Revitalização

Esvaziamento do centro de BH é relatado por comerciantes

Criação da Cidade Administrativa, comércio online e Covid afetaram a vida no hipercentro, dizem comerciantes; Censo indica que em 22 anos habitantes aumentaram pouco mais de 10%

Por MAIS CONTEÚDO. Cristiana Andrade
Publicado em 01 de agosto de 2023 | 05:03
 
 
 
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O esvaziamento do centro da cidade foi o mote para a Prefeitura de Belo Horizonte encampar o projeto de requalificação Centro de Todo Mundo. Urbanistas e comerciantes são unânimes ao avaliarem que, após a mudança da estrutura do governo de Minas para a Cidade Administrativa, na região Norte, em 2010, mais de 20 mil pessoas deixaram de circular no hipercentro.

Não há dados exatos se houve queda no número de moradores. Censo da própria prefeitura mostra que, de 2000 a 2022, a população residente saiu de 15.043 para 16.600 pessoas, um aumento de pouco mais de 10%. 

Conforme a comerciante Jacqueline Bacha, diretora da Associação dos Comerciantes do Hipercentro, “a partir da desocupação da área central, a área passou a conviver com problemas recorrentes de segurança pública, transporte público caótico e aumento da população de rua”. 

“Assistimos ainda à autossuficiência dos bairros, ao boom do comércio online, à Covid e ao esvaziamento de prédios comerciais. Ainda assim, somos o maior shopping a céu aberto do Estado, com variedade de lojas e preços baixos”, enumera. 

Belo Horizonte tem como vocação o comércio e os serviços. “As atividades são responsáveis por 80% do nosso PIB. São a base da nossa economia, além da economia criativa, forte tendência pautada em startups, moda, gastronomia, eventos e produção cultural e no turismo”. 

Segundo ela, a maioria dos comerciantes quer o retrofit, para que as pessoas voltem a morar no centro. “Para isso, precisamos mitigar a questão da população de rua com acolhimento e ações efetivas, melhorar a limpeza e fazer iluminação rebaixada em pontos críticos”, enfatiza.

A PBH apresentou o projeto aos comerciantes, que aguardam sua concretização. “No Rio e São Paulo, investidores foram essenciais para as propostas saírem do papel. Aqui, Executivo e Legislativo precisam, juntos, fomentar as parcerias, como molas propulsoras da retomada comercial do centro”, pontua. 

Centro é vivo, apesar da degradação

Na visão do comerciante Flávio Froés, o projeto de requalificação é inevitável. “Chegamos ao momento em que se faz algo ou deixa morrer. Com o esvaziamento dos últimos anos, pudemos ver as várias mazelas da cidade”, diz. Segundo ele, regiões como a avenida Paraná e a rua Curitiba, hoje, colecionam lojas fechadas. 

“Tem muito imóvel fechado. A meu ver, a requalificação passa, no curto prazo, por limpeza, melhoria na iluminação e segurança. E na aposta pela ocupação do centro por moradores, para que as pessoas andem mais a pé, isso vai dando movimento para a cidade. Nosso centro ainda é vivo, apesar de a degradação ser rápida”, avalia. 

De acordo com a subsecretária de Relações Intergovernamentais da PBH, Beatriz Góes, à frente do projeto Centro de Todo Mundo, a motivação da requalificação foi um pedido do prefeito Fuad Noman (PSD), para tentar reverter o esvaziamento da região, percebida pelos inúmeros imóveis comerciais fechados e disponíveis para locação, e deixar a região mais bonita e atrativa para o cidadão.

MINI-ENTREVISTA

Rogério Zschaber, urbanista e  professor da Escola de Arquitetura da UFMG

Como o senhor vê o projeto de requalificação do centro?
O centro abriga vários movimentos culturais, do hip-hop à ocupação da região do Mercado Novo e rua Sapucaí, que têm vários sentidos. As ações precisam incorporar todos esses processos e atores, com foco, principalmente, no interesse social. 

O que o poder público tem de garantir na proposta?
A melhoria da segurança; a condição ambiental, com foco na arborização e gestão de águas urbanas; boa iluminação; e incentivo ao andar a pé e uso da bicicleta. É preciso alinhar ações aos equipamentos já existentes; promover a inclusão social, para atrair públicos que estão fora da rotina do centro; e incentivar o uso residencial, que é quem garante a permanência dessas dinâmicas no centro. 

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