Dívida
Vale não pagou multas ambientais
Empresa deve mais de R$ 250 milhões ao Ibama e R$ 2,8 milhões ao Estado por danos à fauna e à flora
27/01/20 - 15h00
Sob os 10,5 milhões de m³ de lama seca que vazaram da barragem I da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana de BH, apodrecem milhares de espécies nativas da Mata Atlântica. Antes do desastre, a vegetação ocupava 150 hectares – de um total de 292,2 hectares encobertos pelos rejeitos. A supressão da área verde tirou o abrigo de animais silvestres e impactou em todo o ecossistema ao redor, segundo levantamento do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Apesar de tamanha destruição ambiental, pouco se fez para recuperar a fauna e a flora.
Um ano após a tragédia, nem mesmo as multas impostas à Vale pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que somam mais de R$ 250 milhões, foram quitadas. Além disso, o órgão ainda aguarda o pagamento de multa diária de R$ 100 mil, que tem sido cobrada desde 8 de fevereiro de 2019.
Na esfera estadual, a poluição e a degradação dos recursos hídricos, o impacto à fauna e à flora e o prejuízo ao patrimônio natural resultaram em penalidades que, juntas, equivalem a R$ 104 milhões. Até agora, a mineradora pagou R$ 99, 3 milhões, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). A quitação de R$ 388 mil ainda depende da análise de recursos apresentados pela empresa. Mas ainda há uma débito de R$ 2,8 milhões, sobre o qual a Vale foi notificada em setembro de 2019, que permanece em aberto, embora a companhia não tenha manifestado intenção de recorrer. Procurada por O TEMPO, a Vale não se pronunciou sobre as multas.
Mortes.Além de matar 270 pessoas – sendo a maioria formada por funcionários da própria mineradora –, a tragédia soterrou uma enorme variedade de animais. Somente entre bichos domésticos, foram contabilizados ao menos 420 mortos. Outros 1.540 foram resgatados com vida, sendo que 532 permanecem até hoje sob guarda da Vale e outros 51 estão hospitalizados. Também foram encontradas carcaças de 348 espécies silvestres e três de animais terrestres exóticos.
O lamaçal que sufocou córregos e invadiu o rio Paraopeba também deixou um rastro de morte. Além de envenenar milhares de peixes, que já não podem ser consumidos, a tragédia matou ao menos 3.404 peixes, que tiveram carcaça recolhida pelas equipes da Semad logo após o desastre. Desse total, mais de 300 animais eram considerados exóticos.
Reparação.Embora a vegetação pareça lutar para ressurgir em alguns trechos atingidos pela lama e peixes resistam em meio à água tóxica, a especialista em ecologia e pesquisadora da Universidade de São Caetano do Sul Marta Marcondes acredita que é necessário esforço e dedicação das autoridades e da mineradora responsável pelo vazamento dos rejeitos para recompor a biodiversidade não só em Brumadinho, mas em todos as cidades banhadas pelo rio Paraopeba, poluído por metais pesados. “É preciso que se faça a retirada desse rejeito e que seja restabelecida a mata ciliar das áreas que foram afetadas. Também é fundamental que a Vale, responsável por esse crime ambiental, auxilie os municípios”, avalia a pesquisadora.