Avaliações da campanha

Eleição em BH: candidatos à PBH fazem balanço após 45 dias de 'campanha atípica'

Faltando poucas horas para a eleição, candidatos avaliam pontos positivos e negativos da campanha eleitoral de 2020 em BH. A busca por votos ficou marcada pelas restrições da pandemia e falta de debates televisivos.

Por Marcelo da Fonseca
Publicado em 14 de novembro de 2020 | 06:00
 
 
 
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Cerca de 1,9 milhão de eleitores vão às urnas amanhã escolher quem comandará Belo Horizonte pelos próximos quatro anos. Em uma eleição atípica, atrasada por causa da pandemia do coronavírus, a campanha também foi marcada por situações inéditas na busca por votos.

As tradicionais agendas de ruas não desapareceram, mas deram mais espaço aos encontros virtuais. Na TV, as propagandas tiveram pouco impacto sobre o eleitor, e a falta de debates foi quase unanimidade entre as reclamações dos candidatos. 

O prefeito Alexandre Kalil (PSD) chega à eleição como favorito e pode vencer logo no primeiro turno. Kalil teve poucas agendas de campanha e, “em função do trabalho na prefeitura”, segundo assessoria, concentrou os eventos no horário de almoço. Procurado, Kalil não fez um balanço sobre a campanha. 

Segundo lugar nas pesquisas, o deputado João Vítor Xavier (Cidadania) avaliou como positiva a oportunidade de conversar com as pessoas sobre problemas da cidade e apresentar propostas para solucionar carências da população.

“Foi uma oportunidade extraordinária de conhecer ainda mais a realidade de BH, desde Capitão Eduardo, na divisa com Sabará, com Santa Luzia, até a região do Lindeia, nas divisas de Contagem e Ibirité, ver a realidade de tantos e tantos belo-horizontinos que querem uma cidade melhor, um serviço público de melhor qualidade”, diz João Vítor. O candidato alterou suas ideias com ataques a Kalil em sua propaganda e criticou o atual prefeito por não participar de nenhum debate. 

Luta por espaço

Para a deputada Áurea Carolina (PSOL), o movimento de ocupar espaços na política em defesa de pautas progressistas não se encerrará na votação de amanhã, caso a eleição seja definida no primeiro turno.

A candidata se firmou como opção da esquerda na capital, ficando, nas pesquisas, à frente de outros partidos do mesmo campo político e comemora uma campanha focada em ideias e sem ataques pessoais contra adversários.

“É uma jornada que vai além desse momento de campanha. É um trabalho que vem sendo consolidado. Passando o dia 15, continuamos em expansão desse projeto coletivo, de ocupar a política, com a Gabinetona, as Muitas, com os partidos da frente de esquerda e outras legendas progressistas”, avalia Áurea. 

Aposta em Bolsonaro

O deputado Bruno Engler (PRTB) – terceiro lugar nas pesquisas empatado com Áurea – apostou desde o início na capacidade de transferência de votos do presidente Jair Bolsonaro, que teve mais de 900 mil votos na capital na eleição de 2018 (65% dos votos válidos em BH).

Até o momento, porém, o apoio declarado do presidente não se refletiu nas pesquisas de intenção de voto. Ao fazer o balanço de sua campanha, Engler citou o apoio das ruas às pautas conservadoras, “pautadas na defesa da família e dos princípios cristãos”.

“Nossa campanha não usa dinheiro público e, apesar de uma modesta estrutura, foi feita de forma propositiva, levando ao eleitor propostas que irão endireitar os rumos da capital”, avaliou. Ele apontou como ponto negativo a falta de espaço nos programas eleitorais gratuitos de rádio e TV – sem aliança de outros partidos, o PRTB não teve direito à propaganda gratuita. 

Falta de debates e lives nas redes marcam campanha

Com boa parte da população desinteressada na eleição (segundo mostraram pesquisas) e mais preocupada com os perigos da Covid-19, a busca por votos se apresentou como um grande desafio para muitos candidatos na capital mineira.

O cenário se tornou ainda mais adverso com o alto número de concorrentes que buscaram ao longo de 45 dias apresentar ao eleitor suas propostas para a cidade. Este ano foi a primeira vez em que as coligações para cargos no Legislativo foram vetadas, o que fez vários partidos optarem por lançar cabeças de chapa. 

Em busca de retomar o eleitorado petista de BH, que já elegeu Patrus Ananias e Fernando Pimentel nas últimas décadas, Nilmário Miranda (PT) contou com a participação dos ex-prefeitos.

“Mesmo com a pandemia, seguindo todos os protocolos de saúde, houve uma reconexão do partido com as periferias”, avaliou o petista, que cita um “resgate do legado do PT” como parte importante da campanha. 

Estreante nas disputas eleitorais, Luísa Barreto buscou uma renovação no PSDB, afastando-se de lideranças da sigla, como o deputado Aécio Neves.

“A recepção das ruas foi muito positiva. Conseguimos, respeitando as normas de distanciamento, apresentar boas ideias”, diz Luísa. Ela citou como ponto negativo a falta de debates, o que “prejudica o eleitor e a democracia”. 

Candidato do governador Zema

O candidato do Partido Novo, Rodrigo Paiva, apostou na força do governador Romeu Zema, que surpreendeu na eleição de 2018 e desbancou nomes tradicionais da política mineira. Ele conta que cumpriu mais de 200 agendas, em pouco mais de 40 dias, e buscou ter contato com representantes de todas as classes, entidades e categorias da capital.

“Ouvi a dor de quem espera há dois anos tratamento de fonoaudiologia para o filho autista ou que levou um ano para fazer exame de mamografia. Andei de ônibus lotados e vi que muita gente leva até duas, três horas para chegar em casa depois do trabalho. Conheci o drama de famílias que não têm onde deixar os filhos para ir trabalhar”, relata Rodrigo Paiva. 

Desigualdade

Wadson Ribeiro, do PCdoB, afirma que percebeu de perto a desigualdade em BH e que será preciso uma gestão que busque priorizar o lado social para conseguir melhorar a vida de grande parte da população.

“Há uma divisão em BH: uma parte da cidade é muito desenvolvida e outra parte necessita muito de infraestrutura e de políticas sociais”, afirma. Ele criticou também a desigualdade de espaço na propagandas e a falta de debates eleitorais. “As pessoas tiveram poucas opções para se informar. Dois candidatos concentraram 60% do tempo de televisão e rádio”, analisa. 

O candidato do PSTU, Wanderson Rocha, também avaliou que a disputa mostrou como o “processo é antidemocrático”. “O poder econômico faz a diferença. A primeira campanha (de Kalil) já gastou R$ 4 milhões, a segunda (de João Vítor) já gastou R$ 2 milhões”, avalia. 

Para o empresário Marcelo Souza e Silva (Patriota), o pouco espaço para propaganda de TV gerou limitações para que vários candidatos pudessem apresentar suas propostas, o que favoreceu alguns candidatos. Ele aponta como aspecto positivo a oportunidade de defender propostas para a retomada econômica da capital. “Do primeiro ao último dia, me mantive fiel na defesa do comércio e do emprego como caminho para o desenvolvimento da BH”, diz Marcelo. 

Outro empresário na disputa, Fabiano Cazeca (Pros) destacou as propostas que trouxe para a campanha e as críticas à atual gestão que, segundo ele, ficou sem respostas.

“Colocamos propostas importantes em debate. Não pode, por exemplo, um prefeito que ganha mais de R$ 31 mil ficar devendo IPTU. A prefeitura precisa voltar a construir Umeis. A atual gestão não levantou uma sequer. O prefeito não pode ser frouxo e se curvar aos interesses das empresas de ônibus”, cobra Cazeca. 

Já Cabo Xavier ressaltou que fez sua campanha sem usar dinheiro público e que suas ideias foram muito bem recebidas em vários bairros da capital. Ele criticou o “uso da máquina pública” na busca por votos e disse que isso torna a competição desleal. 

Os candidatos Lafayette Andrada, Wendel Mesquita e Marília Domingues foram procurados pela reportagem e não quiseram se manifestar sobre o balanço da campanha. 

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