Montes Claros

PF desmantela fraude no Enem

Dez foram presos e 28 mandados foram cumpridos contra grupo suspeito de vender vagas

Seg, 07/11/16 - 02h00
Para evitar contratempo, candidatos chegaram cedo à PUC Minas, no Coração Eucarístico, em BH, para o segundo dia de provas | Foto: Lincon Zarbietti

Enquanto milhões de estudantes faziam as provas no segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nesse domingo (6), a Polícia Federal (PF) cumpria 28 mandados em Minas Gerais – sendo 15 de busca e apreensão, cinco de sequestro de bens, quatro prisões temporárias e quatro conduções coercitivas – contra uma quadrilha que tentava fraudar a prova, vendendo vagas. As ordens foram expedidas pela Justiça Federal em Montes Claros, no Norte de Minas, base das investigações. No Estado, dez pessoas foram presas.

A corporação informou que o grupo desarticulado na operação Embuste também foi responsável por fraudar vestibulares realizados em Mineiros, no Estado de Goiás, e em Vitória da Conquista, na Bahia. Segundo PF, a organização criminosa utilizava uma central de telefonia celular para repassar gabaritos das provas a candidatos em várias partes do país. O principal alvo eram estudantes dos cursos de medicina. Além das quatro prisões em decorrência de mandados, outras seis pessoas também foram detidas durante a operação.

O delegado da PF Franco Perazoni informou nesse domingo (6), em coletiva, que a operação é resultado de um trabalho conjunto entre a corporação, o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “Em parceria com Inep, cruzamos o banco de dados de certames anteriores e históricos e, a partir desses dados, elegemos um grupo de pessoas que poderia estar fraudando a prova”, explicou. Apesar do esquema, o delegado informou que as prisões e mandados não alteraram a idoneidade da prova.

Jogo Limpo. Nas regiões Norte e Nordeste do país, a PF também realizou ação para combater fraudes ao Enem nesse domingo (6). Durante a operação Jogo Limpo foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão nos Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Tocantins, Amapá e Pará. Uma pessoa foi presa.

Segundo a PF, assim como na operação em Minas, os suspeitos foram identificados a partir da análise de gabaritos apresentados em anos anteriores. “Foram identificadas 22 pessoas que teriam apresentado respostas suspeitas de fraude e que fariam a prova novamente em 2016”, informou a PF.

Segundo o delegado Perazoni, todos os 11 presos nas duas operações estavam com pontos eletrônicos. A PF informou que eles podem responder por crimes contra a fé pública, o patrimônio, a paz pública, dentre outros. As penas ultrapassam 20 anos de prisão.

Acordo. Segundo o delegado Franco Perazoni, geralmente, para a compra de uma vaga em universidade, o estudante paga entre R$ 40 mil e R$ 200 mil ao bando. O valor varia conforme o serviço prestado.

Números

8,3 milhões de pessoas se inscreveram no Enem 2016

30% foi a taxa de abstenção nos dois dias de prova

2,4% foi o aumento da taxa de abstenção nesse ano

768 participantes foram eliminados do exame

271 mil inscritos tiveram provas adiadas para 3 e 4 de dezembro

Reforma

Ministro defende MP do ensino médio

Após o encerramento das provas do Enem, durante entrevista, o ministro da Educação, Mendonça Filho, defendeu a aprovação da reforma do ensino médio. Segundo ele, a expectativa é que até dezembro a Medida Provisória 746/2016 seja votada. As alterações têm gerado polêmica e estão entre as motivações que têm levado estudantes a ocupar escolas em todo o país.

“O que eu defendo é urgência da reforma do ensino médio. A forma, para mim, não é o mais relevante. Temos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), criado em 2007, que não são alcançados desde 2011. Atualmente 1,7 milhão de jovens deviam estar cursando ensino médio e não estão”, afirma o ministro.

Além disso, Mendonça Filho acredita que há desinformação sobre a reforma. Ele adiantou que ainda nesta semana será divulgada uma pesquisa que aponta que a maioria dos estudantes é a favor da reforma.


Saiba mais

Investigação. A PF está investigando o caso do estudante do Enem que conseguiu entrar na Escola Estadual Irmã Maria Celeste, em Guajará-Mirim (RO), meia hora depois do fechamento oficial dos portões, às 11h (horário local), no sábado. Segundo o portal G1, o Inep informou que o consórcio responsável pela aplicação do exame também apura o fato. A coordenadora da prova no município afirmou que liberou a entrada do estudante porque o candidato, que não quis se identificar, acusou a coordenação de tê-lo enviado para outro local, mesmo ele tendo chegado no horário correto.

Eliminados. Nos dois dias do Enem houve um total de 768 participantes eliminados no país. No primeiro foram mais de 400 por infringir regras gerais – como horário, documentação, uso de caneta entre outros. Mais 106 foram eliminados pelo uso de detector de metais e sete por recusar o uso da biometria. No segundo, foram 187 eliminações por infringir regras gerais e mais 14 pelo detector de metais. Foram atendidas três emergências médicas no primeiro dia e duas no segundo. Houve falta de energia em 22 locais de prova nos dois dias.

Ocupação. Na noite desse domingo (6), alunos se reuniram em assembleia para ocupar a rádio da Universidade Federal de Minas Gerais.


Redação

Tema foi considerado difícil

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2016 surpreendeu candidatos. Enquanto muitos deles esperavam algo sobre meio ambiente, cultura ou a tragédia de Mariana, a intolerância religiosa foi a temática da prova. Para os estudantes, além disso, o exame foi “difícil e cansativo”.

Achei mais complicado que no ano passado, a prova foi mais conteudista e mais pesada. Tinha muito texto e pouca charge. Ficou cansativa. A redação, também achei que seria outro tema. Foi difícil escrever sobre intolerância religiosa, principalmente porque os textos motivadores não nos ajudavam tanto”, contou a estudante Isabela Dayrell, 17. Ela está no terceiro ano e já havia feito outra edição do exame.

Para o professor de redação André Felipe Souza, que dá aula nos colégios Bernoulli, Santo Antônio e no cursinho Scriptus, o tema da redação manteve a linha voltada para problemas sociais, como no ano passado. Porém, ele concorda que a escolha foi mais “árida e difícil” para os estudantes. “Pode ser que tenha havido dificuldade para que o texto saísse do senso comum para uma analise mais detalhada. Mas é algo que tem sido bem fervilhado mesmo. É condizente com o que o Enem tem feito nos últimos anos, discutindo problemas sociais latentes, colocando uma luz sobre lutas que existem”, apontou o educador.

De fora. Antes do segundo dia de provas, os estudantes demonstravam ansiedade com o exame. Muitos chegaram mais cedo para evitar problemas. Apesar disso um descuido fez com que a estudante Beatriz Rodrigues, 21, não pudesse fazer o exame. Ela esqueceu a carteira de identidade e acabou tendo que deixar a PUC Minas, no bairro Coração Eucarístico, na região Noroeste de BH. “Fazer o quê, né? O jeito é tentar no ano que vem”, lamentou.