Comecei a tomar antidepressivos aos 18 anos, porque me sentia muito pressionada na época do Vestibular. Depois de entrar na faculdade, parei de tomar os remédios e aos 21 anos tive minha primeira crise depressiva. Durante a faculdade, eu trabalhava sozinha com uma pessoa muito exigente, em um lugar fechado, não conversava com muitas pessoas. Essa situação propiciou que a depressão piorasse. Não tinha vontade de fazer nada e cheguei a perder 9 kg em pouco mais de um mês.
Um dia, nessa época, fui trabalhar e, quando cheguei em casa, falei para minha mãe que ia entrar no quarto, fechar tudo e não sair mais de lá. Nesse momento, ela entendeu que precisávamos procurar ajuda. Comecei a ir a psiquiatras, mas o processo de tratamento para a depressão é muito penoso. Existem vários remédios, com atuações diferentes e, até você acertar com um que te faça melhorar, é um processo longo e, muitas vezes, frustrante. E, como o meu problema não se resolvia, também fui trocando de médicos. Passei por uns quatro ou cinco psiquiatras antes de chegar ao médico com quem me consulto hoje. Por fim, deixei um formulário de anamnese já preenchido no e-mail para não ter que ficar repetindo sempre a mesma história.
No meio da faculdade, eu já me sentia melhor, mas ainda não estava bem. Em 2007, tive uma outra crise tão forte, que cheguei ao ponto de ter que ir para o banheiro do trabalho chorar para aliviar a angústia. Várias vezes, pedi para Deus me levar. Não tinha coragem de me matar, mas entendia perfeitamente os motivos que levam alguém a tirar a própria vida. O que eu mais fazia nessa época era rezar, pois sabia que não havia mais nada que eu pudesse fazer. Um dia, liguei para minha médica na época, dizendo que não aguentava mais viver daquele jeito. A resposta que ouvi foi "não há mais nada que eu possa fazer por você. Tudo o que estava ao meu alcance, eu já fiz".
Decidi procurar um médico que fosse referência no tratamento da depressão em minha cidade. Cheguei ao consultório dizendo que, se fosse para continuar vivendo daquele jeito, eu não queria mais. Ele, então, começou com um tratamento mais intensivo, com medicamentos atacando em mais de uma frente. Aí comecei a melhorar mesmo. Depois de passada a crise, conseguimos encontrar o medicamento que tomo hoje, que me faz sentir realmente bem.
O remédio, contudo, não me impede de sentir tristeza. Recentemente, tive problemas pessoais que me deixaram muito triste. Mas isso é diferente de depressão. Estando triste, eu consigo trabalhar, consigo rir de coisas engraçadas, ter prazer nas coisas. Sem o remédio, não.
Convivendo com a depressão, aprendi que é um problema fisiológico. Você não tem produção suficiente de neurotransmissores. Mas muita gente acha que é um problema psicológico. Já ouvi várias vezes pessoas me dizendo, escandalizadas, "o quê? Você toma remédio para depressão? Não faça isso, você não precisa disso!" As pessoas não falam isso para um diabético, porque sabem da incapacidade dele produzir uma substância, mas não reconhecem que o problema de um depressivo é dessa mesma ordem.
Meu médico já me disse que, por ter histórico de depressão na família, vou ter que tomar antidepressivos para o resto da vida. Mas eu tomo meu remédio feliz, porque a qualidade de vida que eu tenho fazendo o tratamento não se compara à vida que eu tenho sem ele. Porém, não fico confiando só no remédio e esperando sentada a melhora chegar. Ele é parte de um processo. Terapia e exercícios físicos também ajudam bastante.