Amazonas
Manaus: Veja o raio-x dos candidatos Amazonino (Pode) e David (Avante)
Urnas registraram diferença de menos de 2 pontos percentuais entre os dois candidatos a chefe do Executivo da capital amazonense
27/11/20 - 15h14
Urna refletiu frustração na aposta pelo novo de 2018, diz Amazonino Mendes
Mais idoso entre os candidatos nas capitais, o ex-governador Amazonino Mendes (Podemos), 81, disputa o segundo turno da eleição para comandar a capital do Amazonas.
Ele vai concorrer com Davi Almeida (Avante). Entre os candidatos no primeiro turno no estado, estava um coronel apoiado no primeiro turno pelo presidente Jair Bolsonaro.
Natural de Eirunepé, no interior, Amazonino foi eleito governador do estado quatro vezes e tenta a quarta gestão na prefeitura da capital amazonense.
Formado em direito pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas), foi prefeito de Manaus pela primeira vez em 1983, apadrinhado por Gilberto Mestrinho, político tradicional do Amazonas. Voltou a vencer as eleições para comandar a capital em 1992 e 2008.
Como governador do estado, tentou a reeleição em 2018, mas foi derrotado no segundo turno pelo atual governador, Wilson Lima (PSC).
No primeiro turno deste ano, Amazonino teve 23,91% dos votos, contra 22,36% de Almeida, um diferença de pouco mais de 15 mil votos. Agora ele aposta na experiência que acumulou ao longo de quase 40 anos de política para manter a maioria no segundo turno.
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PERGUNTA - Que apoios o candidato conquistou ou espera conquistar para manter a vantagem nas urnas no segundo turno?
AMAZONINO MENDES - A minha campanha não teve apoio de máquina pública. Foi uma campanha que sempre mostrou os partidos aliados, de forma transparente. Os partidos de Wilson Lima [governador do Amazonas] e Arthur Virgílio [prefeito de Manaus] não fazem parte da coligação. O governador apoia veladamente o meu adversário.
Todos que tenham boas propostas para a cidade e que queiram discutir projetos com esse foco são bem-vindos na minha campanha. Mas sempre deixei bem claro que minha candidatura não passa por acordos e troca de favores. Quem resolver apoiar os projetos que temos para Manaus, deverá saber que faz isso por convicção.
P. - Como o candidato vê a reprovação dos candidatos de direita alinhados ao presidente Bolsonaro no 1º turno?
AM - O que aconteceu nessa eleição, e aqui temos o caso emblemático, foi o reflexo do sentimento de frustração na aposta ao 'novo' para o governo em 2018, que se mostrou inexperiente, não conseguiu cumprir as promessas mirabolantes que fez e ainda se envolveu em escândalos pesados em uma área vital para as pessoas, que é a saúde. Quem diz isso não sou eu. É a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República, que acusam o governador do Amazonas.
P. - Qual sua avaliação da gestão de Jair Bolsonaro, do governador Wilson Lima e de Arthur Virgílio Neto, atual prefeito?
AM - O presidente tem erros e acertos, como todo administrador. O presidente acertou, por exemplo, em garantir o auxílio emergencial para milhões de brasileiros afetados pela crise gerada pela pandemia.
Já o governador do Amazonas vive uma situação extremamente complicada, investigado pela Polícia Federal e Procuradoria Geral da República, acusado de chefiar, conforme dizem esses órgãos, quadrilha que se locupletou com recursos públicos, de compra superfaturada de respiradores, de uma empresa de vinhos.
Ao prefeito Arthur Virgílio Neto minhas considerações são de que também teve erros e acertos na administração e não terei qualquer problema para manter os projetos implantados em sua gestão que estejam dando certo, funcionando a contento.
P. - Qual o senhor considera o maior problema de Manaus e qual sua proposta para solucioná-lo?
AM - O maior problema hoje envolve o acolhimento à população, para que possa enfrentar a crise do desemprego. Manaus tem a mais alta taxa de desemprego entre as capitais. O problema já vinha se acentuando e ficou crítico com a pandemia.
Vai ser preciso colocar em prática ações para auxiliar a população, como a que estou propondo, que é a volta do Cartão Direito à Vida, que criei em administração como governador, antes mesmo do Bolsa Família do governo federal. Também será preciso um grande pacote de estímulo à geração de emprego e renda e a oferta de linhas de crédito para pequenos empreendedores.
P. - Como será sua gestão municipal em meio à pandemia?
AM - A prefeitura, caso seja eleito, vai trabalhar para que a população tenha acesso à imunização. Nossa ideia é que todas as medidas tenham como base as orientações dos especialistas e autoridades de saúde, sempre resguardando a saúde das pessoas. O que precisar ser feito terá sempre isso como norte.
Seu concorrente questiona suas condições de saúde para governar Manaus pelos próximos quatro anos... Eu não pretendo governar sem sair de casa nem estou fazendo campanha dessa maneira. Tenho percorrido os bairros e tenho ido, de forma presencial, conversar com a população, adotando, claro, todas as medidas de prevenção, de maneira a não colocar em risco a vida de ninguém. Na prefeitura, estarei nas ruas, nos bairros, fazendo o meu trabalho.
P. - Qual sua principal proposta para a saúde da primeira capital a colapsar na pandemia?
AM - A lição que a pandemia deixa, para todos, é de responsabilidade no uso do recurso público e de planejamento. Para esta nova administração, minha pretensão é ampliar a cobertura da rede, com a construção de novas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), com capacidade dobrada.
Quero também lançar o serviço de teleconsulta, para facilitar o atendimento em casos de pequenos agravos, de forma online. Além disso, vamos realizar concurso público. Com relação à pandemia, vamos aumentar o número de unidades de saúde para atendimento de Covid-19 de 18 para 30, com teste rápido e RT-PCR. Outra preocupação é com a garantia de vacinação.
P. - Qual sua proposta para a educação em 2021?
AM - O candidato é favorável à retomada das aulas presenciais? Se forem necessárias ações para reposição de aulas, as medidas serão tomadas e discutidas com os educadores e com os pais. Temos esperança de que possamos retomar as atividades presenciais, já com a vacina liberada.
Dentro das propostas para a educação, minha ideia central é a implantação de escolas de tempo integral em todas as zonas da cidade. Pretendo criar o programa Bolsa Infantil, ampliando a oferta de creche, por meio de convênios.
P. - Como prefeito, qual sua posição sobre a Zona Franca de Manaus?
AM - O prefeito faz parte do grupo do Conselho de Administração da Suframa. Farei uso dessa prerrogativa, defendendo o modelo Zona Franca e, da parte do município, implantando ações com foco na atração de indústrias para a cidade. Ao mesmo tempo, estimular o uso sustentável do potencial da biodiversidade, de forma a atrair empresas e investidores.
P. - Como avalia seu concorrente?
AM - Não conheço muito bem David Almeida. O que sei dele é do seu comportamento público. Acho muito parecido, no seu perfil, com o governador do Amazonas, Wilson Lima, que simplesmente decepcionou os seus milhares de eleitores.
Cortina da história política do Amazonas se fecha para caciques, diz David Almeida
O ex-governador interino David Almeida (Avante), 51, disputa o segundo turno neste domingo (29) para comandar Manaus, a capital do Amazonas. Ele concorre com o mais idoso entre os candidatos de capitais nesta segunda etapa, o ex-governador Amazonino Mendes (Podemos), 81.
Entre os nomes que não conseguiram votos suficientes nas urnas no último dia 15, está um coronel amigo de Jair Bolsonaro e um dos poucos no país apoiados declaramente pelo presidente.
Bacharel em direito formado pela Universidade Luterana de Manaus (Ulbra), ele disputa pela primeira vez o cargo de prefeito. Foi deputado estadual por três mandatos consecutivos (2007-2018) e, em 2017, assumiu o cargo de governador interino do Amazonas, após a cassação da chapa do ex-governador José Melo (PROS).
Nascido em Manaus, Almeida foi eleito em 2016 deputado estadual pela primeira de três vezes consecutivas. Já passou por oito partidos, até assumir a presidência do Avante no Amazonas, em 2019.
Depois da passagem pelo governo do Amazonas, Almeida trocou o PSD pelo PSB e se candidatou a governador em 2018, mas não foi eleito.
No primeiro turno das eleições municipais de 2020, Almeida teve 22,36% dos votos, contra 23,91% de Amazonino Mendes (Podemos).
Agora, no segundo turno, ele aposta na rejeição ao seu concorrente à prefeitura de Manaus e nas "limitações" que, segundo Almeida, as "comorbidades" de Amazonino Mendes, 81, impõem à gestão dele em meio à pandemia, como uma das alavancas para a vitória.
PERGUNTA - Como o candidato vê os resultados do 1º turno?
DAVID ALMEIDA - No Amazonas eu posso parafrasear a música do Cazuza: eu vejo o futuro repetir o passado. O que eu vejo? Em 1981 o povo cansou dos militares e queria eleger um governador civil. Aqui no Amazonas, elegeu Gilberto Mestrinho. Ele assumiu em 1982 e o grupo dele governou por 36 anos.
Em 2018 a população cansou de uma geração de políticos chamado caciques e disse isso já no primeiro turno, votando 78% contra o Amazonino, o "filho mais velho" de Gilberto Mestrinho. Em 2020, essa mesma população confirma o que se iniciou em 2018, então neste momento nós estamos passando por uma transição: a cortina da história política do Amazonas se fecha para uma geração chamada caciques, que já tiveram todas as oportunidades de mudar o estado e a cidade de Manaus e não o fizeram.
Qual sua relação com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB)? Eu venho há três eleições lutando contra todos os caciques, todos os governadores e ex-governadores. Em 2017 eu estava contra Amazonino [Mendes] e Eduardo [Braga (MDB, ex-governador do Amazonas]. Em 2018 o Amazonino e Eduardo estavam juntos e eu estava contra eles, contra o Wilson Lima, atual governador, contra o Alfredo [Nascimento (PL)], contra o Arthur. Em 2020 eu continuo contra todos eles.
P. - Como o candidato vê a reprovação dos candidatos do presidente Bolsonaro em Manaus?
DA - Os extremos não são o melhor caminho. Aqui em Manaus o presidente Bolsonaro goza de um prestígio muito grande. Só que o candidato que ele escolheu não tem o mesmo perfil que ele, não tem a mesma aceitação.
Uma coisa é você ser o candidato, outra coisa é você apoiar o candidato. Eu vejo que ele tem muita aprovação na cidade de Manaus, porém ele não é o candidato e, na minha concepção, ele escolheu o candidato errado. Mas a escolha dele é dele, não vou discutir a escolha que ele fez.
P. - Qual sua avaliação sobre a gestão de Jair Bolsonaro?
DA - Estamos vivendo um momento muito atípico no Brasil, com uma pandemia. Eu sou a favor da ciência, sou a favor do diálogo... eu convirjo muito com as ideias dele com relação a Deus, à pátria, aos bons costumes, defesa dos valores da família na sociedade. Ele defende outras pautas que eu não defendo, mas convergimos na maioria das pautas que ele defende.
Eu prefiro falar das que nós convergimos, prefiro ficar nas convergências, não nas divergências. E aqui ele [Bolsonaro] tem muito prestígio e tem muito voto, ele precisa ajudar a cidade de Manaus e eu vou em busca dessa ajuda.
P. - Se já fosse prefeito em 2019, teria tomado medidas diferentes para conter a pandemia?
DA - Tudo é muito novo, ninguém tem certeza de nada em relação à Covid-19. Eu sei que o próximo prefeito precisa, essencialmente, reservar recursos para imunizar a população. Mas eu não posso falar porque eu não estava. Se acertou ou não, a história vai dizer.
P. - O que o senhor considera que seja o maior problema de Manaus e qual sua proposta para solucioná-lo?
DA - São muitos problemas, e um dos mais urgentes a serem resolvidos é o transporte coletivo. Esse precisa ser resolvido, com urgência, com melhores investimentos, monitoramento, controle, renovação da frota e intervenção viária para aumentar a velocidade média de 14 km/h para 25 km/h.
P. - Qual sua principal proposta para a educação em 2021?
DA - Vamos criar o programa Prato da Criança e dar o almoço da criança na escola, criar aula de reforço no contraturno para recuperar o tempo perdido de 2020, dobrar a carga dos professores. Hoje temos 5.200 [vagas em creches] e, em um ano, a minha proposta é abrir mais 7.000 novas vagas.
Vou economizar na construção e no custeio, porque vou comprar vagas em creches particulares, da igreja católica, da igreja evangélica, que tenham projetos educacionais.
P. - O senhor é favorável à retomada das aulas 100% presenciais a partir do início de 2021?
DA - As aulas iniciam no mês de fevereiro, março. Acredito que até lá a população já possa estar imunizada. Este primeiro semestre ainda é uma incógnita. Vamos usar o primeiro semestre de 2021 para nos adaptarmos da melhor maneira possível sem colocar as crianças e os profissionais da educação em risco.
P. - Então se até março não tiver vacina isso pode atrasar o retorno das aulas presenciais?
DA - Naturalmente.
P. - Muitos candidatos prometeram armar a guarda municipal. Qual sua proposta?
DA - Isso [armamento da guarda] pode acontecer da seguinte forma: a Senasp [Secretaria Nacional de Segurança Pública] tem recursos para equipar as guardas municipais, dando a ela um quartel general, uma corregedoria, equipamentos. Além disso temos uma proposta de convênio com a Polícia Militar para comprar a folga dos policiais militares para atuar nos locais de maiores fluxos de pessoas.
P. - Como prefeito, qual sua posição sobre a Zona Franca de Manaus?
DA - A ZFM foi prorrogada por 50 anos a nível federal, só que a nível estadual os incentivos fiscais acabam em 2023. Vai ser uma das primeiras medidas: procurar o governo do estado para que nós possamos discutir essa lei de incentivo fiscal estadual e garantir segurança jurídica às empresas que já estão instaladas e queiram se instalar no pólo industrial.
P. - Como você avalia seu concorrente, o candidato Amazonino Mendes?
DA - Alguém que já realizou pelo estado, que tem um legado, porém eu não o vejo, hoje, em condições de resolver os problemas da cidade de Manaus. Não é nem pela sua idade, mas pela sua condição hoje, de saúde. Ele tem muitas comorbidades e, em um ano de pandemia, não se pode administrar Manaus de dentro de casa.