Paulo César de Oliveira

O abismo que não veio

Falsas lideranças reforçam a divisão do país: o abismo que não veio

Por Paulo César de Oliveira
Publicado em 23 de abril de 2024 | 07:00
 
 
Paulo César de Oliveira O abismo que não veiojpg Foto: Ilustração/O Tempo

Estávamos a um passo do abismo. A sensação é de que, nos últimos dias, demos um passo à frente. Não afundamos ainda, ou não nos afastamos do abismo, apenas por faltar uma liderança real aos grupos que querem avançar e de quem, racionalmente, quer se afastar.
Até quando o Brasil viverá destes arroubos de falsos líderes? Até quando viveremos na inércia da população, que não exige dos políticos respeito e seriedade em suas ações?


Lá no início dos anos 1960, foram as “marchas com Deus pela família e pela liberdade” que deram o tom da “revolução” que levou o país à ditadura. Agora a ameaça vem de outro grupo religioso. 

Além da explosiva mistura de religião com política, o Brasil vive impressionante baixa qualidade política. Gente que se diz de esquerda e de direita, mas que, pelos seus atos, dão demonstrações de vazio ideológico e excesso de esperteza. 

Sobre isso, é bom lembrar o que dizia o mineiro Aureliano Chaves, um dos políticos mais sérios que este país já teve: “A esperteza quando é muita vira bicho, cresce e come o esperto”. E a esperteza, parece, já virou bicho. Ainda não está na fase de comer o esperto, mas já está comendo nosso ordenamento jurídico. 

Lá atrás, diziam os poderosos da ditadura quando ouviam qualquer afirmação de que seus atos contrariavam a Constituição: “Simples, mudamos a Constituição”. Isso já estamos fazendo. 

Há uma perfeita desarmonia entre os Poderes de que se aproveitam os espertalhões para se locupletar. Para enganar o eleitor que, omisso, torna a elegê-los. E assim vamos seguindo. 

Mas até onde vamos? O que se vislumbra não é nada bom. Estamos dividindo o país, assistindo ao rápido crescimento do crime organizado e do desorganizado também. Quando mais precisamos da harmonia entre os Poderes, assistimos exatamente ao contrário. Os mal-intencionados estimulam essa desunião, fazendo crescer nos alienados o velho sentimento do “Si hay gobierno, soy contra”, lema dos anarquistas europeus. 

O governo nada faz. E o país, apesar de alguns bons números na economia, segue em linha reta rumo ao desconhecido. Ou melhor, ao que bem conhecemos.

É preciso que haja uma reação. Nos aproximamos de uma eleição municipal que tem desenhado um quadro de radicalizações. De abuso do poder e da fé. Não será dividido que o Brasil seguirá adiante. A hora é de muita responsabilidade e altruísmo. Sem falsos líderes.

Paulo César de Oliveira
Jornalista e empresário - pco@vbcomunicacao.com.br