O TEMPO DADOS

Partidos trocam de nome e buscam protagonismo nas eleições municipais de 2020

Podemos, Patriota e Avante são alguns dos grupos com maior aumento no número de filiados

Por Cristiano Martins
Publicado em 12 de setembro de 2020 | 07:00
 
 
 
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Se não foi suficiente para alterar o cenário no topo do ranking de filiações, a onda de renovação dos nomes e bandeiras pode ter contribuído para a dança das cadeiras entre os partidos de médio e pequeno porte em Minas Gerais.

Conforme havia mostrado O TEMPO nesta sexta-feira (11), legendas tradicionais como MDB, PT e PSDB perderam quadros no Estado, enquanto aquelas com identidades reformuladas aparecem entre as que mais agregaram novos correligionários desde 2016.

Quatro dos seis grupos rebatizados antes das eleições gerais de 2018 cresceram em número de associados, coincidentemente aqueles que abandonaram as siglas: Podemos, Avante, Patriota e Solidariedade. O MDB (ex-PMDB) e o DC (ex-PSDC) não alcançaram o mesmo saldo positivo.

 

 

 

 

Dentre os outros quatro que se repaginaram mais recentemente, apenas o Republicanos (ex-PRB) registrou aumento nas listas. O grupo ligado à Igreja Universal agora contabiliza 40 mil inscritos, ou 20% a mais na comparação com as duas eleições anteriores. Progressistas (PP), PL (ex-PR), e Cidadania (ex-PPS) seguem entre os maiores de Minas, mas sofreram baixas.

Curiosamente, quatro partidos mais do que dobraram de tamanho neste ciclo, e todos eles se identificam com palavras em vez de siglas: Novo (520%), Patriota (336%), Podemos (167%) e Rede (119%).

Podemos e Patriota foram os mais inflados em termos absolutos, com respectivamente 28 mil e 23 mil novos filiados. O primeiro saltou da 23ª para a 13ª colocação entre os maiores do Estado, enquanto o segundo escalou seis posições, da 25ª para a 19ª. É importante ressaltar, porém, que ambos incorporaram legendas inteiras – maiores, inclusive, do que as siglas originárias –, em razão da cláusula de barreira.

A maioria dos 28 mil associados ao extinto PHS migrou para o Podemos, somando-se aos 17 mil participantes do antigo PTN. Para o deputado federal Igor Timo, presidente do diretório mineiro, a nova identidade e o projeto de crescimento do partido refletem uma necessidade de renovação quanto à presença da sociedade na política.

“Essa evolução está alinhada aos anseios populares, com suas principais bandeiras no combate à corrupção, no fim dos privilégios e do foro privilegiado e na volta da prisão em segunda instância. Ao invés de defender ideologia de direita ou esquerda, nós seguimos adiante, inserindo as pessoas no projeto para que elas se sintam representadas”, prega Timo.

 

 

 

Segundo o deputado, o partido tem condições de apresentar candidaturas majoritárias em até 120 municípios, a depender dos resultados das convenções. “Nossos filiados vêm das mais diversas linhas de pensamento. As pessoas se sentem acolhidas porque o Podemos consegue dialogar de forma independente e todos os correligionários têm participação direta e efetiva. Nossa meta é ser o partido que mais irá se consolidar nas eleições deste ano”, completa.

Já o Patriota aglutinou cerca de 17 mil filiados do extinto PRP, mais do que o dobro em relação ao quadro originário do antigo PEN. E o crescimento foi além, alcançando a casa dos 30 mil associados às vésperas das eleições de 2020.

O presidente estadual Hércules Marques, o Chicão, vê o Patriota como um partido em processo de formação ideológica, sem acirramentos e aberto ao diálogo, apesar de o grupo ter ficado associado à extrema direita durante as tratativas (não concretizadas) para receber o presidente Jair Bolsonaro após a saída dele do PSL.

“Queremos ser um partido que contribua para a vida da população, por isso abrimos o espaço para quem queria construir e, não, radicalizar. A característica do Patriota é não cercear o direito de ninguém de participar da vida política”, declara. 

Citando nominalmente o PT, ele afirma que parte dos novos filiados veio até mesmo do campo da esquerda. “Por outro lado, grupos bolsonaristas que não tiveram espaço no PSL ou no PSC viram no Patriota essa possibilidade de representação”, pondera.

“Percebemos que há uma rejeição programática e ideológica às siglas tradicionais. Somada a isso, uma dificuldade dos novos quadros em serem absorvidos por esses partidos grandes. Os filiados também buscam um lugar onde tenham mais espaço para crescer”, conclui Marques, otimista com as chances de vitória em “entre 20 e 30” prefeituras mineiras.

O PCdoB foi outra legenda que cresceu incorporando mais uma, com um reforço de aproximadamente 4 mil oriundos do PPL.

Já o PSL merece uma nota à parte. A legenda que abraçou a família Bolsonaro nas eleições gerais de 2018 foi de 'nanica' a segunda maior bancada do Congresso. Mesmo mantendo a identidade, a sigla surfou como ninguém na onda de rejeição à política tradicional e ganhou quase 17 mil filiados em Minas.

 

 

Novo dispara com Zema, mas terá poucos candidatos

Em termos proporcionais, o partido Novo foi o que mais cresceu em Minas no período. Um aumento, em grande parte, impulsionado pela vitória de Romeu Zema para o governo estadual em 2018.

O salto foi de 520%, e poderia ter sido até maior. O número de filiados chegou a 6.653 em janeiro, mas caiu abruptamente para 5.290 entre março e abril, quando se encerrava o prazo para a vinculação dos pretensos candidatos às eleições municipais.

“Perdemos muito, devido à decisão da (executiva) nacional de não abrir diretórios pelo interior. Seríamos capazes de disputar, e a nossa intenção era participar em no mínimo 30 prefeituras, mas poucas cidades em todo o Brasil tiveram autorização para abrir”, conta o presidente do Novo em Minas, Ronnye Antunes. O partido só terá candidaturas majoritárias em Belo Horizonte, Contagem e Araxá.

“Como o Novo não usa o fundo eleitoral e partidário, talvez acabe tendo poucos recursos para manter essas estruturas, por isso o critério foi rígido. Algumas pessoas migraram para outros partidos na intenção de disputar as eleições”, lamenta.

Além disso, na opinião dele, o agravamento da crise econômica durante a pandemia afetou mais diretamente o Novo em comparação aos demais partidos, pois os filiados pagam uma contribuição mensal de R$ 31 para manter o vínculo. “Desestimulou um pouco as pessoas a pensarem em política. Mas impactou até menos do que esperávamos”, ressalta.

Sobre o perfil dos filiados, Antunes acredita que a grande maioria nunca havia participado de outros partidos anteriormente. “São pessoas que viram a promessa de algo diferente, que entendem o mote do liberalismo e se aproximaram por pensarem igual. Não é como em outros lugares onde o objetivo seja buscar o vínculo para desenvolver a atividade política, mas um ambiente para a promoção das ideias liberais”, conclui.

 

 

Passado e futuro

O uso da palavra “partido” nas legendas não é obrigatório desde 1995. A primeira mudança de denominação, porém, aconteceu somente em 2007, quando o antigo PFL virou Democratas e adotou a sigla DEM.

A moda só pegou mesmo nos últimos anos, e muitos dos partidos criados mais recentemente já nasceram sem legenda, casos da Rede e do Novo. Mesmo alguns que mantiveram uma sigla registrada na Justiça Eleitoral passaram a se identificar com um nome, como Progressistas (PP), Democracia Cristã (DC) e o recém-criado Unidade Popular (UP). O Solidariedade, antes também denominado SD, aposentou a legenda oficialmente.

Curiosamente, 30 dos 78 partidos em processo de formação no TSE se identificam com palavras e não com "partido" ou legendas, entre eles o Aliança, projetado pelo presidente Jair Bolsonaro, atualmente sem filiação.

Arena, Consciência, Conservadores, Força Brasil, Igualdade, Inova Brasil, Animais e Piratas são alguns exemplos.

 

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