Contrariando os institutos de meteorologia, José Maria acertou. O domingo amanheceu ensolarado, e logo nas primeiras horas o veleiro já se aproximava da Enseada de Palmas, no sudoeste da ilha. A pressa era justificada: desembarcar na Praia do Pouso antes das primeiras escunas ou táxis-boats, que chegam abarrotados de turistas a partir das 9h, garante ao passageiro do veleiro a grande vantagem de encontrar Lopes Mendes praticamente deserta.
Caminhando pelos três quilômetros de faixa de areia da praia-símbolo da ilha, Cláudia Bethlem mostra detalhes que passam despercebidos mesmo para frequentadores acostumados ao lugar, como este repórter.
“Esses buraquinhos na areia são feitos por copépodes, crustáceos bem pequenos que só vivem em ambientes muito limpos”, diz a bióloga, apontando para as marcas deixadas pelos bichinhos quase invisíveis.
Aves ladras
A conversa vai dos hábitos malandros de caça das fragatas (que roubam o peixe que outras espécies pescam) até a presença das amendoeiras na praia, importante exemplo da árvore que marca a paisagem da ilha.
A aula continua debaixo d’água, no canto esquerdo da praia, onde a quantidade de pedras e o mar mais calmo propiciam boas condições para a prática do snorkel. Os passageiros recebem uma prancheta especial com desenhos de todas as espécies que podem ser encontradas. As mais populares são peixe-borboleta, budião, parati e frade.
Os mais sortudos podem ver ainda tartarugas, lulas e até arraias. Mas, debaixo d’água, nem tudo que é bonito é bom. Cláudia aproveita para mostrar a grande quantidade do coral-sol, espécie levada acidentalmente para o litoral sul do Estado e que tem tomado o lugar de outras, nativas, como o coral-cérebro.
Essas explicações biológicas também ajudam a tornar as caminhadas pela ilha menos cansativas. Na puxada trilha para a cachoeira da Feiticeira, um dos pontos mais bonitos da ilha, o barulho grave dos bugios serve para uma rápida aula sobre esse grande macaco tão comum por ali. Mas quem não quer encarar os cerca de 30 a 40 minutos de caminhada até a queda d’água de 15 m de altura, pode ficar na praia homônima, protegida por grande pedras, outro bom ponto para snorkel.
Lopes Mendes e a cachoeira estão entre as duas atrações mais populares da ilha. A graça desse tipo de viagem, no entanto, é descobrir novos recantos. E isso não falta em uma ilha de 193 km², maior que o município de Niterói, por exemplo. Apesar de estar bem perto da concorrida Lagoa Azul, a Praia de Baixo é um porto seguro para quem quer tranquilidade e costuma ser uma das paradas das excursões do Immerse. As prainhas das enseadas de Saco do Céu e do Sítio Forte também são paradas preferenciais.
Boas histórias também são encontradas nesta parte da Ilha Grande. Como na Praia do Bananal: onde atualmente existe uma colônia de pescadores e restaurantes que recebem excursões de escunas havia antes uma grande fábrica de gelo. Ou a da Praia da Tapera: onde há uma cachoeira dentro da fazenda Tapera-Shima. Fundada por japoneses, ela atualmente abriga um centro de reabilitação e produz uma pomada que é considerada milagrosa pelos insulanos.