CÂMARA MUNICIPAL
Vereadores ensaiam rebelião
Base de Lacerda mostra insatisfação e ameaça não votar projetos do Executivo
“Se antes já era difícil, agora nenhum projeto do prefeito Marcio Lacerda (PSB) vai passar. Ele abandonou a base”. Esse é o recado de um dos 19 vereadores da Câmara Municipal de Belo Horizonte que tentaram a reeleição no último domingo, mas acabaram derrotados nas urnas. O aviso também foi ecoado por outros parlamentares que, pelo menos no papel, ainda fazem parte da base do atual chefe do Executivo.
A “ressaca” da derrota era perceptível nas rodas de conversas dos vereadores que se reuniram nessa segunda-feira (3), um dia após a eleição, para a primeira sessão plenária do mês de outubro na Câmara. No entanto, mesmo que 39 dos 41 parlamentares tenham marcado presença na reunião – Valdivino (PSB) e Pablito (PSDB) foram os únicos que se ausentaram –, ela acabou sendo finalizada por falta de quórum após 18 minutos de ter sido aberta, já que muitos dos vereadores saíram do auditório.
Nos corredores da Casa, o comentário é que essa prática será repetida nas sessões até o fim da legislatura. E, se alguma reunião for para a frente, será para priorizar a análise e votações de projetos de autoria dos próprios vereadores, e não do Executivo. Além da “rebelião” contra o prefeito, a avaliação dos vereadores ouvidos pela reportagem é a de que o gesto será repetido também por políticos que não compõem o grupo de apoio de Lacerda, mas que estão “desanimados” porque perderam.
Antes, com oito cadeiras na Câmara, o PSB de Lacerda conseguiu angariar somente três no domingo. Outros desfalques também ocorreram na base do socialista, que começou o início de seu segundo mandato, em 2013, com 33 parlamentares, e hoje tem um grupo de apoio enfraquecido.
“Só não fui eleito porque ele me abandonou. Apoiei todos os projetos do prefeito, estive com ele quando ele precisou, e ele não me deu um telefonema sequer. O pior, ainda apoiou outro candidato na minha região”, disse um vereador com a voz embargada e os olhos marejados.
Na avaliação de outro parlamentar, que também perdeu a eleição, o gesto de Marcio Lacerda de retirar o apoio ao então candidato Paulo Brant e se juntar a seu vice, Délio Malheiros (PSD) – que foi derrotado na majoritária –, também atrapalhou os vereadores: “Se tivéssemos o Brant como candidato à prefeitura, teríamos mais cadeiras, teríamos mais visibilidade”.
“Trabalhei muito, ajudei o prefeito na Câmara e estive presente em todas as votações, mas não ganhei. Meu erro foi ser muito fiel ao prefeito, mas vou continuar vindo e votando”, disse Márcio Almeida (PSD), que também perdeu a disputa.
Outros parlamentares que não foram reeleitos também defenderam que têm responsabilidade e irão “honrar” os votos recebidos em 2012. “Vou continuar o meu mandato até o último dia. Vou comparecer às reuniões”, afirmou Joel Moreira (PMDB). “Não é porque perdi que não tenho responsabilidade mais neste mandato”, disse Heleno (PSDB).
Acerto. Diante do clima, o presidente da Câmara, Welligton Magalhães (PTN), que se reelegeu e terá na próxima legislatura mais três nomes de seu partido na Casa, disse que fará uma reunião de líderes para acertar as reuniões plenárias. “A Câmara é independente. Temos as sessões e vamos marcar uma reunião de líderes para entrar num acordo, num consenso do que será feito”, afirmou.
Obras. Com reformas de revitalização no plenário principal da Câmara, as reuniões ordinárias estão sendo realizadas no plenário JK. As obras devem ser finalizadas no final de novembro.
Idade
Queda. A média de idade dos vereadores que foram eleitos no último domingo para ocupar mandato na Câmara Municipal de Belo Horizonte, a partir do ano que vem, caiu de atuais 51 anos para 46.
Eleitos em 2012. Na legislatura que está em andamento, o vereador mais antigo é o Coronel Piccinini, do PSB, com 71 anos. Já o político mais jovem é o Bim da Ambulância (PSDB), com 33 anos.
Novatos. A partir do próximo mandato na Casa, o parlamentar mais velho será Flávio dos Santos (PTN), que hoje tem 73 anos. Ele completará 74 em dezembro. Já o vereador mais novo é Doorgal Andrada (PSD), que completará 24 anos no próximo dia 21.
Clima tenso
Reeleitos buscam informações sobre o perfil dos 23 novatos
Além do clima de lamentações na Câmara Municipal por parte de quem perdeu o mandato, os que foram reeleitos estão com uma “pulga atrás da orelha” e em busca de informações sobre o perfil da maioria dos 23 novatos da Casa. Em especial, sobre Áurea Carolina (PSOL), que foi a vereadora mais votada da capital, com 17.420 votos.
Outras figuras já conhecidas pelos vereadores também estão recebendo apelidos. “Esse, com certeza, será o pirracento”, disse um vereador sobre um dos eleitos.
Questionado se há um prognóstico sobre a composição da Câmara na próxima legislatura, o líder do governo na Casa, Preto (DEM), disse que é uma incógnita. “A partir de janeiro é outra turma. Eu estarei, mas é difícil saber. Temos que esperar o resultado sobre quem será o prefeito”, afirmou ele, que, em 2017, estará em seu sexto mandato.
Apoio. Enquanto isso, PT e PCdoB já costuram alianças para a próxima legislatura em busca de uma bancada mais forte. Enquanto os petistas contabilizam atuais quatro cadeiras no Legislativo, em 2017 terão apenas duas, ocupadas por Arnaldo Godoy e Pedro Patrus. Já os comunistas irão passar de duas para somente uma vaga, que é de Gilson Reis.
Conforme o líder da oposição na Casa, Pedro Patrus, mesmo com a forte “campanha de difamação contra o PT”, a esquerda na capital sai “mais fortalecida”. “Com a Áurea e com a Cida (Falabella), e com mais três vereadores da nossa coligação, Belo Horizonte demonstra que terá uma esquerda forte”, disse. Ainda segundo ele, “é bem provável” que eles também sejam oposição no próximo governo.
Momento
Partidos tentam explicar as perdas
Nessa segunda-feira (3) também foi o dia de os vereadores contabilizarem as perdas dos partidos e tentarem explicá-las. Um deles foi o PV, que perdeu as duas cadeiras que tinha na Câmara. Segundo o vereador Sérgio Fernando Pinho Tavares, é um “reflexo do momento”. “Acreditamos em promessas que não se cumpriram, de potenciais ajudas do meio político que não se cumpriram”, afirmou.
Já o peemedebista Reinaldo Preto Sacolão viu sua bancada diminuir de três para dois nomes. “É um reflexo de uma política nova que estamos vivendo. Particularmente, perdi muito voto por defender o PMDB”, disse o vereador.
Sobre a perda de cinco cadeiras do PSB, Professor Wendel disse que já era esperado: “O PSB teve essa queda porque, dos 62 candidatos que podíamos lançar, a articulação da chapa só lançou 38, abaixo do permitido. O segundo fator que influenciou foi o voto de legenda, não tivemos candidato a prefeito”. Já Juninho Los Hermanos, do PSDB, que perdeu duas vagas, avaliou que, se não estivessem coligados, talvez fariam cinco vereadores.