Crise

Páscoa: produtores preveem queda de até 80% nas vendas

Para minimizar os prejuízos, Sebrae orienta empresários a focar em marketing digital e em aplicativos de entrega

Publicado em 02 de abril de 2020 | 21:31

 
 
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Principal data comercial para produtores de chocolate, a Páscoa será amarga para a maioria dos empresários do setor em Betim. Com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, alguns projetam queda de até 80% nas vendas do período, como é o caso da Chocolates Brasil Cacau.

“A Páscoa é o Natal das lojas de chocolate. Como não conseguiremos vender com o esperado, estamos nos esforçando ao máximo para dar saída nos produtos através das redes sociais. Para Betim, estamos oferecendo, por exemplo, a entrega de produtos sem taxa”, contou Jossaine Pedrosa, 48, sócia-proprietária da loja. 

A crise também chegou com força na Xocoalt Chocolates Finos. Segundo Moema Lott Cabral Leite, 48, sócia-proprietária da loja betinense, as vendas presenciais representam hoje 97% do faturamento da sua empresa e, como a chegada da pandemia da Covid-19, a previsão é de queda de 40% nas vendas na Páscoa.

Depois de ser surpreendida com o decreto de fechamento do comércio na cidade, uma medida adotada pelas autoridades para tentar conter o contágio da doença, Moema disse que só agora, há pouco mais de uma semana da Páscoa, é que a produção de ovos e chocolates para o período foi retomada na loja.

“Pretendemos trabalhar as vendas por encomenda, via redes sociais, e diretamente com os nossos fiéis clientes. Também estamos investindo muito no comércio delivery”, contou. 

Em razão da Covid-19, a Confeitaria Ganache também teve que suspender por um período a produção de ovos e chocolates para a Páscoa, e deu folga e licença para parte dos funcionários. Segundo Bárbara Marina Andrade Lima, 26, proprietária da loja em Betim, a empresa também está pessimista e prevê retração de 40% nas vendas para o período.

“Estamos trabalhando sem expectativas para a Páscoa. O que vier de demanda será muito bem-vindo. Pelo menos, não estamos com produtos encalhados, porque quando íamos iniciar a produção em massa, as medidas de isolamento social começaram”, contou a empresária.

Em contrapartida às perspectivas negativas para a Páscoa, Bárbara disse que, mesmo sem movimento de clientes presenciais na loja, houve um grande aumento das vendas delivery após a chegada da pandemia. “Desde o primeiro dia de isolamento, começamos a receber um volume grande pedidos delivery. Chegou a ser assustador o número de pedidos. Felizmente, nos adaptamos rápido e, hoje, trabalhamos como se a loja estivesse aberta”, contou a empresária.

Minimizar prejuízos

Para tentar reduzir os impactos das vendas neste período, o Sebrae orienta que os empreendedores adotem uma série de medidas, como rever os gastos e redobrar o controle do fluxo de caixa. “Repense expectativas de vendas, evitando compras desnecessárias. Se trabalha com encomenda, peça mais prazo de produção para o seu cliente. Se tem contas em aberto com fornecedores, renegocie prazos de pagamentos. Se necessário, reduza sua oferta de produtos, trabalhando apenas com aqueles que garantem boa margem de lucro, priorizando liquidar o estoque acumulado e não fazer compras arriscadas. A hora é de apertar os cintos”, salientou o Sebrae.

Outra dica da instituição para produtores que possuem lojas físicas é que eles invistam pesado em marketing digital, em plataformas de comércio eletrônico e nos aplicativos de entrega. “Comunique ao cliente que seu negócio está adotando todas as medidas cabíveis que prezam pela segurança e qualidade do seu produto. Atente-se para que, além dos funcionários da sua empresa, todos os seus fornecedores e prestadores de serviço também tenham todo o cuidado necessário com o coronavírus”, destacou o Sebrae.

Sem projeções

A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas orientou os produtores a seguirem as recomendações das autoridades, mas não soube precisar o impacto na demanda de produtos de Páscoa. Já as CDLs Betim e BH disseram não terem feito pesquisas de projeções de vendas para o período.

Queda nos lucros

Uma pesquisa feita pelo Sebrae, diante dos primeiros dias de restrição à circulação de pessoas e isolamento social em decorrência do coronavírus, mostra que 89% das micro e pequenas empresas brasileiras observam uma queda no seu faturamento, e 36% dos empreendedores afirmam que precisarão fechar o negócio permanentemente, em um mês, caso as restrições adotadas permaneçam por mais tempo.

A pesquisa, feita entre os dias 20 e 23 de março, junto a um universo de 9.105 donos de pequenos negócios, revelou que, na média, a redução no faturamento das empresas foi de 69%. Os empresários ouvidos pelo Sebrae ressaltam que, mesmo adotando uma estratégia de venda online, o faturamento anual do negócio sofreria uma queda de 74%, caso as políticas de isolamento social sejam mantidas por um período de dois meses.

Com a expressiva queda nas vendas, 54% dos empreendedores já preveem que precisarão solicitar empréstimos para manter o negócio em funcionamento sem gerar demissões. E, avaliando as perspectivas da economia brasileira, 33% dos empresários entrevistados acreditam que o país deve levar um ano ou mais para voltar ao normal.