Conectados

Aplicativo de paquera junta quem gosta de odiar na internet

Usuários indicam tópicos que desgostam, e sistema une interesses em comum em busca do ‘match’


Publicado em 05 de maio de 2017 | 03:00
 
 
 
normal

Um novo aplicativo de paquera propõe a união não pelo amor, mas pelo ódio. A proposta do Hater, que chegou neste ano ao mercado brasileiro, é fazer com que seus usuários encontrem parceiros que odeiem exatamente as mesmas coisas: uma banda, um político malfalado ou um filme, por exemplo. No mundo, 500 mil pessoas já se conectaram à rede.

Para coincidir os perfis, o aplicativo faz perguntas sobre alguns pontos populares. São mais de 3.000 tópicos disponíveis para o usuário classificar se “ama”, “odeia”, “curte” ou “não curte”. O sistema, então, combina quem tem “desgostos” em comum, e cabe ao usuário mostrar interesse em alguém e esperar por um “match” (o que seria a formação do par). Se for correspondido, é só começar o bate-papo.

Velho conhecido da internet, o “hater” – algo como “odiador”, em inglês – é aquela pessoa que faz críticas a diversos temas na internet, podendo ser alguém sarcástico ou até mesmo agressivo.

Odiar alguém ou alguma coisa é, de fato, inerente ao ser humano, explica a psicóloga Beatriz Brandão, mestranda em psicologia analítica pela PUC-SP. “O hater é aquela figura que gosta de trazer isso (o ódio) à tona, de expor e, geralmente, de uma maneira reprovável, pois é, na maioria das vezes, agressiva, incisiva e desrespeitosa”, considera.

A especialista atenta que o hater se apresenta como uma figura solitária, por mais que mantenha contato e interaja com seus semelhantes – como no caso do aplicativo de paquera. É nesse ponto, segundo Beatriz, que mora a diferença entre o hater e os grupos de ódio. “Eles são organizados, têm nome, são articulados. Já o hater usa o anonimato e não é organizado no sentido de alcançar determinado objetivo. Basicamente, os membros desses grupos querem dominar, enquanto o hater só pode atacar ou se defender por meio de sua opinião”, comenta Beatriz.

Para ela, um aplicativo para compartilhar ódios em comum é um sintoma natural, que vai ao encontro dessa necessidade do hater de saber que sua opinião foi vista e que pode ser até difundida. Mas é preciso cautela. “O grande ponto é como se odeia algo ou alguém e a forma como essa posição é transmitida. Esse tipo de engajamento virtual pode levar ao desenvolvimento de um grupo homogêneo de ódio em algum momento, e é aí que precisamos estar de olhos abertos”, alerta.

Vítimas. Os irmãos Denis e Pablo Batista, administradores da página de humor BH da Zueira, com mais de 360 mil curtidas no Facebook, já experimentaram a ação dos “odiadores” virtuais.

“Tem muita coisa que não gostamos nem concordamos, mas encontramos no humor uma forma de colocar para fora nossa opinião sem desrespeitar ninguém. Evitamos falar de religião, política e até futebol”, afirma Denis.

Porém, esse cuidado não foi o suficiente para impedir que haters, com o uso de fakes (perfis falsos), realizassem ataques. “Eram comentários nas publicações com conteúdo de deboche ou mensagens privadas que nos agrediam. Descobrimos os responsáveis e ameaçamos entrar na Justiça, mas eles pararam”, explica.

Sistemas. O aplicativo de paquera Hater chegou ao Brasil em fevereiro e já está disponível para iOS (iPhone). A previsão é que seja lançado para o sistema Android até o meio do ano.

Perfil se adapta às novas tecnologias

De acordo com a professora Joana Diller, do curso de comunicação social da UFMG, o fenômeno dos haters já é tradicional na internet e vai adaptando-se às novas tecnologias.

“Os haters são bastante ativos em ambientes virtuais, como fóruns e locais de discussão. As redes sociais também dão espaço para eles, de forma mais restrita. Enquanto a maioria (das redes) disponibiliza reações positivas ou vela as opiniões mais negativas, talvez a que mais se aproxime desse aplicativo – Hater – seja o YouTube, no qual o internauta tem a opção do ‘dislike’ (não gostar) e de comentar abertamente os vídeos”, explica.

Segundo ela, uma das marcas da era digital é a possibilidade praticamente infinita de ação, diferente da comunicação tradicional. Há sempre espaço para as mais diversas formas de entretenimento e interação, independentemente do tipo de assunto ou grupo social.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!