SAÚDE E BEM-ESTAR

Dar uma 'sumida' ou ficar offline são bons métodos de autocuidado

Psicólogo explica a importância de se afastar e focar em si mesmo para recarregar as energias

Por Jéssica Malta
Publicado em 08 de maio de 2024 | 19:00
 
 
 
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De tempos em tempos, a advogada Marina*, 28, se afasta das redes sociais. A medida é uma forma de lidar com a ansiedade e dar uma “sumida” quando sente que precisa recarregar as energias. Com um trabalho que exige o uso constante do celular para a comunicação, seja por ligações e e-mails, seja pelo WhatsApp, ela percebe que, em alguns momentos, não deseja mais abrir o aplicativo fora do horário comercial ou nos fins de semana. “Às vezes, só quero estar no celular para me distrair, sem a obrigação de responder a mensagens. E, então, eu não respondo até estar ok para manter uma conversa. Outras vezes, só quero jogar o celular longe e ir fazer qualquer outra coisa”, confessa, brincando.

O esgotamento mental também contribui para a decisão de dar um tempo, tanto da vida fora das telas quanto dentro delas. “Meu modo de me recuperar internamente é ficando em silêncio, seja por algumas horas, seja estando offline por dias para pensar. Isso, dependendo do que estou passando. Igual a servidor que dá ‘tilt’ e precisa parar para manutenção antes de reabrir o acesso, eu funciono um pouco assim também”, explica a advogada. 

Embora tenha consciência do que a sobrecarrega e das formas pelas quais consegue se recarregar, ela reconhece que os momentos mais introspectivos e de solitude podem ser um desafio para quem convive com ela. “Eu tendo a me comunicar bastante no online e, de uma hora para outra, eu desligo. Na maioria das vezes, não é nada pessoal, só preciso de espaço. Mas já tive problemas em relacionamentos por causa disso”, conta Marina. Ela diz que agora tem tentado melhorar e dar ao menos algum sinal de que precisa sumir temporariamente, mas ainda considera que a compreensão e o respeito à decisão de se afastar acabam sendo um termômetro para medir se ela se sente à vontade para “reaparecer”. “Tenho sorte de conviver com pessoas que respeitam essa minha questão, mas é sempre uma desventura em novos relacionamentos”, reconhece. 

Segundo o psicólogo Igor Hempfling, comportamentos semelhantes ao da advogada são completamente naturais – e mais ainda, também são saudáveis. “Vivemos numa sociedade em que nós mesmos colocamos a opinião do outro em um espaço de poder muito decisivo na nossa vida. Quando você dá ouvidos para o que o outro diz e aquilo tem um poder de decidir a sua próxima ação, as coisas se tornam exaustivas. Ir a uma festa, um churrasco ou outro compromisso mais para agradar aos outros do que a si mesmo é cansativo”, observa. 

Diante deste contexto, tirar um tempo para dar uma “escapada” é recomendável, principalmente porque representa a capacidade de dizer “não” e de colocar o bem-estar como uma prioridade. “É preciso ter um equilíbrio. A opinião do outro é importante, vivemos numa sociedade, convivemos com outras pessoas, então a opinião vai ter um peso, mas não pode ser a ponto de definir todas as decisões na sua vida”, comenta. “Hora ou outra você vai ceder, mesmo não querendo. Mas, se você ceder sempre, abraçar essa opinião, vai viver sua vida de acordo com o outro, e não de acordo com você”, completa. 

Segundo Hempfling, dar uma escapada ou decidir ficar offline por alguns momentos são métodos necessários também para que haja equilíbrio na vida. “Precisamos ter momentos em que não há desgaste mental, trabalho. É preciso ter prazer, descansar. Se não tivermos isso, vamos começar a chegar ao nosso limite”, pontua.

A social media Roberta*, 25, conta que tirar um tempinho para se desligar, principalmente do celular, é parte da sua rotina de descanso. “Trabalho com comunicação e redes sociais. Então, pela configuração do meu trabalho, estou o tempo todo em contato com as pessoas, seja aprovando algum material, alinhando alguma demanda, seja construindo algumas postagens. Fora os dias em que preciso ir aos locais e eventos com os quais atuo, para participar e acompanhar os clientes. Isso tudo é muito cansativo mentalmente, por isso, no final do dia, dou sempre uma sumida”, diz. 

Para poder ter seu tempo, Roberta explica que costuma colocar o celular em outro cômodo e opta por passatempos que não envolvam conversa e interação. “O mesmo acontece nos fins de semana quando não existe nenhum evento ou compromisso. Nesses dias, gosto de acordar cedo, cuidar da casa e ficar quietinha no meu quarto. Às vezes fico vendo algo na TV, outras, jogando um joguinho no telefone ou dormindo”, afirma. Quanto às mensagens no celular, se não são urgentes ou questões relacionadas à família, ela prefere responder em outro momento.

Hempfling reitera a importância dessas escapadas e também da compreensão de que não é possível agradar a todos sempre, então não há nada de errado em optar por não ir àquele churrasco de família, reunião de amigos ou responder a alguma mensagem depois. “Tentamos agradar às pessoas que são mais importantes, mas, acima de tudo, temos que agradar a nós”. 

*Nomes fictícios

 

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