muito. Foi o início dessa nova trajetória do Cruzeiro nos cenários nacional e mundial. A motivação de tudo isso foi o torcedor, a razão de tudo isso e de ter caminhado com a gente. E a torcida foi crescendo e ficando ainda mais presente no Mineirão”, afirma Piazza.

Saudades daqueles que partiram

Bruno Trindade

Dois jogadores do principal time do Cruzeiro de todos os tempos não terão a oportunidade de celebrar os 50 anos da conquista do título da Taça Brasil. O lateral Pedro Paulo e o atacante Hilton Oliveira morreram com uma diferença de dois anos. Porém, a dupla sempre será lembrada e farão parte das homenagens que a equipe ganhará nesta quarta-feira. Pedro Paulo foi um dos nomes de importância do Cruzeiro na conquista do título. O lateral-direito tinha importância grande quando o assunto era defesa. Sempre bem posicionado, era responsável em dar consciência tática a um time que tinha como característica a ofensividade e liberdade aos muitos craques.

O jogador morreu no começo de 2008, aos 62 anos, em consequência a um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Com grande força física, Pedro Paulo chegou a mudar de posição no começo da década de 70. Após a chegada de Nelinho, o lateral passou a ser aproveitado como zagueiro e depois como volante. Sua história na Raposa se encerrou em 1974. “O Pedro Paulo como lateral foi muito importante. Taticamente, o Cruzeiro não seria tão bom se não fossem os laterais tão marcadores”, relembrou o ex-volante Piazza, referindo-se também ao lateral-esquerdo Neco.

Na ponta esquerda do esquadrão azul, um jovem jogador chamava atenção. Sempre abusando da velocidade, seu ponto forte, Hilton Oliveira era um dos pulmões da jovem equipe celeste. “O Hilton Oliveira tinha uma velocidade muito grande, tanto que ele chegava à linha de fundo e cruzava ou passava bem”, ressaltou Piazza.

O “espoleta” cruzeirense morreu há dez anos, em março de 2006, vítima de uma pneumonia. Hilton Oliveira foi revelado na base da Raposa, no final da década de 50. A primeira passagem foi rápida, por apenas dois anos. Ele retornou ao clube em 1963, desta vez com grande destaque. Na década de 70, após encerrar a sua carreira, que teve como ponto auge justamente em BH, o atleta se tornou treinador do Ceará.

Expediente

Diretor Executivo: Heron Guimarães | Editora Executiva: Lúcia Castro | Secretaria de Redação: Michele Borges da Costa, Murilo Rocha e Renata Nunnes | Edição Portal O TEMPO: Cândido Henrique | Coordenação de Cross Media: Karol Borges | Editoria de esporte: Denner Taylor e Leandro Cabido | Reportagem: Bernardo Lacerda, Bruno Trindade e Thiago Prata | Infografia: Editoria de Arte | Web-Design: Aline Medeiros e Larissa Ferreira