Crítica
Grupo francês ocupa rua e céu de Belo Horizonte neste sábado
A força do espetáculo está em mobilizar uma multidão pela música e pela visualidade, rompendo com a narrativa ordinária da rua
Como um cortejo circense a céu aberto, a trupe francesa Générik Vapeur percorreu no fim da tarde de sábado (10) a av Andradas, do Parque Municipal até a Praça da Estação, atraindo um público estimado entre 3 mil e 4 mil pessoas. A expectativa em torno da apresentação era alimentada pelas lembranças da passagem do grupo pela cidade na abertura do primeiro Festival Internacional de Teatro Palco e Rua – FIT-BH, 20 anos atrás.
Duas décadas são muito tempo, ainda mais para uma cidade que se habituou a ver grandes espetáculos. Talvez por isso a performance dos franceses já não surta o mesmo impacto. Além disso, enquanto os relatos de “Bivouac”, em 1994, falam na invasão de uma horda primitiva, “Jamais 203”, o novo espetáculo, é comportado. Nem na corrida de bicicleta há liberdade: os atores-ciclistas dão voltas lentas, acompanhando o ritmo do público.
Sem entender exatamente o que se passa, como num evento esportivo, em que é preciso escolher o que olhar, os espectadores veem passar bicicletas, globos da morte e caminhões com músicos. A força do espetáculo está em mobilizar uma multidão pela música e pela visualidade, rompendo com a narrativa ordinária da rua e trazendo à tona elementos urbanos de discussão política na atualidade, como as manifestações, sem desdobrá-los.
Se o percurso da corrida pela Andradas fica limitado pela dramaturgia repetitiva, na qual as pequenas ficções se diluem, ao chegar à Praça da Estação vê-se uma apoteose. No final, espetacular, tal qual no clímax do filme “E.T.”, duas bicicletas (e um globo) correm pelo céu erguidas por guindaste, enquanto pipocam fogos de artifício. É tudo menos uma imagem banal.