Imagine se fosse possível saber o que você está sonhando ou controlar o que acontece no sonho. Pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, desenvolveram três técnicas que, combinadas, aumentam as chances de os chamados “sonhos lúcidos” acontecerem.
No experimento, a primeira técnica é chamada de “teste de realidade”. Checa-se várias vezes ao dia se a pessoa está ou não sonhando. O objetivo é manter a consciência de que não se trata de um sonho e, dessa forma, treinar o cérebro a realizar o mesmo procedimento automaticamente também durante os sonhos.
A segunda parte está em acordar após cinco horas de sonho, ficar acordado por um curto período e depois voltar a dormir. A ideia, nesse caso, é alcançar o estado REM de novo, período no qual os sonhos acontecem.
Por último, há uma variação do segundo método: acordar após cinco horas de sono e, enquanto estiver consciente, tentar se lembrar do sonho que estava tendo antes de voltar a dormir. Mas isso tudo deve ser feito com a repetição da frase: “a próxima vez que eu sonhar, eu vou lembrar do sonho”.
O resultado foi que, dos 169 voluntários que participaram da pesquisa, 49 pessoas combinaram as três técnicas simultaneamente. Todas elas tiveram sonhos lúcidos no período de apenas uma semana.
O intuito dos cientistas é estudar possíveis benefícios dos sonhos lúcidos, como o tratamento de pesadelos recorrentes, por exemplo.
Controle. O músico Bruno Bizzoni, 37, costuma sonhar lucidamente cerca de quatro vezes por semana. “Além de tomar decisões e acordar quando quero, tenho sensação de frio, calor e até sentimentos por quem nunca vi na vida”, afirma. Ele conta que a capacidade vai além. “Tenho os mesmos pesadelos de quando era criança e, como sei o que vai acontecer, acordo na mesma hora”, diz.
Bizzoni conta que chegou a se apaixonar por uma mulher que nunca viu na vida real. “Sonhei com ela durante alguns meses e me lembro da sensação de paixão. Depois disso, eu conseguia controlar o que queria fazer ao lado dela em todos os sonhos. Foram conversas sobre diversos assuntos, até sobre sentimentos, passeios em lugares variados. E, é claro, outras coisas também”, diz, entre risos.
De acordo com o neurologista Flávio Sekeff, professor da Faculdade Ipemed, essa não é a primeira tentativa conhecida. “Desde a década de 1970, temos notícias de pesquisas com essa intenção, sem muito sucesso. É uma situação bem complicada de conseguirmos determinar, mas não é impossível. Talvez no futuro isso de fato aconteça”, diz.
Estudo indica relação com psicoses
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) estão tentando entender e definir qual é a relação dos sonhos lúcidos com as psicoses.
No ano passado, cientistas do Instituto do Cérebro (ICe) analisaram 45 pacientes com sintomas psicóticos, sendo 25 com esquizofrenia, 20 com transtorno bipolar do humor e um grupo controle de 28 pessoas não psicóticas.
Um dos resultados apontou que cerca da metade das pessoas com tais transtornos, assim como metade das não psicóticas, relatou ter sonhos lúcidos. Entretanto, quando o primeiro grupo tem sonhos lúcidos, consegue controlar mais frequentemente a realidade do sonho (67% esquizofrenia e 73% transtorno bipolar) que os não psicóticos (23%).