O futebol, a idolatria e a imprensa formaram um trio imbatível e criaram um gigante. Juntos, transformaram este esporte em uma indústria poderosa e lucrativa. O craque ganha status de mito. Quem erra é execrado. Todo ano há exemplos nas duas pontas.
O crucificado da vez é Muralha, o goleiro reserva do Flamengo. O apelido ajuda. Espera-se de quem é chamado de ‘Muralha’ um goleiro intransponível. Alex Roberto Santana Rafael não é. O mineiro de Três Corações está longe de ser o Pelé do gol.
Muralha é mais um dos arqueiros medianos que surgem todos os anos no Brasil. Teve grande fase no Figueirense e mereceu a chance no Flamengo. Só não merece a perseguição que sofre dos flamenguistas, que chegou ao ápice na última sexta-feira.
O jornal “Extra”, do Rio de Janeiro, publicou um editorial em sua capa falando que, devido às falhas, não chamará Alex mais pelo apelido. O goleiro será chamado de “ex-Muralha” até que volte a ter atuações convincentes.
Muralha falhou contra o Paraná Clube, pela inexpressiva Primeira Liga. Ele também será o goleiro titular contra o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, que começa na próxima quinta-feira, em jogo no Maracanã. Diego Alves, o arqueiro titular, não pôde ser inscrito na competição.
O jornal carioca pressiona o goleiro em uma semana decisiva. Se o objetivo era fazer com que Muralha jogasse mais do que consegue, acredito que não fará efeito. O Cruzeiro tem um time experiente e um técnico que sabe aproveitar destes efeitos.
Entretenimento? O “Extra”, que buscou ser engraçado, mostra uma outra face do jornalismo esportivo brasileiro. Algo que lutamos todos os dias nas redações. Qual o limite entre informar e também entreter?
O futebol e os outros esportes movimentam uma grande indústria, sem dúvida, mas continua sendo uma forma de entretenimento.
E o futebol é um dos principais divertimentos dos brasileiros, seja indo ao estádio ou acompanhando pela televisão.
Para atingir o seu público, os flamenguistas revoltados com as atuações frustrantes de Muralha, o jornal “Extra” extrapolou. Atingiu a honra do goleiro. Passou do ponto e o próprio torcedor que não curte o goleiro se solidarizou, já que a força da imprensa é muito maior do que o grito de uma torcida.
Acredito que a turma do periódico carioca “Extra” errou no ponto, buscando fazer um jornalismo irreverente, cada vez mais presente no dia a dia do torcedor.
O mesmo modelo que aderiu aos decretos todas as sextas e que também perdeu o ponto e teve um período para refletir sobre isso.
Mea-culpa. A crítica sempre fez parte do jornalismo esportivo. Os jogadores sabem disso. Há alguns que nem leem os jornais ou veem programas esportivos para não se deixar contaminar. E, em erros como este, nós, jornalistas, devemos fazer um ‘mea-culpa’ e rever alguns pontos.
Eu mesmo crucifico alguns jogadores mineiros pelo que fazem em campo. Se me excedi em algum momento, peço desculpas.
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