Recuperar Senha
Fechar
Entrar

Música

Ó abre alas que elas vão passar

Aumento da visibilidade de músicas de Carnaval compostas por mulheres transforma o panorama da festa em BH

Enviar por e-mail
Imprimir
Aumentar letra
Diminur letra
PUBLICADO EM 02/02/18 - 02h00

“As mulheres sempre compuseram marchinhas”. A fala, em uníssono, vem de Aline Calixto, Brisa Marques, Deh Mussulini, Irene Bertachini e Jhê Delacroix. Juntas, as compositoras, cantoras e instrumentistas têm mostrado a cara e mudado o panorama do Carnaval na cidade, cujo aumento da visibilidade para canções compostas por mulheres é latente.

Um exemplo prático é a presença de 15 autoras inscritas no Concurso de Marchinhas Mestre Jonas 2018, que elege as vencedoras de sua sétima edição neste domingo (4), a partir das 18h30, no Mercado do Cruzeiro. Apesar do recorde, o número ainda é inferior em relação ao de homens.

“É fato sabido que existiram compositoras e musicistas silenciadas que inclusive usavam pseudônimos masculinos para entrarem na roda viva da composição”, pontua Jhê. “Hoje, com os novos meios de comunicação, a gente está ocupando as redes sociais, a internet, pela facilidade do acesso, e chegando de maneira incisiva. Sempre houve composições de todos os gêneros feitas por mulheres, só que não tinham a mesma visibilidade e espaço que os homens. Estamos quebrando muros”, ratifica Aline.

Brisa, primeira mulher a ser empossada diretora artística da rádio Inconfidência, vai além. “Estamos nos mostrando mais no movimento, dando a cara, as mulheres não estão deixando passar batido nem os discursos presentes nas letras, e isso é importante, porque as pessoas ficam mais atentas, cuidadosas, pensam mais sobre o assunto. Que bom que as mulheres resolveram assumir o poder, porque a revolução virá pelo ventre”, garante Brisa.

Pioneira. O discurso tem base histórica. Chiquinha Gonzaga se repete como referência para todas, e não poderia ser diferente. Palavras e melodia que permanecem na memória de muitos foliões são fruto da inspiração da maestrina carioca.

Composta em 1899, a marcha-rancho “Ó Abre Alas” estourou no Carnaval de 1901 e é definida pelo Dicionário Cravo Albin da Música Brasileira como “pioneirismo da produção carnavalesca, antecipando-se em 20 anos à fixação do gênero”. A publicação ainda afirma que a música seguiu como a preferida dos foliões por nove anos seguidos, até as festividades de 1910.

“Temos grandes exemplos de mulheres que arrombaram portas e romperam barreiras, como Chiquinha Gonzaga, com a primeira marcha-rancho da nossa história. Isso é lindo. A matemática é simples: quanto mais mulheres compondo e chutando as portas do conformismo, outras mais serão encorajadas a fazer o mesmo”, sustenta Jhê. “Foi Chiquinha quem ‘abriu alas’, literalmente”, diz Brisa.

Lira. Deh tem uma relação ainda mais afetiva com a marcha-rancho. “Já cantei ela várias vezes em show. Minha filha se chama Lira, como no verso: ‘eu sou da Lira, não posso negar’”, cantarola. Ao lado de Irene Bertachini, ela inscreveu a música “Mátria Amada” no Concurso Mestre Jonas, uma das selecionadas para a semifinal. “Sempre gostei de marchinha, tenho paixão pela Carmen Miranda. Ficava incomodada em ver as mulheres no concurso apenas como intérpretes, então decidimos compor a nossa”, conta Irene. “A marchinha tem uma coisa de crítica, brincadeira, e acho que o jeito da mulher colocar é mais afetivo, delicado. Ainda penso que falta maior abertura para homossexuais, travestis e negros também comporem”, opina.

“Em sete anos de concurso, só uma mulher ganhou”, completa Deh, ao citar a amiga Jhê, que, ao lado de Helbeth Trotta, foi responsável por “Baile do Cidadão de Bem”, grande vencedora da edição de 2017 do Mestre Jonas.

No mesmo ano, Brisa compôs “Marchinho”, para denunciar o assédio, principal fator a distanciar Irene da festa. “Quando fiquei mais moça, deixei de gostar de sair para o Carnaval porque era muito homem querendo passar a mão, situações muito chatas”, lamenta.

A partir de 2009, com a renovação da folia na capital mineira e a criação de diversos blocos feministas, como Sagrada Profana e Bruta Flor, ela se reaproximou da folia. “Beijo Mesmo”, a nova marchinha criada por Aline, que desde 2014 comanda o Bloco da Calixto, preza, justamente, pelo exercício da liberdade longe da violência e intolerância. “Podemos beijar quem quiser, mas sem forçar, respeitando o outro. A marchinha é sobre isso, é um gênero que permite a crítica e falar de amor”, avalia Aline.

Rádio Super

O que achou deste artigo?
Fechar

Música

Ó abre alas que elas vão passar
Caracteres restantes: 300
* Estes campos são de preenchimento obrigatório
Log View