Nova York, EUA. Pesquisadores descobriram que algumas pessoas não conseguem evocar imagens mentais – é como se os olhos de sua mente fossem cegos. Neste mês, no jornal “Cortex”, essa condição recebeu um nome: afantasia, baseada na palavra grega fantasia, que Aristóteles usou para descrever o poder de montar imagens visuais em nossas mentes.
Para mim, pesquisas como essa são irresistíveis. Elas me levam a pensar em maneiras de experimentar a vida que são radicalmente diferentes da minha e me oferecem pistas de como a mente funciona.
E, nesse caso, tive uma pequena participação na descoberta. Em 2005, um inspetor de prédios aposentado de 65 anos visitou o neurologista Adam Zeman na Escola de Medicina da Universidade de Exeter. Depois de uma pequena intervenção cirúrgica, o homem – a quem Zeman e seus colegas chamam de MX – percebeu de repente que não podia mais formar imagens em sua mente.
Zeman não conseguiu encontrar nenhuma descrição desse tipo de condição na literatura médica. Mas ficou intrigado com o caso de MX. Por décadas, os cientistas debateram como os olhos da mente funcionam e quanto confiamos neles para guardar memórias e fazer planos para o futuro.
MX concordou em fazer vários exames. Ele provou ter uma boa memória para um homem de sua idade e se saiu bem em testes relacionados à solução de problemas. Sua única característica incomum foi a incapacidade de formar imagens mentais.
Zeman e seus colegas escanearam o cérebro de MX enquanto ele fazia algumas tarefas. Primeiro MX olhou para rostos de pessoas famosas e disse seus nomes. Os cientistas descobriram que algumas regiões do cérebro se tornaram ativas, as mesmas que são ativadas quando outras pessoas olham rostos.
Então, os cientistas mostraram nomes a MX e pediram que ele pensasse em seus rostos. Em cérebros normais, algumas daquelas regiões que reconhecem as faces se tornam ativas novamente. No cérebro de MX, isso não aconteceu.
Paradoxalmente, no entanto, MX pôde responder a perguntas que pareciam requerer que os olhos da mente estivessem funcionando. Ele era capaz de dizer aos cientistas a cor dos olhos de Tony Blair, por exemplo, e dar o nome das letras do alfabeto que possuem rabichos pendurados, como o g e o j. O teste sugere que seu cérebro usou alguma estratégia alternativa para resolver problemas visuais.
Depois que encontrei o estudo de MX, em 2010, escrevi sobre o assunto. E então algo incrível aconteceu: descobri que MX não estava sozinho.
“Passei minha vida inteira explicando para as pessoas que não penso visualmente”, escreveu um leitor. “Não posso evocar imagens mentais de uma pessoa ou de um lugar nem se for para salvar minha vida”.
À medida que mais e-mails chegavam, fiz a única coisa que poderia ter feito: eu os mandei para Zeman. Acontece que ele e seus colegas também passaram a receber mensagens de pessoas que acreditavam sofrer do mesmo problema. Os cientistas resolveram fazer um estudo formal das pessoas que estavam mandando as mensagens.
Eles responderam aos e-mails com um questionário montado para investigar os olhos da mente. No final, receberam 21 respostas. Entre as questões, os estudiosos pediram às pessoas para imaginar coisas como um pôr do sol.