Problemas no fígado costumam ser popularmente associados exclusivamente ao consumo excessivo de álcool, mas a obesidade e uma alimentação carregada em carboidratos também sobrecarregam o órgão e podem causar dano hepático, além de aumentar o risco de doença cardíaca.
A esteatose hepática (excesso de gordura no fígado) e a esteato hepatite não alcoólica (doença muito semelhante à causada pelo álcool) são sinais de que o órgão está sob “estresse metabólico”, de acordo com o médico Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia.
No país, o problema é mais comum do que se imagina. Mais ou menos 10% das pessoas que têm esteatose desenvolvem a forma mais grave, a esteato hepatite – doença carcinogênica (potencial cancerígeno). “Cerca de 35% da população adulta tem esteatose, portanto, 3,5% vai ter esteato hepatite. Cifra altíssima que chega a 7 milhões de pessoas no Brasil. Se compararmos com a hepatite C, que acomete 2 milhões de pessoas, é quase três vezes o volume de pacientes”, diz.
Essas condições mostram que o órgão está dando um aviso de alerta. “Significa que o fígado ‘aqueceu as turbinas’ e está produzindo mais gordura (triglicérides) do que sua capacidade de exportá-la. Então, ele guarda essa gordura”, ressalta Paraná.
Porém, o médico alerta que o fígado doente sofre calado. “Não dói, não deixa a boca amarga, não mancha a pele, não dá azia. A única maneira de ter o diagnóstico precoce é fazer um check-up com exames clínicos e de sangue”, diz.
Fatores de risco. As pessoas com maiores chances de desenvolver a “doença do fígado gordo” são os indivíduos obesos e com gordura acumulada no abdômen. Mas esse problema pode surgir também em pessoas magras e que tenham o colesterol “bom” – HDL – baixo, mas o colesterol total alto, triglicérides elevado, hipertensos, com diabetes ou pré-diabetes.
Outros fatores também podem desencadear o problema, como o efeito sanfona (indivíduo que engorda e emagrece com frequência) e o uso de suplementos alimentares ou “chás emagrecedores” (erva-cavalinha, chá verde, espinheira-santa e espirulina).
Alimentos ricos em frutose como algumas barrinhas de cereais, mel de milho, refrigerantes e maus hábitos alimentares também são condenados pelo médico. “Quem não come nada pela manhã, não ativa o metabolismo matinal, e depois faz uma refeição pífia, e janta na hora de dormir é um exemplo. Isso faz com que o organismo libere uma série hormônios que vão funcionar à noite, quando o corpo não gasta energia”, explica.
Álcool. Pessoas que consomem acima de 40 g de álcool por dia ou 280 g por semana – mais ou menos 5 L de cerveja ou oito garrafas grandes – caem na faixa de risco, podendo acelerar o aparecimento da esteato hepatite, afirma Paraná.
A hoteleira e cozinheira Mariana Ferreira Borges, 33, teve o primeiro diagnóstico de acúmulo de gordura no fígado aos 20 anos, mas só foi dar a devida importância depois que outros problemas começaram a aparecer.
“Nunca tive hábitos saudáveis, mas esse foi o sinal vermelho. Estou fazendo reeducação alimentar com uma nutricionista que cortou carboidratos, álcool, gordura e açúcar. Já estou treinando com personal, mas ainda vou fazer o exame que vai determinar a extensão do danos no tecido hepático”, diz.
Nutrição
Dieta low carb pode reverter dano hepático
A literatura científica indica que quanto mais proteína e menos carboidrato na dieta, menos casos de esteatose, diz a nutricionista Lara Nesteruk. Segundo ela, um erro muito comum é os médicos orientarem o paciente a cortar a gordura da alimentação, mas são “inúmeros” os casos clínicos de pacientes com regressão total da esteatose apenas com alimentação “low carb” (sem uso de medicação) em pouco tempo.
“O que faz mal é o excesso de carboidrato, principalmente da sacarose (açúcar contido nos industrializados). O que causa esteatose é a conversão do excesso de glicose em triglicerídios”, afirma. (LM)
Flash.
Escolhas. Os carboidratos são fonte de energia, por isso, não devem ser completamente banidos do cardápio, segundo Paraná. “Os mais complexos encontrados nas raízes (batata e tubérculos) são ótimos.
Os de mais fácil absorção (açúcar e amido) podem ser evitados”, diz.