Estratégia de comunicação

Eleições em BH: Kalil adota estilo direto na TV e defende a própria gestão

Tática tem dado resultado, avaliam especialistas

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 11 de novembro de 2020 | 16:00
 
 
 
normal

“A saúde em Belo Horizonte é uma porcaria. Mas é a melhor porcaria do Brasil”. “Vão vir agressões, vai vir o que não foi feito. E é difícil mesmo. A gente só faz o que pode, mas não prometemos o que não podemos fazer”. “Se melhorou sua vida um pouco, e se foi, eu sei que é pouco, porque é muito difícil melhorar a vida de tanta gente”. “Todo mundo tá de saco cheio, todo mundo tá cansado, todo mundo tá estressado, mas nós vamos sair lá na frente”.

É com frases como essa que o atual prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Alexandre Kalil (PSD), tem se dirigido aos eleitores nas propagandas eleitorais veiculadas no rádio e na televisão.

Falando da sala de sua casa, também cenário na campanha de 2016, Kalil adota um tom de sinceridade, que por vezes se transforma em rispidez e beira a impaciência quando responde críticas feitas por seus adversários. 

A estratégia tem funcionado: mesmo começando a campanha eleitoral com intenção de voto significativa, ele conseguiu aumentar sua base de eleitores. Kalil saiu de 56% para 65% das intenções de voto entre o início de outubro e o início de novembro, segundo pesquisa do instituto Datafolha — os números dos registros das pesquisas na Justiça Eleitoral são MG-09256/2020 e MG-02074/2020, respectivamente.

No entorno do atual prefeito, a percepção é que a personalidade e o estilo de comunicação de Kalil, mais direto, são as principais vantagens em relação aos demais candidatos. A decisão de não sorrir nas fotos e nos vídeos partiu do próprio candidato e não uma estratégia pensada pela equipe.

Segundo uma pessoa próxima, que estava presente nas gravações, Kalil argumentou que sorrir em um momento como esse, em que o mundo passa por uma pandemia e que o desemprego aumentou, seria um deboche com o eleitor.

O cientista político da UFMG e diretor da Quaest Consultoria e Pesquisa, Felipe Nunes, corrobora essa avaliação. Nas pesquisas DataTempo/Quaest, contratadas pela Sempre Editora, Kalil saiu de 53% em 5 de outubro para 59% no dia 26 do mesmo mês — as pesquisas estão registradas sob os números MG-02556/2020 e MG-06804/2020, respectivamente

“A campanha entendeu que o principal ativo do Kalil é que ele consegue ser popular, ser querido sem ter que adotar as práticas comuns do marketing convencional, que é falar bem de si próprio, exaltar os seus feitos. Ele usa uma estratégia de anti-marketing. Ele não grava em estúdio, ele grava em casa, ele grava parecendo que não tem um texto combinado. Tudo isso dá a forma de uma campanha real e não uma campanha de marketing”, diz Felipe Nunes. “Essa é uma estratégia que encaixa muito bem na personalidade e na imagem que o Kalil tem”.

Tanto Nunes como Carlos Ranulfo, cientista político que também dá aulas na UFMG, apontam que, se de um lado Kalil dá forma à campanha com seu estilo, o conteúdo é baseado na prestação de contas do que foi feito no primeiro mandato.

“O essencial é a defesa da administração. Isso qualquer candidato a reeleição tem que fazer, se não ele não tem nenhuma chance”, diz. “Agora, ele (Kalil) mostra no estilo dele, com a linguagem dele, com a maneira dele se comunicar”, conclui.

Para Ranulfo, o atual prefeito manteve o estilo adotado em 2016, quando enfatizava que não era político, e, ao fazer isso, demonstra que não mudou por causa do cargo que exerce.

“O estilo de comunicação implicitamente está dizendo: não mudei. Continuo me dirigindo a vocês como sempre e fiz uma boa gestão”, explica o professor.

Outra característica da campanha de Kalil à reeleição é que ele não realizou nenhuma agenda de rua, ao contrário de seus adversários, que frequentemente fazem caminhadas pelos bairros, no Mercado Central e na Feira Hippie, por exemplo.

Os compromissos de campanha dele foram todos feitos em ambientes controlados, com poucas pessoas e mantendo o distanciamento social. O próprio Kalil já declarou que depois de pedir para a população ficar em casa nos últimos meses, sair às ruas para pedir voto seria incoerência da parte dele.

A atitude, diz Carlos Ranulfo, poupou o candidato de ataques. “Isso poderia ser explorado pelos adversários se ele, depois de ser enfático na defesa do isolamento social, saísse promovendo atos de rua. Acho que seria poderia ser pego uma contradição”, afirma.

Para Felipe Nunes, nesse sentido, a campanha de Kalil é tradicional, já que explora o tempo de televisão e a popularidade do candidato nas redes sociais. “É aquela história: campanha que tá dando certo, que tá com alta capacidade votos, tende a ser uma campanha que não precisa se mostrar muito. Já está tudo mostrado”, diz.


Acompanhe, no dia 15 de novembro, a apuração e o resultado das eleições 2020 em Belo Horizonte. Ou comece a busca por sua cidade em nossa lista de estados do Brasil.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!