Tecnologia

A coluna e os olhos sofrem

Usar celular olhando para baixo impacta as costas em quase 30 kg; médico pesquisa epidemia de miopia


Publicado em 03 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Dores na coluna e no pescoço em pacientes depois da faixa dos 30 e 40 anos deixaram de ser o padrão dos atendimentos do ortopedista José Otávio Correard Teixeira. Hoje, ele recebe cada vez mais jovens na faixa dos 20 anos ou até mesmo adolescentes – exatamente por causa do hábito constante de usar o celular curvando o pescoço para baixo.

“A posição de mexer no celular olhando para baixo traz um estresse grande para o pescoço e a coluna, que foi projetada para olhar para frente. Quando obriga-se o pescoço a ficar virado para baixo por longos períodos, mantém uma pressão grande oriunda da musculatura. As consequências são o desgaste e a sobrecarga da coluna cervical, que envelhece mais rapidamente”, diz.

Inclinar o pescoço para olhar o celular impactar em quase 30 kg a coluna, conforme estudo publicado na revista científica “Surgical Technology International”. O cálculo foi feito pelo cirurgião americano Kenneth Hansaraj. Ele levou em consideração que uma cabeça humana pesa 5 kg, em média. Porém, esse peso é amplificado caso o crânio seja inclinado para baixo, já que o movimento aumenta a força da gravidade, dependendo do grau de inclinação. Com o pescoço inclinado a 60º, o impacto na coluna do usuário chega a 27 kg.

Preocupado com as deformidades e o aparecimento de lesões discais, hérnias de disco (bicos de papagaio), Teixeira se uniu a um grupo multidisciplinar de profissionais que vai lançar nos próximos dias uma campanha de prevenção dos riscos derivados do mau uso da coluna, especialmente por conta dos aparelhos eletrônicos. “Cerca de 80% das dores de cabeça, que as pessoas atribuem à enxaqueca, vêm de problemas na coluna cervical. É importante se lembrar da prevenção. Depois que o problema se instala, não tem como reverter, e o tratamento muitas vezes acaba dependendo só de cirurgia”, diz.

O médico ensina a forma correta de usar o smartphone: “Mexer no aparelho olhando para baixo deve ser apenas para atividades momentâneas, como digitar um número. Para leituras mais demoradas ou para a troca de mensagens, a posição ideal, de frente para uma mesa, apoiar o cotovelo e segurar o smartphone na frente dos olhos”.

Estudos conduzidos pelo médico britânico David Allamby mostram que o número de jovens com miopia no Reino Unido subiu 35% desde o lançamento do primeiro smartphone. Ele aponta dois motivos: primeiro, seguramos os dispositivos muito mais próximos aos olhos do que, por exemplo, revistas ou livros – entre 18 cm e 30 cm contra 40 cm, respectivamente. Segundo, passamos muito tempo mexendo neles.

O médico britânico prevê que, em 20 anos, entre 40% e 50% das pessoas de 30 anos terão miopia por causa do uso do smartphone. Ele considera uma situação epidêmica, batizada de “screen sightedness” – algo como “miopia de tela”.

 

Por que ‘iGenes’

Um rótulo geracional precisa capturar algo sobre a experiência da geração, e, para os iGenes, a internet e os smartphones definiram muitas de suas experiências até agora – assim, o nome iGen, como iPhones e iPads”, diz a professora de psicologia da Universidade Estadual de San Diego Jean Twenge. A revista “AdvertisingAge” apoiou o iGen como melhor nome para os“pós-millenials”.


Relato

Minha filha não larga o celular. É uma luta em casa’

A auxiliar administrativa, Karina Molinari, 39, está preocupada com o uso excessivo do celular pela filha Júlia, 15. “Ela não larga o celular. Chega da escola, já pega e fica só com ele”. Para Karina, as relações interpessoais, principalmente dentro de casa, ficam comprometidas. “É uma luta lá em casa.

A Júlia é daquelas que comem usando o celular. Sinto que ela conversa pouco com a gente; o tempo que temos para conviver ela perde com o celular”, relata.

A mãe diz que a filha sai pouco de casa e convive pouco com os amigos. “Hoje os adolescentes, não só minha filha, conversam mais pela internet e esquecem de conviver pessoalmente, deixando de lado muitas coisas produtivas da juventude”, afirma. A mãe chegou a desligar a conexão da internet para diminuir o uso.

A adolescente admite que gosta bastante de usar o smartphone, mas diz que tenta deixá-lo um pouco de lado quando a mãe pede. “Às vezes deixo de mexer um pouco e vou à sala conversar”, conta a jovem, mas ressalta: “A maior parte do meu tempo estou nas rede sociais.” Ela ainda comenta que gosta de ler, então divide o celular com os livros. “Gosto de livros de séries, às vezes leio no celular, outras no livro de papel”. (Franco Malheiro)

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