Só importadas

Conta de luz brasileira afeta lucro de quem minera moeda digital

Placas gráficas são as mesmas usadas para games pesados


Publicado em 26 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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SÃO PAULO. Se comprar e vender para lucrar com as variações de preço de criptomoeda – as moedas digitais criadas e movimentadas pela internet – é uma atividade com alta procura, há ainda quem se especialize na emissão dos ativos: os mineradores. O nome mineração vem da analogia com o ouro. Para simular a escassez, como a que existe no minério, os programadores que deram origem ao bitcoin inventaram um problema matemático (imagine algo como 2x + y >0). Os computadores encontram, uma a uma, todas as soluções para esses problemas, e cada resposta (também chamada de bloco) é uma criptomoeda. No caso do bitcoin, existem 21 milhões de soluções possíveis – ou seja, a moeda circulante é finita.

No Brasil, porém, a atividade de minerar é limitada pela dispendiosa conta de luz gerada por computadores rodando programas dia e noite. O minerador Cristiano Valverde, 37, fez um investimento de R$ 70 mil no seu equipamento há quatro meses, mas teme que a alta da conta de luz associada ao período de seca nos próximos meses vá atrasar seu retorno.

Ele extrai o ethereum, moeda mais comum entre amadores. Como o bitcoin é mais antigo, é cada vez mais difícil achar novas soluções, e só quem tem um equipamento caro e muito <WC1>especializado consegue minerá-lo. “Quando comecei, previa retorno em seis ou sete meses, mas os valores do ethereum estavam em alta”, diz Valverde, que tem uma mina no interior de São Paulo e cogita usar energia solar.

“Montei um galpão com refrigeração e comprei tudo à vista. Agora, em um cenário realista, vou conseguir o dinheiro de volta em até 15 meses, se a Eletropaulo deixar”, reclama. Quem investe em mineração caseira, como ele, usa placas gráficas geralmente usadas para jogos. Elas são boas em rodar muitos algoritmos ao mesmo tempo, aumentando a chance de descobrir os números da sorte.

As placas chegam ao Brasil via importação, e, novas, custam por volta de R$ 2.000. Na China, que tem 70% da capacidade de geração de bitcoins, as condições são mais favoráveis, com proximidade dos fabricantes de chips e energia elétrica barata.

Medo de hackers. Em agosto, a mineração de bitcoins gerava até R$ 38 milhões ao dia, número que caiu para a metade com os reveses regulatórios em setembro. Uma preocupação mencionada por mineradores é o risco de ter sua conta nas corretoras invadida e eles perderem o dinheiro, já que é comum fazer tanto a mineração quanto o comércio das moedas.

É o que faz Leonardo Kikuchi, 22, de Campinas, que gastou R$ 20 mil em sete placas. Ele minera ethereum e depois negocia outras criptomoedas. “A ideia surgiu porque eu tinha uma placa para jogo. Mas é arriscado. Tem que ter conhecimento técnico para minerar, não basta deixar a placa ligada”, diz.

Golpe. O mercado mundial de moedas digitais foi abalado por mudanças em setembro. Reguladores bancários de Pequim e Xangai ordenaram o fechamento de várias plataformas de câmbio de bitcoins, numa nova ofensiva do governo chinês contra as moedas virtuais. Pequim quer frear as criptomonedas, criadas virtualmente através da tecnologia chamada “blockchain” e trocadas sem controle das autoridades.

Equipamento não basta, tem que acompanhar as operações

O policial militar André Primo, 25, aproveita a atividade para ganhar dinheiro no tempo livre. Primo instalou sua mina em Marília, no interior de São Paulo. “Tem noite que você dorme e acorda rico. Mas tem que acompanhar as operações de compra e venda”, diz.

Tanto mineração quanto compra e venda de moedas são investimentos de alto risco, adverte Gabriel Aleixo, do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio). “Quem investir tem que saber que amanhã o preço pode ir a zero”, orienta.

O jovem Pedro Ivo do Amaral, 18, perdeu R$ 5.000 investindo em mineração. “Não basta comprar o melhor equipamento, tem que acompanhar a moeda no tempo correto. Fui amador”, resume.

Quem não quer comprar equipamento ou não tem conhecimento técnico pode investir em moedas virtuais “alugando” espaço em grandes fazendas, como a Genesis Mining. A remuneração é proporcional ao investimento.


Saiba mais sobre moedas digitais

Algumas moedas

Bitcoin - criada em 2009, é a pioneira e a mais conhecida. Valor de mercado (em 30 de maio deste ano): US$ 37,27 bilhões

Ether - Lançada em 2015, a moeda funciona com uma tecnologia própria chamada Ethereum. Valor de mercado na mesma data: US$ 19,31 bilhões

Ripple - valor de mercado: US$ 8,84 bilhões

NEM - valor de mercado: US$ 1,93 bilhão

Ethereum Classic - valor: US$ 1,64 bilhão

Litecoin - valor de mercado: US$ 1,31 bilhão

Como rende

1) O minerador “ganha” moedas quando gera um bloco válido de dados, ou
2) O minerador recebe espécie de “troco”. Se uma transação usa três moedas de fonte e tem destino para duas, o que sobra é considerado “tarifa” para o minerador

Como investir

1) Comprar os equipamentos e montar sua própria mina de dados
2) Contribuir com um valor estipulado por um prestador do serviço já estabelecido, que te remunera proporcionalmente

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