A tecnologia está nos deixando míopes. O uso intensivo de computadores e dispositivos eletrônicos tem sido apontado como uma das principais causas do aumento do número de pessoas com esse problema de visão no Brasil e no mundo. Além dos métodos já conhecidos, como óculos e lentes de contato, agora quem não enxerga de longe tem outra opção: a ortoceratologia.
O nome é complicado, mas a técnica é relativamente simples. “São adaptadas lentes de contato rígidas em pacientes míopes para uso, em geral, apenas noturno. São lentes com um desenho chamado ‘curva reversa’ – mais planas no centro em relação à periferia”, explica a oftalmologista Bárbara Vargas, do Hospital de Olhos Rui Marinho.
Segundo a médica, essas lentes pressionam a córnea, fazendo com que ela mude seu formato, mudando também o ângulo de formação da imagem dentro do globo ocular. O resultado é a correção da miopia.
Para o funcionário público Edmar Reni Anísio, 28, a ortoceratologia foi a solução para seus problemas. Ele queria fazer um concurso para a Polícia Militar, mas não seria aprovado por conta de seus 3 graus de miopia.
“Comecei a usar as lentes no fim de agosto de 2015. Agora já estou com menos de 0,5 graus. Não uso óculos ou lentes de contato normais desde a segunda semana do tratamento”, comemora ele, que foi aprovado no concurso.
A técnica também é uma alternativa para quem quer se ver livre dos óculos, mas não tem indicação para uma cirurgia corretiva de miopia. “Não é todo olho que pode ser operado. Se a pessoa tiver a córnea muito fina, ou se o grau ainda não estiver estável, a cirurgia não é indicada”, orienta a oftalmologista Valéria Couto, do Centro Oftalmológico de Minas Gerais.
Constante. Ao contrário da cirurgia, que tem um resultado permanente, a ortoceratologia é um método reversível. Isso quer dizer que, se a pessoa parar de usar as lentes à noite, sua córnea volta a ter o grau que tinha antes do início do tratamento. Assim, a ortoceratologia não pode ser considerada como uma “cura” para a miopia, mas sim uma forma de controle.
A técnica tem alguns poréns: pessoas com mais de 4 graus podem não ter a correção completa do problema, e as lentes não estão disponíveis na rede pública, nem pelos planos de saúde. O custo médio do tratamento é de R$ 5.000.
Terapia pode interromper o problema de vista em crianças
A ortoceratologia também tem sido uma alternativa para o tratamento de crianças que começam a desenvolver a miopia ainda muito pequenas. Esse problema ocular, normalmente, evolui até o paciente atingir cerca de 22 anos. Quanto antes ele começa, mais graus a pessoa pode chegar a ter.
“Existem alguns estudos que mostram que a miopia para de evoluir (com o uso da ortoceratologia). Então, nós conseguimos estacionar o grau dessa criança. Quando ela parar de usar as lentes, voltará a ter o mesmo grau de quando começou”, explica o oftalmologista Cléber Godinho, que é chefe do serviço de oftalmologia do Instituto de Olhos de Belo Horizonte (IOBH) e presidente da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato.
O médico explica, ainda, que, ao chegar na idade em que seu grau já estiver estabilizado, o paciente poderá optar por fazer ou não a cirurgia corretiva (caso tenha indicação para isso).
Contudo, é fundamental saber que boa parte dos casos de miopia em crianças pode ser prevenido. Como uma das maiores causas atuais é o uso excessivo de computadores e dispositivos eletrônicos, regular a quantidade de horas que as crianças passam com esses aparelhos é o primeiro passo para evitar que elas desenvolvam um problema na vista.
“Crianças de até 3 anos não devem mexer com computador, tablets ou smartphones, e devem ter, pelo menos, quatro horas de atividade ao ar livre para não fortalecer o músculo dos olhos. Esse fortalecimento irá causar a miopia mais para a frente”, orienta o médico”.