A preocupação com dinheiro pode aumentar, em 13 vezes, o risco de se ter uma doença cardíaca. A descoberta foi apresentada no 18º Congresso Anual da Associação Sul-Africana do Coração. Outro resultado impactante é que a preocupação financeira pode deixar o trabalho seis vezes mais estressante.
O estudo foi feito por uma equipe de pesquisadores da Universidade do Witwatersrand, em Joanesburgo, África do Sul. Ao todo, foram entrevistadas 106 pessoas, que deram entrada em um grande hospital público em Joanesburgo por esse motivo.
Como contrabalanço, um grupo de controle – também com 106 componentes, mas saudáveis – foi criado. Eles precisaram preencher um questionário sobre seu bem-estar psicológico, com perguntas sobre depressão, ansiedade, estresse, estresse relacionado e estresse financeiro.
Para avaliar e medir a experiência de cada uma dessas condições, as respostas dos participantes foram divididas em quatro categorias: sem estresse financeiro; estresse financeiro leve; estresse financeiro moderado; e estresse financeiro significativo.
Os pesquisadores calcularam as correlações entre as pontuações dos dois grupos e a incidência de um ataque cardíaco. Daqueles que infartaram, 96% contaram ter experimentado algum nível de estresse e 40% disseram ter níveis severos de estresse. As pessoas que relataram estresse financeiro significativo foram 13 vezes mais propensas a ter um ataque cardíaco do que aqueles que tiveram estresse mínimo ou nenhum.
Atenção. O alerta vai além das pessoas que já infartaram. Segundo a cardiologista Celsa Maria Moreira, professora de pós-graduação da Faculdade Ipemed, quem nunca sofreu ataque cardíaco não está fora de perigo. “Consideramos o estresse financeiro como um fator de risco primário, ou seja, ele pode comprometer indivíduos que nunca tenham infartado na vida”, diz ela. “Para quem já teve, ele se torna um fator de risco secundário”, explica.
A médica esclarece o que acontece no organismo durante esse processo. “O estresse repetitivo aumenta o nível de adrenalina no organismo. A adrenalina mais presente na circulação sanguínea provoca os espasmos coronarianos, isto é, quando a artéria fecha e abre de forma ininterrupta. Isso faz com que o sangue não seja bombeado corretamente a regiões que deveriam ser irrigadas”, define a especialista.
Corpo e mente. O mesmo estudo constatou que as pessoas que tiveram depressão leve, moderada ou grave no último mês tinham três vezes mais tendência a sofrer um ataque cardíaco.
Recado. “Ter atenção plena no momento presente e praticar atividade física (o estresse é combatido pela endorfina e por outros hormônios produzidos durante os exercícios) reduz 25% o risco de infarto. Caminhar por 40 minutos, quatro vezes por semana, já ajuda muito”, orienta a cardiologista Celsa Moreira.
Preocupação com o dinheiro piora entre meio e fim de mês
Quando chega o dia 15 de cada mês, a jornalista Júlia Oliveira, 32, sofre em excesso. Pontualmente. A situação para ela piora porque o avô faleceu devido a um ataque cardíaco e a mãe sofre de pressão alta. “Afeta meu sono, meu humor, meu apetite, fico me sentindo meio perdida, até insegura mesmo”, afirma.
No trabalho, o estresse financeiro influencia diretamente. “Fico desmotivada. Cada dia que passa, fico pensando em possibilidades para ganhar mais dinheiro. Mas não é só no emprego, afeta todo os âmbitos da minha vida”, comenta.
Júlia conta que, além da falta de sono e de apetite, desenvolveu uma úlcera nervosa por conta da preocupação. Ela acredita que isso tenha acontecido por causa de outra preocupação: o filho de 12 anos. “Todos os dias eu me lembro que, por ter um filho, tudo acaba ficando mais tenso do que já é”, declara.