“Escutei um estrondo. Achei que o pneu de um caminhão tinha explodido. Quando olhei para trás, vi a lama descendo e arrastando tudo junto. Entrei na caminhonete, junto com o Elias, meu colega de trabalho, para tentar fugir da onda de lama. Mas quando vimos que não teria para onde ir, fechei os olhos, pedi perdão pelos meus pecados e clamei a Deus, aos berros”. Seis dias após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, Sebastião Gomes, 53, morador do bairro Jardim Alterosas 2ª Seção, não consegue dormir e se emociona ao narrar as cenas do horror que viveu na sexta-feira (25). Ele é um dos trabalhadores da Vale que sobreviveu ao tsunami de lama causada pelo rompimento da Mina do córrego do Feijão. “Fico feliz por estar vivo, mas triste por ter perdido tanto amigos”.
O operador de saneamento, que há nove anos trabalha na Vale, contou que pouco antes de a barragem se romper, ele voltava do almoço no refeitório. “Quando percebi, o mar de lama já estava em cima de nós. Parece que foi a mão de Deus que levantou a gente debaixo do lamaçal e fez com que a gente conseguisse sobreviver. Me senti como o profeta Jonas, que foi jogado ao mar e engolido por uma baleia. Eu fui engolido e cuspido por aquela lama”, relatou o betinense.
Mesmo atônito com a tragédia que havia acabado de ocorrer, Gomes e o colega de trabalho ainda tiveram forças para salvar a vida de outro funcionário da mineradora. Enquanto tentava conter as lágrimas, ele narrou o momento em que salvou “Leandro”. “Vimos apenas o rosto dele fora da lama, pedindo socorro. Cavamos com as mãos e tiramos ele de lá. Depois, olhei para os lados e não vi mais ninguém. Não havia mais barulho. Parecia um cenário de guerra. Foi horrível”, disse Gomes emocionado.
Família tem esperança de encontrar jovem vivo
A gerente do Terminal Rodoviário de Betim, Viviane Teotônio, está tentando ajudar a mãe e o padrasto a se manterem de pé diante da angústia pela falta de informações do sobrinho, Everton Guilherme Gomes, 20. “A família está em choque e, mesmo após tantos dias, os pais ainda têm esperança de encontrá-lo vivo”, contou.
Segundo Viviane, o aparelho celular do rapaz foi encontrado próximo à mata e o pai do jovem chegou a procurá-lo lá, mas não o encontrou. “Ele foi contratado há cerca de um mês, e foi a primeira vez que ele foi à Brumadinho para uma visita técnica”, afirmou. No sábado (26), muitos internautas se emocionaram com as últimas mensagens trocadas entre Paulo Aniceto e o filho.
O jovem trabalhava na área de engenharia de uma terceirizada e, às 12h18 de sexta (25), respondeu à mensagem do pai dizendo que estava em Brumadinho: “Eu te amo! Fica com Deus”. Foi então que o pai conseguiu enviar a última mensagem antes do celular perder o sinal: “Papai te ama muito”.
No sábado (26), o celular foi encontrado, mas sem sinais de Gomes.