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'NÃO DEVERIA SER ASSIM'

Única negra da ginástica rítmica lamenta abismo racial na modalidade

Elyane Boal foi convidada para a Olimpíada, terminou a qualificatória individual em último, mas se sente realizada somente por ter chegado onde muitas pessoas de sua cor talvez nunca chegarão

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PUBLICADO EM 20/08/16 - 10h39

Rio de Janeiro. A cor da pele nunca será empecilho para aqueles que têm capacidade de ousar. Em um esporte tradicionalmente excludente do ponto de vista racial, a jovem Elyane Boal, de apenas 18 anos, era o ponto destoante em relação às suas rivais, em grande maioria europeias. Na tarde de ontem, ela foi a única atleta negra a competir nas qualificatórias do All-Around da Ginástica Rítmica, na Arena Olímpica do Rio.

O último lugar na classificação geral, com apenas 38.640 pontos acumulados, poderia abalar a atleta de Cabo Verde, mas estar na Olimpíada já foi para Elyane um grande feito. O sorriso no rosto e a expressão de dever cumprido após receber o carinho do público dava a total certeza disso. Um gesto clássico de quem escreveu seu nome na história. 

"Vim para representar o meu país. É uma sorte estar aqui, isto não acontece a todas as pessoas", afirma Elyane

Na véspera do seu aniversário de 18 anos, a ginasta recebeu o único convite do Comitê Olímpico para representar seu país na modalidade.

"Eu estava em casa e quando vi o e-mail confirmando minha participação fiquei assustada. Estar aqui é o presente de uma vida inteira", diz a modesta menina, surpresa com o carinho do público brasileiro. "Sinceramente, eu não esperava isso. A torcida foi excelente, não contava com tanto apoio assim. O que eu tenho dizer é que todos foram maravilhosos", emenda a ginasta.

O rótulo de única negra não a intimida. Elyane entende que sua participação no Rio pode representar um marco e faz coro para que um dia a sua modalidade seja conhecida pela completa integração entre todos as cores.

"Na Ginástica é mesmo assim. São poucas as ginastas negras nos Campeonatos Mundiais. É algo que tornou-se normal, mas não deveria ser", analisa. "Deveríamos ter mais ginastas de todas as cores, de todos os continentes a disputar competições como esta aqui", completa Elyane, que iniciou na ginástica por intermédio de sua avó. "Se não fosse por ela, hoje eu não estaria aqui", relata.

Ao ver todas as campeãs mundias reunidas, dentre elas as russas Yana Kudryavtseva e Margarita Mamum, a realidade de Elyane torna-se um abismo. "Em Cabo Verde, nós não temos condições de treino, é sempre necessário estar fora para conseguir fazer alguma coisa e é difícil ficar longe da família", lamenta.

Quando retornar ao arquipélago de Cabo Verde, a rotina de Elyane ganhará um acréscimo de responsabilidade. "Vou começar a estudar engenharia", diz. Porém, a futura engenheira não deixará de lado a paixão pelo esporte e o último lugar permanecerá como um prêmio: "Eu acho que o meu objetivo foi atingido", encerra Elyane. Uma medalha que ninguém poderá lhe tomar. 

Rádio Super

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