Citrolândia

Abandono de aterro pode causar desastre ambiental 

Líquido proveniente do lixo em decomposição polui solo e destrói vegetação; Catadores também se arriscam no terreno recolhendo entulhos e alimentos

Publicado em 05 de junho de 2014 | 21:55

 
 
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Uma semana depois de um operário morrer em uma explosão no aterro sanitário da Essencis, às margens da BR–381, a reportagem de O Tempo Betim flagrou uma situação de total abandono no aterro sanitário do Citrolândia, desativado em dezembro de 2011 pela ex-prefeita Maria do Carmo Lara (PT), que pode provocar novos acidentes ambientais.
 
Na época, a então chefe do Executivo afirmou, em entrevista, que o local seria tratado e transformado em um parque ecológico. No entanto, mais de dois anos depois, o que se vê é uma realidade bem diferente. Um rio de chorume – líquido de odor forte e de alto potencial de contaminação que é proveniente do lixo – está destruindo a vegetação da área, contaminando o solo, poluindo uma nascente e causando sérios riscos à saúde de moradores da região.
 
O problema estaria ocorrendo porque, conforme explica a superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Dalce Ricas, após o fechamento do aterro, seria necessário que os gases estivessem sendo tratados. “Todo aterro, quando chega ao fim da sua vida útil, deve receber a drenagem do chorume e a captação do gás até que se esgotem. Se essa fiscalização não acontecer, o chorume, ao circular pelo solo em que o lixo foi depositado, poderá atingir o lençol freático (reservatório de água subterrânea proveniente da água da chuva infiltrada no solo), poluindo-o e afetando as espécies aquáticas e as plantações irrigadas”, explica Maria Dalce, ao ressaltar que, nesse caso, a solução seria a raspagem do solo, removendo a camada contaminada.
 
Outro problema encontrado pela reportagem no local foi a Estação de Tratamento de Efluente (ETE), composta por duas lagoas, que, segundo denúncias de funcionários da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, estaria desativada. “Se essas unidades estivessem funcionando, elas tratariam a água residual doméstica ou industrial e, depois, as descartaria com um nível de poluição aceitável, conforme a legislação vigente para o meio ambiente”, explica Maria Dalce.
 
No entanto, conforme imagens feitas por O Tempo Betim na quarta (4), às vésperas do Dia Mundial do Meio ambiente (5 de junho), há a suspeita de que a manta da estação de tratamento esteja furada, causando o vazamento do chorume e, consequentemente, a poluição. 
 
Moradores da região também foram flagrados catando entulhos e restos de alimentos na cava do aterro sanitário, próximo às manilhas por onde os gases são eliminados. Apesar de o aterro estar oficialmente fechado, caminhões também foram vistos despejando resíduos no local, o que pode causar um acidente como o da Essencis. 
 
Segundo a dona de casa Maria da Penha Vieira, 49, a situação é comum. “É um entra e sai de caminhão o dia inteiro. Muita gente se arrisca catando sucatas, latas e móveis velhos”. 
Rosângela Coelho, 49, diz que a notícia de que o aterro foi desativado é “mentirosa”, e que o local ainda causa problema. “As chamas de gases são fortes e causam mau cheiro. Temos muito medo de que ocorra uma explosão, como a que matou o operário da Essencis”.
 

Respostas

 

Procurada, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) explicou que o governo de Minas tem um convênio firmado com a prefeitura, que passa a ser responsável pela fiscalização dos empreendimentos no município.
 
Já a prefeitura informou, através de nota, que o aterro, do ponto de vista técnico, ainda não foi fechado e que serão licitados, ainda neste semestre, os projetos necessários para o fechamento oficial da área. 
 
Ainda segundo a nota, a previsão é que a prefeitura invista mais de R$ 1 milhão para a recuperação ambiental do terreno. 
 
O Executivo não informou quando foi feita a última fiscalização do aterro nem se pronunciou sobre os  riscos aos quais as pessoas estão expostas ao frequentarem a área. Disse apenas que “todos os danos ambientais serão solucionados com a implantação dos projetos que a secretaria está licitando”.