Sem demanda

Pontos comerciais encalham e derrubam valor do aluguel 

Em várias regiões de Belo Horizonte é comum ver placas de ‘passa-se o ponto’ ou ‘aluga-se’

Sáb, 03/12/16 - 02h00
Vazio. Pequeno shopping do bairro Buritis tem cerca de 20 pontos comerciais, mas praticamente metade das lojas está fechada | Foto: LINCON ZARBIETTI

As placas de ‘aluga-se’ e ‘passa-se o ponto’ já fazem parte da paisagem de Belo Horizonte. Com a crise obrigando muitos lojistas a baixarem as portas, a situação é ainda pior para a locação comercial. O resultado pode ser visto nos preços do aluguel comercial, que, com uma oferta maior de lojas, caiu duas vezes mais do que a locação residencial. Segundo levantamento o índice Fipezap, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), enquanto os valores residenciais caíram 3,39% de janeiro a outubro, a locação comercial ficou 7,57% mais barata, em relação ao mesmo período do ano passado.

Na avaliação do economista da Fipezap, Raone Costa, os descontos estão maiores na locação comercial há pelo menos um ano. “É difícil saber o tempo exato, mas imaginamos que, por causa da situação econômica do país, tem mais gente fechando loja, mas as pessoas ainda precisam morar”, justifica.

Um pequeno shopping de bairro no Buritis, por exemplo, está com praticamente metade das lojas fechadas. “Eu cheguei aqui há três meses, mas, só neste período vi quatro lojas fecharem”, conta a lojista Angélica Machado. Das 20 lojas do mall, pelo menos nove estão disponíveis.

O vice-presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Breno Donato, afirma que os preços do aluguel de lojas acabou caindo porque os proprietários perceberam que era melhor cobrar menos do que ficar com o imóvel fechado. “A oferta de lojas cresceu muito e eu acredito que, se o residencial caiu uns 10%, o comercial caiu até 30%. Então, os lojistas ganharam poder de negociação e os proprietários passaram a criar estratégias para atrair os clientes, como não dar aumento ou até mesmo reduzir o valor do contrato”, destaca.

Outra prática que tem se tornado comum no mercado imobiliário comercial é a carência. “Tem imobiliária que dá até um ano de carência. Não recebe o aluguel, mas tem a vantagem do inquilino arcar os custos do IPTU e do condomínio, ou seja, o proprietário deixa de gastar”, explica.

Na avaliação de Donato, os preços estão começando a se estabilizar. “Os proprietários ainda não estão conseguindo reajustar os contratos pelo índice da inflação, mas, nos últimos seis meses, já têm conseguido manter os valores, sem ter que reduzir o preço”, diz. Segundo pesquisa da Fipezap, o aluguel comercial acumula queda de 7,57% no Brasil. Mas, se considerar a inflação de 5,78% acumulada de janeiro a outubro, essa redução passa de 13%.


Mais exigente

Cliente quer mais detalhes de imóvel e menos burocracia

Seja na venda ou locação, o mercado imobiliário tem muita mudança pela frente, para conseguir fechar negócio. Uma pesquisa encomendada pela Câmara do Mercado Imobiliário (CMI/Secovi) revela que o perfil do consumidor mudou. No caso do aluguel, ele quer uma descrição mais detalhada do imóvel e de tudo que existe nas imediações, e também quer fotos mais claras. Também não quer muita burocracia, quer opção para fiador e prefere fazer sua pesquisa em um único portal.

“Hoje em dia, ninguém mais tem tempo de ficar visitando vários imóveis. Portanto, a visita virtual tem que ser bem atrativa para convencer o cliente a fazer a visita presencial. As imobiliárias precisam entender que o comportamento do consumidor mudou e tem que acompanhar isso”, destaca a presidente da CMI/Secovi, Cássia Ximenes.

No caso da compra, além da facilidade de buscar opções em uma única plataforma, os consumidores querem áreas de lazer e mais conforto. “As famílias estão menores, mas o cliente quer mais suítes, por exemplo. Também busca serviços integrados no condomínio, como transporte escolar e prestadores como eletricista”, exemplifica.

Um desejo unânime é a melhoria dos filtros de busca. “Percebemos a necessidade de um filtro para pessoas com dificuldade de locomoção, que buscam imóveis condizentes, então criamos um. São mudanças que exigem investimento das imobiliárias”, diz a presidente da CMI. (QA)