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GRANDES EXPERIÊNCIAS

Prontos para mudar o mundo

Eles nasceram em 1996, junto com o jornal, e aos 20 anos são protagonistas de seu tempo, colecionando conquistas, lutas de gente grande e voz ativa nos ambientes que escolheram para construir um futuro melhor

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PUBLICADO EM 21/11/16 - 02h00

Quando a primeira edição de O TEMPO saiu nas bancas, em 21 de novembro de 1996, Marco Túlio Vieira tinha 7 meses de vida, Ana Karoline Sena, quase 6 meses, Gabriel Luna, 3 meses, e Kawany Tamoyos, apenas 2. Com eles, toda uma geração acabava de nascer em Minas Gerais, e 2016 parecia distante. Mas os dias passaram rápido, e, assim como o jornal, eles cresceram. O que ninguém poderia imaginar é que hoje, com 20 anos, todos já teriam ido tão longe.

Marco Túlio é um dos youtubers (criadores de conteúdo) mais famosos da internet, já tem livro publicado, faz shows pelo Brasil e até abriu uma escola de programação de computadores e robótica em Belo Horizonte.

Ana Karoline saiu da pequena Setubinha, de cerca de 12 mil habitantes, no Vale do Mucuri, para estudar sozinha na capital. Aqui, já se tornou referência em um grupo de jovens da igreja São José, uma das mais antigas da capital, na qual dá palestras e ajuda a organizar ações sociais.

Recentemente, coordenou um dia de atividades com crianças de uma das maiores ocupações da cidade, a Dandara, no bairro Céu Azul, em Venda Nova.

Gabriel também é engajado em ocupações, mas em outras, nas que tem tomado as escolas e universidades do país em protesto contra a PEC 55, que limita os gastos públicos. Integrante de várias entidades de luta estudantil, ele tem o papel de articulação, visita escolas ocupadas em todo o Estado para prestar apoio aos alunos e vive, hoje, com uma consciência política que lhe dá forças para se assumir como gay e integrar também o movimento LGBT.

Kawany é outra militante. Traz no nome de origem indígena o sentido de sua arte. Tem grafites espalhados pela cidade, como em um viaduto da avenida Pedro I, na região da Pampulha, além de uma marca de roupas e bolsas, chamada Arte Transborda. Ajudou a fundar o Coletivando BH, grupo que colabora com ações sociais, e ainda participa de feiras, debates sobre política e distribuição de alimentos para moradores de rua aos domingos de manhã.

Uma rotina apertada e cansativa para todos. Mas que eles cumprem com amor e devoção. Qual o segredo dessa trajetória? A resposta é o velho e bom clichê: “Fazer o que se gosta”. Mas até eles se surpreendem com tanta coisa feita em apenas duas décadas de vida.

A reportagem foi atrás desses jovens, que completam 20 anos junto com O TEMPO e que também compartilham muitas histórias como as já contadas nas milhares de edições do jornal. Uma juventude que, desde o berço, carrega a missão de construir um futuro melhor para o país e que, hoje, é notícia e exemplo por seus ideais, sua luta e seu talento.

Quem eles são? O que sonham? Aonde querem chegar? Cada um reservou um horário entre uma viagem de trabalho, uma reunião, uma aula, para abrir o coração e tirar foto. Mostraram que é possível ser grande em conteúdo, criatividade e disposição, sem perder as origens e a humildade.

“Como você prefere ser identificado? Apenas Marco Túlio?”, pergunto ao jovem. Ele responde: “Marco Túlio AuthenticGames”. O nome do canal que o belo-horizontino criou no YouTube já faz parte de sua identidade, e ele hoje tem duas casas: uma na cidade natal, com a família, e outra em São Paulo, “por necessidade de expandir os negócios”. Mas ele não para nem aqui, nem lá. Conversou com a reportagem a caminho do aeroporto de Confins, de onde seguiria para um show em Brasília. No dia seguinte, teria apresentação em Belém, e, no outro, em Manaus. “Sou muito grato por estar vivendo este momento”.

Marco Túlio fez suas primeiras postagens de gameplays (experiências de como jogar) em 2011. A escolha do nome AuthenticGames, que ele traduz como “Vida Autêntica”, veio da convicção de que o canal teria que ser o mais original possível e que ele “deveria ser sempre a mesma pessoa”. Hoje publica três vídeos por dia e tem uma equipe que o auxilia nas edições. Em cinco anos de trabalho, já alcançou a marca de cerca de 6 milhões de inscritos no canal e 2 bilhões de visualizações. “Ainda não me acostumei, mas entendo o que esses números representam e como a minha responsabilidade aumentou com o meu público (que varia de 4 a 17 anos)”. No lançamento oficial de sua autobiografia “AuthenticGames – Vivendo uma Vida autêntica”, em fevereiro deste ano, na capital, cerca de 8.000 pessoas compareceram, gritando “Authentic” freneticamente.

FOTO: AUTHENTIC GAMES/DIVULGAÇÃO
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Marco Túlio Matos Vieira
Nascimento: 15.4.1996

Às quinta-feiras, às 12h, o compromisso de Ana Karoline é com Jesus. Ela sai da faculdade e segue para a igreja São José, na avenida Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte, onde os fiéis se reúnem para adorar Cristo.

A jovem de Setubinha, no Vale do Mucuri se mudou para Belo Horizonte há dois anos para fazer cursinho e ingressar na faculdade. Está longe dos pais e do irmão de 15 anos. Mas, apesar da saudade, ela não se sente sozinha. Seguiu os passos dos avós, que sempre a levavam à missa, e passou a frequentar a São José assim que se mudou. “Nunca fiquei sem ir à igreja”, diz. Lá, encontrou amigos e até um namorado, que é coordenador do grupo de jovens.

Ana Karoline, que também tem espírito de liderança, é chamada de “primeira-dama” da turma. Uma forma carinhosa dos amigos em reconhecer o papel que ela exerce no local na organização de encontros e ações sociais. Já preparou discussões sobre o ato de perdoar e o papel das mães na sociedade. “Trabalhamos temas como intolerância e família”, comenta.

No Dia das Crianças deste ano, ajudou a coordenar ação social já tradicional realizada na ocupação Dandara, uma das maiores de Belo Horizonte, no bairro Céu Azul, na região de Venda Nova. Teve oficina de balão e de pintura, atendimento odontológico, corte de cabelo, brincadeiras e entrega de presentes. “Pedimos para todos irem de coração aberto. Chegamos lá pensando em ajudar as pessoas, mas, quando fomos embora, percebemos que recebemos mais do que doamos”, comenta.

No futuro, ela espera unir o aprendizado que está colhendo no curso de farmácia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a ações sociais voltadas para asilos. “Tenho um amor particular por idosos”, conta. Seu desafio diário, segundo ela, é colocar em prática o que Jesus Cristo pediu: amar uns aos outros. “Dentro da igreja é fácil, mas fora é que se exerce”.

FOTO: Mariela Guimarães
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Ana Karoline Sena Mazzinghy
Nascimento: 29.5.1996

“Se o presente é de luta, o futuro nos pertence”. A frase emblemática de Che Guevara está tatuada nos braços de Gabriel Luna, parte no direito e parte no esquerdo, e não poderia traduzir melhor o lema de vida do jovem. Sem exageros, ele literalmente dorme (ou nem dorme) e acorda fazendo política, engajado em alguma ação de resistência. “Precisamos da política, do Estado, para fazer com que nossos direitos sejam alcançados. Por isso que faço luta”, afirma Gabriel. Atualmente, ele participa das ocupações das escolas públicas em Minas e é um dos articuladores do movimento.

Nem casa ele “tem” mais. Desde o primeiro dia do movimento no Estadual Central, há cerca de um mês e meio, ele não volta para a residência em que mora com a mãe, no bairro Caiçara, na região Noroeste. “Minha mãe que vem me ver para matar a saudade”, relata. Mas ele nem sempre teve essa consciência política. Gabriel conta que começou a se empoderar no ano passado, quando fez um curso livre de artes no programa Valores de Minas, do governo do Estado. Em um dos espetáculos feitos pela turma, o objetivo era desconstruir pensamentos sobre racismo, homofobia, lutas de classes e outros temas cotidianos. “Saí de lá completamente diferente, com pensamento crítico”, relembra. Ele sente por não ter descoberto a importância do movimento estudantil antes, ainda na fase escolar, de ensino fundamental e médio. Mas agora ele corre atrás do tempo perdido e compensa em dobro, triplo... Sua primeira ocupação foi no próprio Valores de Minas, em 2015, e, juntos, os alunos conseguiram evitar o fim do programa.

Hoje, ele é secretário geral da União Colegial de Minas Gerais (UCMG), dirigente da União da Juventude Socialista (UJS) e militante da União Nacional (Una) LGBT. Essa última ele também passou a integrar recentemente, depois de anos sem conseguir contar para todos que era gay. “Assumir minha identidade foi difícil em casa, na escola, sofri muito preconceito e repressão”, relembra ele, que já até levou uma cuspida de um aluno do mesmo colégio. Hoje, porém, ele tem consciência de que é preciso lutar e se impor, mas sem exageros para não ser atacado. Seu sonho é fazer teatro de cunho político e batalhar sempre por seus direitos. “Não podemos aceitar a onda de retrocesso e conservadorismo”, completou o militante.

FOTO: Alex de Jesus
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Gabriel Luna
Nascimento: 23.8.1996

A reportagem chegou até Kawany Tamoyos por indicação de jovens. Ela é conhecida na cidade por sua arte e também por atuar em “mil” projetos e causas sociais. Descendente dos índios Maxacali, ela se encontrou muito cedo na pintura e hoje trabalha como ilustradora. “Meus pais sempre me incentivaram a estudar o que eu queria, a experimentar”, relata. Começou a desenhar no papel, depois passou para camisetas e hoje tem seu grafite estampado em vários espaços, como na Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg) e nas paredes de um viaduto da avenida Pedro I, um dos principais corredores de Belo Horizonte.

Já participou também de exposições no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e no Museu de Artes da Pampulha (MAP). As temáticas indígena e feminista são sua inspiração. Em 2013, criou a marca Arte Transborda e vende camisetas e bolsas pela internet, todas feitas de forma artesanal. Já fez vários cursos técnicos e atualmente está no quarto período de design de produtos na Uemg.

Não bastasse tudo isso, ela ainda participa da ocupação da universidade e tem um grupo chamado Coletivando BH, que se mobiliza em rifas e arrecadações para ajudar quem estiver precisando. “É cansativo, amadureci bem cedo. Mas, por ser algo que gosto, por mais cansativo que seja, é o que realmente queria ter feito”.

FOTO: Pedro Gontijo
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Kawany Tamoyos
Nascimento: 13.9.1996

 

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