Agilidade
Ciclomensageiros ganham força em Belo Horizonte
Capital tem ao menos 50 ciclomensageiros, diz sindicato; eles pedalam até 100 km por dia
Até quem não pedala já deve ter reparado que a bicicleta tem ocupado cada vez mais as ruas de Belo Horizonte. No entanto, o que muita gente está descobrindo agora é que, além de ser um meio de transporte saudável e sustentável, as bikes também podem ser instrumentos de trabalho.
Acompanhando a tendência de grandes capitais, a cidade vem consolidando a cultura da entrega por bicicletas. Sobre duas rodas, os chamados bike boys – ou também bike courriers e ciclomensageiros – transportam documentos e produtos pela cidade, muitas vezes mais rapidamente e com menor custo que os tradicionais motoboys e sem poluir.
Vinculados a empresas, cooperativas ou autônomos, os bike boys chegam a pedalar quase 100 km por dia, fazendo serviços de cartório, transporte de documentos e até entrega de produtos como flores, calçados e alimentos. Opção de muitas empresas, o sistema é ágil e pode ser encontrado a preços a partir de R$ 12, que variam conforme a distância percorrida.
Em Belo Horizonte, as primeiras iniciativas de grupos organizados surgiram na década de 90. Embora não exista dado preciso, já que a atividade não é regulamentada no Brasil, o Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas e Ciclistas de Minas (Sindimoto-MG) estima que existam ao menos 50 bike boys na capital.
A procura pelo serviço vem crescendo. Segundo Eveline Trevisan, coordenadora do programa Pedala BH, da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), a cidade já conta cinco ou seis grupos especializados na atividade.
Um dos mais conhecidas é o Dizzy Express. Fundado em agosto de 2013, o grupo funciona como cooperativa, onde 11 ciclistas se revezam, conforme a disponibilidade, na entrega dos produtos.
“Acreditamos que prestamos um serviço diferenciado, que agrega mais do que um simples delivery. Há uma ideia atrelada, de não poluir e não congestionar o trânsito”, diz o programador Gustavo Leal, 31, um dos membros do grupo.
A Transpedal faz serviço semelhante há quase 20 anos. “Além de fazer bem à saúde, não poluimos a cidade e somos um veículo a menos na rua, o que resulta em vários benefícios”, afirma Ítalo Schueler, 38, proprietário da empresa.
Veja o vídeo com integrantes do Dizzy Express:
Adoção do serviço só tende a aumentar
Já consolidado no exterior e em capitais como Porto Alegre, Curitiba e São Paulo, o transporte de documentos e mercadorias por meio da bicicleta tende a crescer, na avaliação do presidente da associação carioca Transporte Ativo, José Lobo. “É um transporte que não faz barulho, não emite poluentes e não impacta a cidade, e consegue cumprir (o serviço) com eficiência”.
Ele ressalta que a entrega por bicicletas é vantajosa para a empresa que presta o serviço, por ter custo de manutenção de frota baixo, e também para quem contrata, que pode contribuir com a preservação do meio ambiente.
Cliente do Dizzy Express há um ano, a floricultura Flora Mangabeiras aprova o serviço. “Além de a opção ser sustentável ambientalmente, tem muito a ver com o nosso produto e o conceito de uma entrega mais personalizada e romântica. E ainda o custo cai em relação ao motoboy”, diz a gerente Carol Guidi.
Autônomo recebe até R$ 200 por dia
Além de Belo Horizonte ter os grupos organizados, a cidade conta também com bike boys autônomos. É o caso de Pedro Moral, 33, que há 15 anos faz entregas de pequenos objetos, como receituários médicos e documentos.
“Eu era um dos que pensava que não dava para andar de bicicleta em Belo Horizonte. Mas hoje vejo que quem pensa dessa forma é porque não começou (a pedalar) ainda”, diz. O ciclista percorre cerca de 60 km por dia para fazer de dez a 15 entregas. O resultado, conta, vai além dos R$ 200 diários que recebe em média: traz mais qualidade de vida.
Saiba Mais
Acionados por telefone ou e-mail, os bike boys fazem coleta e entrega de documentos, pacotes pequenos ou médios, serviços de cartório e compra de passagens. Eles usam capacetes para proteção e mochilas para carregar os produtos. Na capital, uma das empresas mais antigas é a Vip BH, que utiliza bike boys para a entrega de revistas e jornais.
Os custos são calculados conforme a distância percorrida, a urgência da entrega e o tipo de serviço. Na capital, os valores costumam variar de R$ 12 a R$ 20, mas podem chegar também a R$ 40.
A entrega de mercadorias por meio de bicicletas é uma alternativa barata, ecológica e tão ágil quanto o tradicional serviço prestado por motoboys.
Presidente da associação carioca Transporte Ativo, José Lobo acredita que Belo Horizonte tem espaço e demanda para mais bike boys. Segundo ele, em Copacabana, no Rio de Janeiro, é comum padarias, farmácias, pizzarias, açougues e lojas de colchões incorporarem a bicicleta no dia a dia da distribuição, com funcionários próprios.
Ao contrário da atividade de motofrete (motoboy), que tem legislação própria, o serviço de bike boy não é regulamentado no Brasil.
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