Rio de Janeiro. Ao constatar que o número de obesos no Rio de Janeiro e no Brasil é cada vez maior, a direção do cemitério da Penitência, na zona Norte do Rio, decidiu explorar um novo segmento do mercado funerário: passou a oferecer jazigos mais espaçosos, capazes de comportar pessoas com até 500 kg.
O jazigo especial tem 2,27 m² a mais que o tradicional e, caso seja necessário, pode receber urnas com até 1,20 m de altura. Sem essa opção, pessoas obesas geralmente eram enterradas em covas rasas (cavadas diretamente no solo). Só em casos específicos a sepultura sofria adaptação.
Segundo o gerente do cemitério, Alberto Brenner Júnior, a decisão de construir jazigos especiais foi tomada após análise de estatísticas do Ministério da Saúde, segundo as quais o número de obesos no país aumentou 50% nos últimos anos. O número de pessoas com sobrepeso, estágio anterior à obesidade, cresceu 23%.
“O Brasil está se tornando um país de obesos. Não podemos fechar os olhos para essa necessidade”, argumentou Brenner Júnior.
Situadas em área nobre, perto da entrada, cada sepultura para obesos ocupa o espaço de dois jazigos tradicionais. O cemitério está capacitado para realizar até dois enterros simultâneos de obesos. No ossário cabem 12 urnas. Revestida em granito, cada sepultura custa R$ 74,9 mil, que podem ser parcelados em até 18 vezes – um jazigo tradicional na mesma área do cemitério custa R$ 54,9 mil. As primeiras seis unidades foram colocadas à venda há um mês. Por enquanto, ninguém comprou. “Mas várias famílias se interessaram”, disse Brenner Júnior.
Exemplo. O gerente conta também que é comum haver dificuldades na hora do enterro, em função da obesidade do morto. “No último fim de semana vivenciamos isso: o filho velava a mãe em outro cemitério, onde o corpo estava em urna especial, com 98 cm de largura e 53 cm de altura. No tal cemitério não havia unidades com medidas especiais e o enterro teria de ser feito em cova rasa. Mas o filho prometera à mãe que não a sepultaria nesse tipo de cova. Ele nos procurou e fizemos um acordo: vendemos uma unidade tradicional e arrendamos uma com medidas especiais, onde a mulher foi sepultada”, afirmou o gerente.
“Daqui a três anos o corpo será removido para a unidade tradicional”, explicou. “A família ficou muito agradecida, pois conseguiu realizar um sepultamento digno”, acrescentou Brenner Júnior.
Cadeiras
Belo Horizonte. A capital mineira prevê, desde 2001, a existência de poltrona ou cadeira especiais para pessoas obesas em cinemas, teatros, bibliotecas, ginásios esportivos, casas noturnas, restaurantes e plenários da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Reino Unido e EUA também se adaptam
O cemitério carioca é o primeiro brasileiro a oferecer jazigos para obesos, mas a tendência é mundial. Os Estados Unidos fazem caixões para pessoas com até 360 kg há mais de 30 anos. Atualmente, existem caixões, covas e até mesmo carros funerários adaptados para o público mais pesado. “As pessoas hoje são maiores e, quando morrem, têm um tamanho maior. A indústria tem que se adaptar a essa situação”, explicou Allen Steadham, diretor executivo da International Size-Acceptance Association, ao “The New York Times”, ainda em 2003.
O Reino Unido também está se adaptando. O condado de Lincolnshire anunciou, no fim do ano passado, a construção de um setor para obesos em seu cemitério.
Flash
Problemas. Em locais onde não há a opção de jazigos para obesos, enterros são improvisados. Em Campo Grande, em 2013, um homem de 380 kg teve que ser levado por uma retroescavadeira até a cova.