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Reminiscências de um fotógrafo

Responsável por registrar as paisagens de Belo Horizonte década por década, a história do fotógrafo Câncio de Oliveira se confunde com a cidade

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PUBLICADO EM 12/12/14 - 03h00

Em um bairro afastado do centro da capital mineira, numa casa simples, mas repleta de tesouros, Câncio de Oliveira, responsável por imagens icônicas de Belo Horizonte, guarda em arquivos e nas paredes fotografias que contam muito sobre sua vida e as transformações da primeira cidade planejada do país. Logo na entrada, na sala de estar, uma foto em tom sépia remonta a um momento épico e de lazer do fotógrafo. Um belo clique de uma pescaria no Pantanal. Na mão de Oliveira, um peixe com cerca de um metro e a satisfação de poder eternizar a façanha.

Por toda a residência de Oliveira se encontram molduras, estantes com negativos e caixas que guardam, cuidadosamente, fotos e mais fotos de várias décadas. Aos 88 anos, natural de Santo Antônio do Monte, interior de Minas Gerais, ele ainda rememora com exatidão como começou o interesse pelo mundo das imagens. “Desde a adolescência, eu já gostava de fotografia. Meu pai tinha um cinema na minha terra e eu colecionava, naquela época, os fotogramas de artistas de cinema. Eu gostava dos filmes de faroeste, dos seriados. Eu mandava reproduzir os fotogramas em tamanho A4, colocava em uma chapa de vidro e, quando eu vinha para Belo Horizonte, vendia na porta do extinto Cinema Avenida, que localizava-se na avenida Afonso Pena”, conta.

No ano de 1941, ele se muda definitivamente para Belo Horizonte e se aprofunda na arte de capturar cenas e personagens do cotidiano, através da lente da sua primeira câmera, o modelo Agfa Billy Clack Bilinar, que ganhou do padrinho. Entre os anos de 1948 e 1952, com um equipamento melhor, mas ainda amador, ele começou a se dedicar a fazer postais, o que renderia, mais tarde, certa fama. Ele fotografava e vendia os postais, banca por banca, em Belo Horizonte.

Nesse período também, ele começou a fotografar pessoas em restaurantes, e se o cliente se interessasse por seu trabalho, ele levava a fotografia na residência da pessoa. O grande sonho dele, mesmo, era comprar uma Rolleiflex. A aquisição veio em 1953. A partir daí, ele passou a fotografar cerimônias matrimoniais. "Eu fui um dos primeiros fotógrafos a fotografar casamentos em igreja. Naquela época, as noivas que queriam ser fotografadas tinham que ir no estúdio", relembra.

A sua incursão pela fotografia é recheada de histórias. Câncio de Oliveira foi pioneiro no registro de imagens áreas de Belo Horizonte. Ele fotografou artistas de cinema como Oscarito, Marisa Prado e Fada Santoro, além de personalidades políticas. Fotografou também, em agosto de 1954, o então presidente Getúlio Vargas, poucos dias antes do suicídio, com Juscelino Kubitschek, na inauguração da Usina Siderúrgica da Mannesmann, no bairro Barreiro.

Apesar de ter larga experiência com retratos e ter feito registros de várias paisagens da capital mineira, ele sempre preferiu explorar as paisagens naturais. “Eu gosto da fotografia artística, de fotografar paisagens bucólicas. Eu não gostava muito dos transeuntes, ônibus como elementos na foto”, afirma. Com seu estilo próprio, o que o fez se destacar no ofício, Câncio de Oliveira soube, como ninguém, usar a luz natural ao seu favor. “O que caracteriza o meu trabalho é o contraluz, o jogo de sombras. Eu tenho uma sensibilidade para trabalhar com os contrastes”, ressalta.

A foto mais célebre, segundo ele, foi feita em 1950, na Estação Lagoa da Prata, quando retornava de viagem. “Eu estava vindo para Belo Horizonte, eram seis horas da manhã, e estava esperando o trem chegar. Eu estava observando o trem manobrando e gostei do ângulo. Aí, eu bati uma chapa e chegou uma pessoa na hora, na frente”, narra, entre um sorriso e denotando certo orgulho, como se o cenário se colocasse à sua frente por acaso. A imagem revela um amanhecer com sol intenso, céu claro, a silhueta de um homem com a projeção de uma longa sombra no chão e o maquinário de passageiros expelindo fumaça. Um ambiente fantástico, capturado pela sua câmera.

Mesmo com a idade avançada, Câncio de Oliveira esbanja bom humor e amor pela profissão, que define como sua vida, sua paixão. A atividade não arrefeceu com o tempo. Hoje ele tem um celular com uma câmera com ótima resolução, para sacá-lo do bolso a qualquer hora. Para ele, que aprendeu a fotografar lendo revistas, inclusive uma edição em inglês, mesmo conhecendo pouco o idioma, as facilidades tecnológicas diminuíram um pouco a fotografia. Contudo, não se furta de usar os benefícios que os novos tempos impõem.
 

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