Boicote a "Mulan"

Protestos em Hong Kong têm fim de semana crucial

Movimento se torna um desafio para controle de Pequim sobre território. Clima é tenso após os violentos confrontos no aeroporto internacional.

Por AFP
Publicado em 17 de agosto de 2019 | 06:00
 
 
 
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O movimento pró-democracia de Hong Kong tem pela frente um fim de semana crucial, para quando estão convocados novos protestos depois dos violentos confrontos de terça-feira (13), no aeroporto internacional, e sob o fantasma de uma intervenção militar chinesa. A megalópole do Sul da China vive sua pior crise em duas décadas, com manifestações quase diárias. O movimento se transformou em um desafio para o controle de Pequim sobre Hong Kong.

Depois de concentrar tropas na fronteira com Hong Kong, o governo chinês advertiu na quinta-feira que não ficará "de braços cruzados", se o protesto pró-democracia continuar no território semiautônomo. A mídia estatal chinesa divulgou imagens de soldados e tanques em Shenzhen, metrópole que faz fronteira com Hong Kong. Já Washington alertou Pequim sobre uma ação militar que, segundo especialistas, teria consequências desastrosas em termos de imagem e economicamente.

Boicote a “Mulan”

Na sexta-feira, os protestos ganharam novo alvo: a edição do filme “Mulan”, da Disney. A polêmica envolvendo o clássico, que ganhará uma versão com personagens reais em 2020, começou na quinta-feira, quando Liu Yifei, atriz que irá interpretar o papel da heroína Mulan, posicionou-se contra os protestos. Nascida na China, mas residente dos Estados Unidos, ela publicou mensagem de apoio à polícia de Hong Kong, gerando uma campanha de boicote ao filme.

Sem Tiananmen

O jornal nacionalista chinês “Global Times” fez uma rara referência à repressão na Praça Tiananmen na sexta-feira (16), tema tabu na China, para afirmar que uma intervenção armada em Hong Kong não repetirá o massacre de junho de 1989 contra manifestantes civis em Pequim.

O governo em “Pequim não decidiu intervir pela força para acabar com os distúrbios em Hong Kong, mas esta opção – evidentemente – está disponível”, destaca o editorial do jornal em língua inglesa. E, mesmo que o governo decida enviar tropas contra os manifestantes, “o incidente em Hong Kong não será uma repetição do incidente político de 4 de junho de 1989”, acrescenta o jornal. Não há um número oficial da sangrenta repressão na praça Tiananmen, mas alguns especialistas falam em mais de mil mortos.

Demissões

Na sexta, a Cathay Pacific anunciou a demissão do CEO Rupert Hogg, poucos dias após o governo da China criticar a companhia aérea, porque alguns de seus funcionários apoiaram o movimento em Hong Kong.

Na última semana, a Cathay Pacific provocou a revolta dos nacionalistas chineses, depois que alguns de seus 27 mil funcionários participaram das manifestações pró-democracia em Hong Kong, ou expressaram apoio ao movimento iniciado há dez semanas.

Ai Weiwei teme ‘nova Tiananmen’

O artista chinês e dissidente Ai Weiwei expôs seu medo, em entrevista à AFP, de que não haja “outras saídas” para a crise de Hong Kong a não ser uma violenta repressão aos manifestantes, como ocorreu em Tiananmen, porque, segundo ele, o regime comunista “não sabe fazer de outra maneira”.

“Nenhuma previsão é exagerada”, afirmou, referindo-se à hipótese, cada vez mais mencionada, de que o governo chinês ordene uma repressão parecida com a que o Exército chinês executou na famosa praça de Pequim em junho de 1989.

Trinta anos depois que “os tanques esmagaram a mais pacífica das manifestações, a estudantes sentados, quando todo mundo observava” na praça de Pequim, a história pode se repetir, segundo o artista, um dos mais firmes críticos do regime chinês.

“Não há outras saídas, não sabem nem negociar nem debater. É a natureza desse regime autoritário. Têm somente a polícia e o Exército’, declarou em seu estúdio em Berlim.

Agenda

Os manifestantes organizam uma grande manifestação para domingo com o objetivo de mostrar que o movimento continua a ter grande apoio popular, apesar dos confrontos no aeroporto internacional.

O movimento promete uma manifestação pacífica, mas o risco de confronto é grande, mesmo com o protesto tendo sido autorizado pela prefeitura.

Outras concentrações foram anunciadas para este sábado, apesar de proibidas pelas autoridades.

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