10- "Cê"- Caetano Veloso
O disco de 2006 exala várias fases de uma separação; praticamente um manual prático do recém-solteiro(a). Ciúmes, raiva, arrependimento, não -arrependimento...A linguagem mais rock adotada por Caetano neste álbum ajuda a colocar mais peso no que já pode ser bastante pesado.
09- "Sea Change"- Beck
Beck já era considerado uma espécie de gêniozinho dos anos 90, por espalhar em seus álbuns filtros variados (folk, pop, hip hop, funk, soul, etc, etc, etc) sempre com muita competência. Aí, ele solta um disco todo circundando apenas um gênero ("baladas doloridas") e, para muitos, faz sua obra-prima. Muita dor, mas muita classe e beleza se encontram em "Sea Change".
08- "Ladies and Gentleman, We´re Floating In Space"- Spiritualized
A separação de Jason Pierce, líder da banda britânica, foi daquelas publicamente dolorida. Sua então companheira, Kate Ridley, o "trocou" por um colega de classe, digamos assim: Richard Ashcroft, do The Verve. A situação gerou uma obra-prima, dos maiores discos dos anos 1990, onde Pierce parece ter temperado cada canção com as lágrimas que deixou rolar.
08- "Loki?"- Arnaldo Baptista
Um dos maiores discos já gravados em todos os tempos, a crueza emocional de "Loki?" só é aceitável e absorvida porque vêm acompanhada de canções absurdamente marcantes; por vezes dolorosíssimas ("Desculpe"), por vezes com uma leveza que nos faz quase sorrir ("Vou me Afundar na Lingerie"). O eterno Mutante faz-se entender para a eterna Mutante (Rita Lee) em um grau de pessoalidade que nos deixa, ouvintes, atordoados.
07- "For Emma Forever Ago"- Bon Iver
Sujeito leva um pé na bunda. Sujeito se tranca numa casa invernal, cercado pela natureza e pela neve. Sujeito faz uma obra-prima. E da dor do coração partido, o sujeito vira um artista marcante, influente e amado.
Esse sujeito é Bon Iver. Sorte nossa.
06- "Rumours"- Fleetwood Mac
Na mesa do Fleetwood Mac, por volta de 1975, todo dia a sobremesa servida era torta de climão. Não era para menos: os dois casais que então formavam a banda estavam em clima de guerra, conspirações mil, violências e acusações. Como o que faz o bom artista é transformar todas as questões inerentes à vida em boa arte, temos "Rumours", um disco liricamente agressivo, musicalmente perfeito.
05- "Talking Book"- Stevie Wonder
"Talking Book" disputa alguns títulos muito importantes: "É o melhor disco de Stevie Wonder?", "É o melhor disco dos anos 1970?", "É o melhor disco de separação da soul music?"...Talvez nessa última competição o lugar mais alto do pódio está garantido. Apesar da fortíssima concorrência de Marvin Gaye ("Here My Dear") e até mesmo de Amy Winehouse ("Back To Black"), o disco é absolutamente impecável. Tanto que, mesmo no meio de tanta dor de uma separação, Wonder encontra espaço para duas de suas melhores elegias ao amor e sua possibilidade de renovação ("You Are The Sunshine Of My Life" e "I Believe When I Fall In Love It Will Be Forever").
04- "Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos"- Otto
"Há sempre um lado que pesa, e outro que flutua". O pernambucano sumariza muita coisa com poucas palavras. Um disco sufocantemente kafkiano, sobre o fim do amor, como o título promete.
03- "High"- The Blue Nile
Uma pequena grande banda, os escoceses Blue Nile existem desde 1983 e têm na sua discografia parcos quatro álbuns. Todos imperdíveis, aproveitamento total. A voz de Paul Buchanan, um dos mais belos sinatrianos do mundo do pop, é ideal para cantar amores quebrados, perdidos, esvaziados. Para fica numa comparação exagerada (porque a banda suscita esse tipo de paixão), é como uma versão sonora do universo solitário do pintor Edward Hopper.
02- "The Greatest"- Cat Power
Garotas crescidas choram e fazem a gente chorar com elas. Chan Marshall lamenta perder o "maior" amor de todos, mas nos dá de presente o melhor disco de sua carreira.
01- "Blood On The Tracks"- Bob Dylan
"Nós tivemos um desentendimento, como amantes geralmente têm
E ao pensar como ela se foi aquela noite, ainda me traz um arrepio
E embora nos separamos e ela perfurou meu coração
Ela ainda vive dentro de mim, nunca ficamos tão longe assim"
("If You See Her Say Hello")
"As pessoas me dizem que é pecado
Saber e sentir de modo exagerado.
Que ela era minha alma gêmea, tenho acreditado, mas, perdi essa aliança.
Ela nasceu na primavera, mas eu nasci tarde demais
Culpem a simples guinada do destino"
("Simple Twist Of Fate")
"Eu fui enganado agora pela última vez e acho que finalmente vejo
Eu me despedi da besta uivante na fronteira que separa você de mim
Você jamais saberá a dor eu sofri, nem o sofrimento pelo qual eu passei
E eu jamais saberei o mesmo de você, sua santidade ou seu tipo de amor
E isso me faz sentir tão triste"
("Idiot Wind")
... e teria muito mais, todo o disco. Trata-se talvez do maior "disco de separação" de todos os tempos, aquela baliza que guia, mesmo que discretamente, todos os outros discos envoltos nesse tema desde então. Como alguém já disse, Dylan é Shakespeare sintetizado na música pop. E "Blood On The Tracks" é seu momento mais dolorido, mais cru, mais emocionalmente exposto. O resultado só poderia ser uma obra incomparável.