Especial Mineroduto
Impacto maior do que compensações
Aumento da violência e do uso de drogas, superlotação de serviços públicos, vias danificadas são alguns dos problemas apontados em diversas outras cidades
Há duas semanas, foi inaugurado em Dom Joaquim, na região Central de Minas, um quartel da Polícia Militar custeado pela Anglo American, responsável pelo projeto Minas-Rio. A mineradora também já construiu uma Unidade Básica de Saúde na cidade e fará obras de infraestrutura, em investimentos que somam R$ 21 milhões como compensação pelos dados causados pelo empreendimento. A captação da água para o colocar o mineroduto em funcionamento será feita no rio do Peixe, que passa pela cidade, e é o mesmo que, quilômetros depois, abastece as aldeias Pataxó, também prejudicadas pela obra.
O valor investido no município equivale a 58% do orçamento anual de R$ 36 milhões, mas é considerado insuficiente pelo prefeito Joraci Madureira. “Nem se investissem outros R$ 21 milhões eles me devolveriam a cidade como era antes. Os impactos são enormes”, diz.
Ao longo de todo o trajeto do Minas-Rio, moradores e autoridades municipais relatam problemas causados pelas obras e pelo grande número de forasteiros que chegaram para trabalhar no projeto. Aumento da violência e do uso de drogas, superlotação de serviços públicos, vias danificadas são alguns dos problemas apontados em diversas outras cidades.
Em Dom Joaquim, o prefeito chegou a impedir a circulação de veículos da Anglo na cidade no ano passado. O protesto durou uma semana, até que, com a intermediação do Ministério Público, a empresa começou a negociar as compensações. Com a chegada da empresa, o orçamento municipal, que era de R$ 12 milhões, triplicou, mas o dinheiro extra não significa melhoria de vida. “Eu preferia ter um orçamento de R$ 12 milhões e não ter os problemas que temos hoje. Essas obras não seriam necessárias se não tivesse os impactos. A cidade perdeu a sua essência”, reclama.
Em São Domingos do Prata, a usina de tratamento de lixo de São Domingos do Prata foi dimensionada para atender aos cerca de 18 mil habitantes da cidade, mas não aguentou o aumento de demanda provocado pela chegada das obras do Minas-Rio. O volume de lixo processado dobrou e a prensa da usina quebrou. “A usina foi sucateada e a empresa não tomou nem conhecimento”,diz a vereadora Maria Paula Moraes.
Ela enumera ainda problemas no relacionamento da empresa com a comunidade e sobrecarga nos serviços municipais, e diz que não houve contrapartidas para a cidade. “‘Enroloterapia’ é o que fazem aqui”, diz.