Atividade

Idosos se envolvem com arte e impulsionam a autoestima 

Entre os benefícios estão aumento na confiança e sensação de realização


Publicado em 04 de abril de 2014 | 03:00
 
 
 
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Nova York, EUA. Fazendo uma pausa em meio a uma pincelada, Vincent Cass se reclina na cadeira de rodas – com o pincel entre os dedos – e fala sobre a vida e a arte. “Algumas pessoas são muito boas nisso”, afirmou, apontando para a tela, a paleta de tinta acrílica e o resto dos equipamentos de pintura ao seu redor. “Acontece um clique, mas muitas vezes esse clique só acontece em outro momento da vida”.

As cores ousadas da obra expressionista abstrata que ele está criando parecem confirmar essa afirmação. Cass é um cabeleireiro aposentado – especialista em tinturas para o cabelo – que já foi dono de salões de beleza em Nova York, nos Estados Unidos. Porém, um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quando ele se preparava para se aposentar o deixou paralisado em 2012.

Agora, vivendo na Casa Hebraica de Riverdale, nos EUA, – onde aulas de belas artes são uma atividade popular entre os quase mil moradores – ele descobriu, aos 77 anos, um talento que desconhecia até então.

Na qualidade de um artista que começou tarde, Cass representa um número crescente de idosos que voltaram ao estúdio de pintura ou de escultura – ou que descobriram um novo local de trabalho e uma nova paixão.

A ideia de pintores e escultores que começam a trabalhar em um momento posterior da vida não é nova. “Artistas geralmente não se aposentam”, afirmou Gay Hanna, diretora executiva do Centro Nacional de Envelhecimento Criativo em Washington, uma ONG afiliada à Faculdade de Medicina e Saúde da Universidade de Washington, que promove cursos de artes criativas para idosos. Um bom exemplo é Claude Monet, que pintou algumas de suas melhores obras com mais de 80 anos e com catarata.

Mas e as pessoas que não são famosas – ou que, como Cass, nunca haviam feito parte do mundo das artes até se tornarem idosos? A criação artística beneficia as pessoas mais velhas?

“A arte traz novas perspectivas”, afirmou Gay. “Para os idosos cujos mundos frequentemente estão encolhendo, isso é muito bom; serem abertos, livres, engajados e valorizados. E as artes certamente podem fazer tudo isso por você”. Ainda assim, admitiu a diretora, “não existem muitos ensaios clínicos que comprovem esses dados”.

Autoconfiança. Uma das poucas pesquisas sistemáticas dos benefícios da arte para os idosos foi publicada pela Fundação de Saúde Mental da Grã-Bretanha em 2011. O levantamento observou os resultados de 31 estudos realizados entre 2001 e 2011, envolvendo 2.040 voluntários. A principal autora da pesquisa, Joanne McLean, resumiu algumas das descobertas: “O envolvimento com as artes resultou em um aumento na segurança e na autoestima, bem como nos sentimentos de realização e na oportunidade de assumir aspectos novos e positivos da identidade pessoal e de seu papel após a aposentadoria”.

Ainda que as artes possam ter um efeito positivo nos idosos, pessoas mais velhas são especialmente adaptadas às artes. Na verdade, há quem diga que os idosos têm as condições ideais para a expressão criativa de formas que os mais jovens não são capazes.

“Os adultos mais velhos são capazes de se concentrar com muito mais intensidade, o que é realmente fundamental para a prática das belas artes”, afirmou Francine Toder, psicóloga clínica. “Os idosos conseguem fazer isso por mais tempo e conhecem o significado da frustração, de forma que não desistem e fazem escândalo como uma criança pequena”.

Os idosos também possuem uma qualidade fundamental para qualquer artista: a sabedoria.

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