Motivos
Risco de aumento da violência leva população a defender lei
Maioria quer manter atual legislação por acreditar que armas contribuem para escalada do crime
A principal motivação para as pessoas votarem contra a revogação do Estatuto do Desarmamento foi o fato de acreditarem que um número maior de armas circulando representaria um aumento na criminalidade e não inibiria a ação dos bandidos. Segundo a pesquisa Minas no Brasil de 2018, 29,6% dos entrevistados disseram que a violência cresceria com a liberação do uso de armas para civis.
“Nós não temos controle sobre nós mesmos. Não temos empatia pelas pessoas, por isso não temos condições de tomar decisões importantes como seria a de usar ou não uma arma de fogo. Por isso, eu acho que a violência aumentaria no caso de haver uma revisão do Estatuto do Desarmamento”, afirmou a estudante Isadora Costa, 18.
O auxiliar veterinário Eduardo Costa, 22, tem o mesmo posicionamento. “Se a arma for liberada, uma agressão verbal pode gerar uma raiva que se transforma em assassinato se a pessoa estiver armada. Eu, por exemplo, sou gay. Se alguém vier me atacar por causa da minha orientação sexual com gritos homofóbicos e eu tiver uma arma, eu corro risco de atirar contra essa pessoa. Seria um crime a mais que não existiria se o porte de arma não fosse permitido. Pode ocorrer nessa situação, mas também em outras banais”, explica.
Entre aqueles que são contra a revogação do Estatuto do Desarmamento estão pessoas que acreditam que um número maior de armas traria também um crescimento nos acidentes caseiros e suicídios. Elas representam 8,7% do total. Já 8,1% disseram ser contra o armamento, pois está comprovado que a liberalização não diminui a violência. Outros 11,6% disseram ser contra por outros motivos.
Do outro lado estão os entrevistados contrários à regra atualmente em vigor. A principal motivação apontada por quem defende mudanças na legislação foi o pensamento de que, se há criminalidade descontrolada, os cidadãos têm o direito de proteger seus bens e seus familiares. Essa foi a resposta dada por 23,2% das pessoas entrevistadas.
“Meu pai mora na área rural de Itabira. Lá, eles (os bandidos) chegam e fazem o que querem. Roubam tudo, galinha, máquina. Já teve casos até de gente que foi agredida. Antes, eles tinham mais respeito. Então, se as pessoas pudessem conseguir o direito de usar arma, os bandidos iriam pensar duas vezes antes de entrar na casa de alguém ou abordar qualquer um na rua. Acho que a violência diminuiria”, avalia o porteiro Valmir Brasil, 36.
O segundo motivo mais citado por quem defende que a população tenha direito ao armamento foi o de que, se os bandidos estão armados, então o cidadão também teria o direito de possuir armas. Um total de 10,6% dos entrevistados têm esse posicionamento. Os que querem a revogação do Estatuto do Desarmamento por outros motivos somam 8,2%.
Propostas. Uma série de propostas que discutem mudanças no Estatuto do Desarmamento tramitam atualmente no Congresso Nacional. A mais radical delas é de autoria do senador Wilder Morais (PP-GO), que propõe a realização de um plebiscito sobre revogação do estatuto. Segundo o projeto, o plebiscito deveria ser realizado juntamente com o primeiro turno das eleições deste ano. A proposta ainda está sendo discutida na Comissão de Constituição Justiça (CCJ) do Senado.
Homens ricos são favoráveis a armas
Uma das maiores diferenças de posicionamento é encontrada quando se analisam os resultados entre as classes sociais dos entrevistados na pesquisa Minas no Brasil de 2018. Pessoas das classes A e B tendem a ser mais favoráveis ao direito de a população se armar do que quem está nas classes C, D e E.
O índice dos que defendem a revogação do Estatuto do Desarmamento nas classes A e B alcança 55,5%. Nas classes C, D e E, o percentual é de apenas 38,7%
Homens também têm posicionamento mais favorável às armas do que as mulheres. Entre eles, o apoio à revogação do diploma legal é de 51,4%, e, entre elas, de 33,3%.
A defesa do direito de se armar cresce levemente conforme o aumento da faixa etária. Entre os cidadãos de 16 a 34 anos, o apoio alcança 40,2%, passando para 42,1% entre as pessoas de 35 a 44 anos e 43,3% para os que possuem 45 anos ou mais.