Mais conhecido por garantir uma pele jovem por mais tempo, amenizando rugas e marcas de expressão, a toxina botulínica – o botox – também é uma aliada no combate à enxaqueca crônica – quando ocorre oito ou mais crises por mês, durante mais de três meses. Esse tratamento pode beneficiar cerca de 4 milhões de brasileiros que sofrem com a doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O neurologista Henrique Carneiro, membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, explica que o botox combate a substância chamada de CGRP – que causa a dor e a inflamação na região do córtex cerebral –, impedindo que ela seja fixada nessa área e influencie os neurônios. O processo terapêutico dura entre seis e oito meses, com a aplicação de uma injeção mensal. Cada sessão custa a partir de R$ 800.
As principais áreas onde o produto é aplicado são testa, têmpora, pescoço, nuca e ombros. A duração dos efeitos depende de cada paciente, mas a aplicação do botox pode ser feita durante toda a vida.
Como é preciso investigar a origem da enxaqueca, Carneiro afirma que o paciente passa por uma avaliação para verificar a possibilidade de adesão ao tratamento. “Analisamos o histórico médico do paciente, já que não há um exame específico para detectar a doença, sendo uma constatação apenas clínica”, diz.
Segundo o especialista, os resultados das aplicações são significativos. “Tenho pacientes que ficaram sem ataques de enxaqueca crônica por vários meses ou simplesmente não apresentaram mais sintomas”, afirma.
Foi o que aconteceu com a economista Luciana Prates, 37. Diagnosticada com cefaleia crônica aos 17 anos, ela iniciou o tratamento em setembro do ano passado. “Sempre convivi com a doença, mas ela piorou muito desde 2014. Pelo menos duas vezes por mês eu ficava sem ir ao trabalho por causa das crises mais severas. Tentei todas as terapias existentes, e nada funcionava”, conta.
Ela relata que, após um episódio grave, no qual ficou dias sem sair de casa, o marido descobriu na internet a terapia com botox. “Eu me encontrei com o médico e, na primeira consulta, já recebi a primeira dose. Senti a diferença duas semanas depois, quando as dores mais fortes simplesmente pararam”, afirma Luciana, que até o momento teve apenas duas crises mais sérias após o início das aplicações.
Porém, o neurologista André Carvalho, professor da faculdade Ipemed, ressalta que o tratamento só é indicado para pessoas que sofrem com a enxaqueca crônica. “O botox não causa efeitos em outros tipos de dores de cabeça, apenas na cefaleia crônica por causa das características”, afirma.
O especialista destaca que, apesar de não haver contraindicações, o ideal é que o procedimento seja feito a partir dos 18 anos.
Mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 75% da população mundial (entre 18 e 65 anos) sofre com dores de cabeça. Ao todo, são mais de 200 tipos de cefaleia registrados.
Pesquisas
Mutação em gene pode ser a causa
As causas da enxaqueca ainda são muito investigadas por médicos e cientistas. Entre os estudos que apontam avanços na área está um trabalho divulgado em 2013 na revista norte-americana “Science Translational Medicine”.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, identificaram o primeiro gene cuja mutação está associada à forma mais comum de enxaqueca. No laboratório, foi observado que a alteração do chamado CKIdelta afeta a produção da proteína quinase CK2, responsável por atividades vitais do cérebro atingidas pela doença.
Os cientistas chegaram aos resultados após um estudo genético com duas famílias em que a enxaqueca é comum. Os cientistas descobriram que a maioria das pessoas que têm o distúrbio possui o gene mutante ou tem pais que o tinham.