Um artista para quem a música é muito mais do que um trabalho: é sua vida. Esse é Vitor Soares, compositor e músico independente, que tem uma história especial em Contagem.
Natural de Itaobim, no interior de Minas, Vitor Soares teve despertada a admiração pela música muito cedo. Impulsionada, talvez, pela arte contida em ritmos como samba, rock e MPB, das quais ele conta sempre ter sido fã. E, isso, fez com que o garoto, com seus nove anos de idade, desse seu primeiro pontapé no mundo artístico: se apresentar no show de calouros da cidade.
Ele conta que subiu ao palco para cantar a música “Pelados”, do grupo paulista Ultraje a Rigor. “Foi uma coragem que não sei de onde tirei, eu subi tremendo de medo, mas depois que comecei a cantar percebi que era o que eu queria para mim”, conta. Ainda segundo ele, a reação do público foi ótima, ele foi vencedor da competição, ganhou um troféu e prêmio em dinheiro, e passou a participar do evento todos os anos.
Depois de cumprida essa importante etapa ao se apresentar no show de calouros, Vitor teve mais uma decisão de coragem, um investimento que o então garoto fez já pensando em realizar o seu sonho de ser músico. O próximo passo foi trocar sua bicicleta – sonho de consumo de qualquer garoto da sua idade – por um violão usado de um amigo de escola. Do colega ele só lembra o nome, Alberone –, já que perdeu o contato com o passar dos anos – mas a certeza que tem hoje em dia é de a de que o negócio valeu muito a pena.
A partir daí, com persistência e dedicação, o garoto foi autodidata, conseguiu aprender a tocar o violão, acompanhando e observando o irmão mais velho, que já sabia manejar o instrumento. “Meu irmão tocava de uma maneira simples. Vendo-o comecei a captar a essência e comecei a construir canções. No entanto, ele parou no tempo e eu continuei”, diz Vitor.
Ainda em Itaobim, aos 13 anos, Vitor montou, com mais três amigos, uma banda de rock chamada Acid, seu primeiro projeto musical. “Nesse período, comecei a pegar experiência de contatos, vendia os shows na região e era o mentor da banda. Quando acabou fiquei com uma tristeza enorme”, conta.
0 próximo passo trouxe Vitor Soares para Contagem. Segundo o artista, como viver da musica no interior é algo bem difícil, seu objetivo era vir para Belo Horizonte. E foi isso que ele fez em 1996. Arrumou um emprego numa gráfica na capital, e com a ajuda de um primo, que morava no bairro Novo Eldorado, se estabeleceu no município. Sua família veio depois, e ele acabou morando na cidade por 14 anos.
E como a música, além de trabalho, é também a vida de Vitor, o músico consegue sobreviver com sua arte há 17 anos. Em Contagem, ele anima as noites de domingo, no Coliseu da Carne. E além da carreira solo, é um dos fundadores, compositor oficial e vocalista do Grupo Boneco de Pano, do qual faz parte há quase sete anos.
O Boneco de Pano, composto por 11 artistas, entre músicos e circenses, encanta o público por onde passa, com suas canções, brincadeiras, poesias e performances, reunindo elementos de teatro e circo numa mistura única. E Vitor, no papel de compositor do grupo, se encarrega de encher o repertório com influências do cancioneiro popular – uma de suas paixões.
Paixão essa que é mais do que inquestionável, já que ele é um grande conhecedor de música. Vitor, além de produzir, é um pesquisador, estudioso da musicalidade. Em sua casa, como conta, há quase 5.000 discos de vinil – o que revela sua devoção por essa arte.
Arte que se completa com o trabalho do Boneco de Pano, outra de suas paixões. Para ele, uma das apresentações mais marcantes de sua vida foi justamente com o grupo, em Capelinha, interior de Minas, há aproximadamente quatro anos. “O show foi na boca da noite, com um pôr do sol maravilhoso, que víamos do palco, e um amigo da trupe que encantou o público cuspindo fogo. Foi um momento mágico”, conta Vitor.
Apesar de sempre ter tido o apoio da família para seguir a carreira de músico, Vitor revela que ainda há certo preconceito em relação à carreira de artista, o que não deve desanimar quem sonha com isso. “Algumas pessoas ainda se recusam a reconhecer o trabalhar com música como algo sério, e quando te perguntam o que você faz, e você responde, te perguntam novamente ‘mas, você trabalha com o quê?’”, conta.
E ainda deixa uma lição. Para ele, se o artista tiver um trabalho legal, direcionado, e possuir estrutura para correr atrás e descobrir qual caminho seguir, ele vai conseguir. “Mesmo que não consigamos o que queremos na primeira tentativa, não devemos desistir, não se pode esperar as coisas baterem na sua porta, temos que levantar da cadeira e ir atrás dos nossos sonhos”.