Se o bitcoin (BTC) vem sendo usado já há algum tempo como moeda virtual para pagamentos para trabalhos prestados remotamente ou mesmo para a compra de artigos online, talvez pouco tenha sido falado sobre o potencial dele para investimentos diretos. Assim como moedas como o dólar ou o euro, é possível comprar BTCs em mercados online e se valer da aplicação que tem sua cotação flutuante, dependendo da demanda. Ao menos até agora, tem se mostrado segura contra adversidades como crises internacionais e até mesmo ataques de hackers.
Criada em 2008, a moeda virtual teve como revolução a utilização do sistema blockchain, que não precisa de um intermediário (como um banco central, no caso das moedas nacionais) para validar as transações. Em vez disso, são vários computadores ligados em rede que criam um registro criptografado de cada troca que é feita. Assim, caso um desses computadores entre em colapso, os outros continuarão mantendo o histórico das transações.
“O bitcoin veio para resolver um problema que existia desde o começo do e-commerce: como ter um dinheiro confiável dentro da internet?”, explica Rodrigo Batista, sócio do Mercado Bitcoin, site que permite a compra e venda da moeda virtual. “Como o blockchain é um banco de dados distribuído numa rede, ele garante que as transações são válidas e que ninguém gasta o mesmo bitcoin duas vezes”, diz ele.
Já o economista Fernando Ulrich, autor do livro “Bitcoin – A moeda na era digital”, ressalta a blindagem da moeda contra crises políticas, justamente por não estar vinculada a nenhum banco central nacional. “O bitcoin não é suscetível a bloqueios, confiscos e à política monetária”, afirma Ulrich. “Quando tem esses momentos de turbulência política e opressão financeira, o bitcoin passa a ser um refúgio de segurança para proteger patrimônio”, explica.
Valor. Assim como moedas nacionais, o bitcoin não possui um lastro específico e tem o valor regido pelas leis de oferta e demanda do mercado. Para criar cada unidade de BTC, são necessários computadores de altíssima tecnologia, num processo conhecido como mineração. O próprio gasto de energia e de tempo empreendido na tarefa gera o valor de cada BTC.
O sistema também está programado com um limite de 21 milhões de bitcoins – no momento, há cerca de 16 milhões em circulação. Assim, a geração da moeda é decrescente, o que a protege contra inflação.
Valorização. Investidor de bitcoins, o engenheiro Fernando Bresslau também vê vantagens no bitcoin em relação a sistemas tradicionais de pagamento. “O que mais me atrai nos bitcoins é que acredito que, por ser uma tecnologia transformacional, será cada vez mais aceito e utilizado. Isso gera uma tendência de aumento do valor da moeda, o que é muito positivo para quem a usa como uma maneira de poupança”, explica Bresslau.
Backup
Risco maior é o mau uso pelo investidor
Por ser uma tecnologia nova e ainda pouco explorada, o bitcoin também apresenta riscos. “Não há como prever se o preço vai continuar no mesmo patamar”, observa Fernando Ulrich. “No entanto, a volatilidade tem arrefecido ano a ano”, ressalta o economista, que observa que, como a oferta é fixa, apenas a demanda é imprevisível.
Para o investidor Fernando Bresslau, uma violação da rede poderia causar uma flutuação anormal. “Embora eu ache que seja remoto, existe o risco de ser descoberta uma falha no protocolo básico. Nesse caso, o valor das moedas derreteria de uma hora para outra”, avalia o engenheiro.
No entanto, ambos apontam o mau uso como maior risco. “Se o usuário esquece onde guardou os bitcoins, ele acaba perdendo por não saber usar”, diz Ulrich. “É importante pensar em como fazer um backup seguro, pois não há um gerente, como no banco”, conclui Bresslau.
Minientrevista
Fernando Ulrich
Autor de “Bitcoin A moeda na era digital”
Qual a vantagem de se investir no bitcoin?
Hoje, o bitcoin é um ativo financeiro que já tem uma demanda bastante relevante pelo mundo. Dependendo do dia, há mais de um US$ 1 bilhão em volume de negociações. O investimento em bitcoin é muito rápido, seguro e barato de usar, em qualquer lugar da terra e sem intermediários.
Além do BTC, quais outras moedas virtuais são interessantes para se investir hoje?
Há centenas existentes, mas poucas têm justificativa de existir. Tanto que o valor de mercado do bitcoin equivale a quase 90% de todas as outras moedas virtuais somadas. A Ethereum, por exemplo, é interessante por ser um projeto ambicioso e complexo do ponto de vista da computação. Essa moeda pretende ser até uma linguagem de programação descentralizada onde qualquer um poderia criar aplicações e contratos inteligentes. É mais promissor, mas tem muito o que crescer ainda.
Novas moedas virtuais podem ser usadas para esconder fraudes?
Como é um negócio bem recente, tem muita gente usando o nome do bitcoin como pretexto e isca pra atrair incautos para a indústria da pirâmide financeira. Alguns desses usam jargões técnicos, mas, no fim das contas, não há nada de sistema – são só para ludibriar as vítimas.