ELEIÇÕES SP

Campanhas mantêm corpo a corpo e preparam até bolha para panfleteiros

É preciso repensar as caminhadas de rua sem contato físico e aglomerações para evitar o contágio por coronavírus

A campanha Marina Helou (Rede), candidata à Prefeitura de São Paulo, usará uma espécie de bolha de proteção | Foto: Campanha Marina Helou/Divulgação
FOLHAPRESS
22/09/20 - 09h37

Além dos novos protocolos sanitários para o dia da votação, a pandemia trouxe outro desafio para as eleições municipais de 2020: repensar as campanhas e as agendas de rua sem contato físico e aglomerações.

Mesmo sem as caminhadas pelo comércio com apertos de mão, porém, o corpo a corpo não será abandonado pelos candidatos em São Paulo.

Para evitar o contágio, eles apostam em um número reduzido de saídas, o já obrigatório uso de máscara, distanciamento entre as pessoas e diminuição da quantidade de materiais impressos.

No plano sanitário que define os protocolos para o dia da votação, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reuniu recomendações para as campanhas em meio à pandemia.

Estão entre as sugestões orientar o uso correto de máscara para os participantes, optar por espaços amplos e abertos quando em contato com outras pessoas e evitar aglomerações e distribuição de material impresso.

"Os candidatos a vereador já têm feito agendas [de rua] pontuais, com uso de máscaras e álcool em gel", diz Júnior Bozzella, coordenador da campanha de Joice Hasselmann (PSL) em São Paulo. "A gente não vai abdicar do método tradicional, que são as caminhadas, o corpo a corpo."

Outros candidatos também afirmam que os encontros presenciais com a população continuam importantes.

"Campanhas que não são financiadas por esquemas com grandes empresas privadas e com pouco tempo de TV, como a nossa, não podem abrir mão do contato com a população", afirma Josué Rocha, coordenador de campanha de Guilherme Boulos (PSOL).

De acordo com ele, a distribuição e as agendas de rua seguirão os protocolos sanitários, com uso de máscaras e poucas pessoas envolvidas para evitar aglomerações --e a atuação nas redes sociais também será fundamental.

Risco de contágio 

O risco de contágio por coronavírus levou a uma alteração de protocolos para o dia da eleição. Entre as medidas, o TSE excluiu a identificação biométrica e o recebimento do comprovante de votação passará a ser facultativo, entregue apenas mediante solicitação do eleitor.

Além disso, em vez de entregar o documento de identificação ao mesário e retirá-lo após a votação, o eleitor deve apenas exibir o documento ou o e-Título (título de eleitor digital) pelo smartphone, mantendo a distância recomendada de um metro.

O protocolo sanitário do TSE também prevê a higienização constante de superfícies como as mesas e cadeiras usadas pelos mesários, e o uso obrigatório de máscaras.

"O risco [de contaminação] existe pela proximidade das pessoas e pela possibilidade de o papel estar contaminado", explica Leonardo Weissmann, infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, sobre a distribuição de material impresso.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, em nota publicada em maio, "com base em estudos, é possível uma pessoa contrair Covid-19 por tocar uma superfície ou um objeto que está com o vírus e depois tocar a boca, nariz ou olhos --mas acredita-se que essa não seja a principal via de transmissão da doença."

Bolha de proteção

Para a entrega de materiais impressos em São Paulo, a equipe da candidata Marina Helou (Rede) pensa em adotar uma espécie de bolha de proteção para panfleteiros, que também utilizarão máscaras.
Helou afirma que as agendas presenciais serão menos comuns, mas ressalta que o acesso à internet ainda é desigual na população --e que essa parcela precisa estar incluída na campanha.

A Rede planeja um veículo para projetar, em muros das cidades, peças da campanha e um cinema drive-in para captação de recurso em substituição dos eventos presenciais mais tradicionais.

Ranier Grandé, um dos coordenadores de comunicação da campanha de Márcio França (PSB), diz que a agenda de rua será mais pontual e que a maior preocupação é com o controle para não gerar contato físico e aglomerações.

"Isso nunca é 100% simples, porque é claro que você vai em um lugar e, às vezes, alguém quer apertar a mão do candidato", afirma.
"Você pode estar numa avenida com a militância espalhada, mas não a militância entrando numa loja", diz Laércio Ribeiro, coordenador da campanha de Jilmar Tatto (PT), sobre as tradicionais caminhadas pelo comércio durante as eleições. "Vai ter que ser uma coisa mais contida."

Segundo Ribeiro, a utilização de carro de som e reuniões de forma eletrônica também devem estar na campanha.

Mesmo com a previsão de ir às ruas, os coordenadores afirmam que a internet e o engajamento nas redes serão um elemento importante.
A campanha de Andrea Matarazzo (PSD), por exemplo, diminuirá a produção de materiais impressos, substituindo-os por veiculação de materiais nas plataformas online. Já Levy Fidelix (PRTB) aposta em lives com influenciadores em suas redes e na distribuição de santinhos virtuais.

"O WhatsApp, neste início de campanha, ou por quanto durar isso, vai ser o porta a porta", diz Wilson Pedroso, coordenador geral da campanha do prefeito Bruno Covas (PSDB). Mais para a frente, avalia, propagandas na TV também passam a ter grande peso para os candidatos.

Para Arthur do Val (Patriota), a pandemia serviu como catalisador de uma nova maneira de fazer campanha, em que as redes sociais ganham destaque --para ele, mais conhecido como o youtuber Mamãe Falei, as plataformas e o WhatsApp devem ser os principais focos de atuação.

Renato Batista, presidente municipal do partido, é mais um a afirmar que a agenda de rua deve ser consideravelmente menor do que nas últimas eleições, e que a distribuição do material impresso também deve ser reduzida.

"O candidato não vai para a rua com dezenas de pessoas contratadas distribuindo panfleto e coisas do tipo."