Análise

Cientistas políticos divergem sobre influência da Lava Jato no pleito deste ano

Avaliação é que importância da operação deve ser menor nas eleições deste ano por causa das recentes derrotas, mas que ela ainda tem apelo simbólico

Por Elisângela Orlando
Publicado em 08 de setembro de 2020 | 22:40
 
 
 
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Desde que foi iniciada, em março de 2014, a Lava Jato tem sido usada nas eleições como uma espécie de arma letal de alguns partidos políticos contra adversários envolvidos em escândalos de corrupção. Desde que Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça, porém, a operação sofreu diversas reviravoltas. O ex-juiz federal deixou a operação no fim de 2018 para integrar o governo Bolsonaro e saiu do ministério após divergência com o presidente. Com a proximidade do pleito municipal, especialistas divergem quanto à força da Lava Jato nos discursos das legendas durante a campanha eleitoral deste ano.

De acordo com o cientista político e professor da PUC Minas Malco Camargos, o valor simbólico da operação Lava Jato ainda existe, mas está longe de ser o mesmo da eleição anterior. “Em 2016, podemos falar que existiu o partido da Lava Jato, ou seja, um grupo de pessoas que representava aquela operação e que, na esteira dos discursos antipolítica, conseguiu promover o sucesso de algumas candidaturas”, assinala.

 

“Com a saída do ex-ministro Sergio Moro, as mudanças na Procuradoria Geral da República (PFR) e, agora, nos quadros internos do Ministério Público (MP) e da Polícia Federal (PF), o grupo que se tornou notável por buscar culpados em relação ao funcionamento da política brasileira está sofrendo algumas derrotas, fazendo com que sua força, nessa eleição, seja muito menor do que foi em pleitos anteriores”, avalia Camargos.

A doutora em ciência política Larissa Peixoto também afirma que é possível que alguns partidos ainda utilizem a Lava Jato em suas campanhas como forma de atrair eleitores. “A imagem da operação está um pouco manchada. Já tem muitas pessoas que associam a Lava Jato à uma corrupção geral, ou seja, ela não é associada a um partido só, a uma pessoa só. É muito difícil a gente ver os políticos jogarem pedra quando se tem um teto de vidro”, pontua a especialista.

No entanto, há quem defenda que a Lava Jato ainda terá força política no pleito municipal deste ano. É o que afirma o cientista político e professor do Ibmec e da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Adriano Cerqueira. “Os partidos que conseguirem fazer um bom uso dela vão continuar investindo e colocando contra a parede as legendas mais tradicionais, que tiveram muitas das suas figuras proeminentes atingidas pelas investigações da Lava Jato”, pondera.

Segundo Cerqueira, não há um desmonte da operação, como Sergio Moro tem afirmado nos últimos dias. “Ele (Moro) sabe que o eleitorado está dividido entre ele e Bolsonaro. Acho que é mais uma ação política do Moro de tentar se fazer o pai da criança do que propriamente um desmonte”, avalia.

 

Recentemente, a Lava Jato se tornou alvo de críticas do procurador geral da República, Augusto Aras, e sofreu derrotas no Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta terça-feira (7), por 9 votos a 1, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) puniu o procurador da República Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato, devido a postagens sobre o senador Renan Calheiros (MDB).

 

Na avaliação de Larissa Peixoto, a Lava Jato começou a perder prestígio há mais tempo, quando as desconfianças acerca da delação premiada surgiram. “Quando você cria só uma suspeita e não traz uma prova, todo mundo vai preso, as empresas vão fechando e as pessoas vão perdendo empregos. É a isso que a Lava Jato leva. Esse capítulo da história brasileira, embora tenha consequências, já não é tão mais relevante em si”, pontua.

 

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