OTÁVIO GROSSI

Fantasiar, sim, mas sem devaneios

O Carnaval transformou-se em um espaço social de posicionamento de tantas minorias

Por Otávio Grossi
Publicado em 20 de fevereiro de 2023 | 03:00
 
 

Até parece que não iríamos ter uma festa desta proporção novamente, como o Carnaval, considerando tudo o que vivemos nesses últimos anos após a pandemia. O desafio da incerteza, da dúvida, do distanciamento, das vacinas, das mortes e do medo fez com que repensássemos tudo o que poderia acontecer. As festas populares, religiosas ou familiares ficaram impensáveis por um bom período.

Muito mais do que apenas uma estratégia de segurança em saúde pública, o distanciamento necessário representou um aprendizado maior quanto às nossas escolhas e sistemas de valores. Escolher e valorar. Esse movimento de escolhas está presente em todos os seres vivos; desde os mais simples em suas estruturas até os mais complexos. Escolhemos e valoramos o tempo todo.

O desconhecimento do cenário da pandemia, naquele momento, quanto a se aglomerar tocou profundamente no sistema inconsciente das pessoas: escolher, permitir, proibir, transgredir, prazer, necessidades e desejos. O Carnaval toca no imaginário das pessoas quanto ao que nos permitimos ou negligenciamos movidos pelo prazer ou pela dita brincadeira. E, confesso, adoro o Carnaval: as fantasias, as músicas, a alegria, o brincar saudável, o movimento das massas, o coro cantando.

O Carnaval transformou-se em um espaço social de posicionamento de tantas minorias. Andando atrás de seus trios preferidos, escolhemos grupos, escolhemos refrões. O processo de identificação pode até passar despercebido, mas está lá estampado o quanto congrega e manifesta nos gestos os nossos acertos e nossas contradições. Abre espaço para a criatividade e, contraditoriamente, ao mesmo tempo, vende uma ideia de povo movido por valores que não sei bem se me representam como cidadão.

Mas não vou aqui fazer um relato sobre as origens do Carnaval, tampouco uma análise quanto aos seus impactos econômicos, sociais ou libidinosos, ou transgressores em relação ao culto à “carne que vale”. Quero convidar você, leitora e leitor, a pensar na dimensão da escolha e do valor que damos a essa festa, especificamente, e, ainda mais, neste momento histórico do pós-pandemia. Vejo que pensar nas medidas e intensidades pode nos ajudar a avaliar a vida. Não que eu queira colocar medida na alegria, na música, na diversão saudável; ou colocar limite no inconsciente da fantasia. Sugiro avaliar a fundamentação do riso e de seu papel. Sorrir, sim, e brincar, mas com os olhos fincados na realidade do nosso país.

Fantasiar, sim, mas sem devaneios! O real sempre comanda a vida! Boas escolhas.