Daqui a uma semana, dizem, a campanha eleitoral vai começar de verdade. Será o início da exibição dos programas gratuitos na TV, e, enfim, as disputas entrarão nas casas das pessoas maciçamente. Por isso, os analistas apostam que o 19 de agosto marca uma nova etapa, e eles têm boa razão. Os candidatos estão nas ruas praticamente desde o fim da Copa, mas o eleitor ainda está longe de se envolver, como mostra a quantidade de indecisos nas pesquisas de intenções de votos.
Foram divulgadas recentemente as primeiras prestações de contas das campanhas. As distorções de sempre se repetem: poucas empresas doam muito a todos os candidatos, fulano arrecadou quatro vezes mais do que beltrano, e rios de dinheiro jorram dos comitês e movimentam um mercado um tanto nebuloso.
Quando o nome de Pimenta da Veiga apareceu pela primeira vez no cenário como uma possibilidade de sucessão a Anastasia no governo de Minas, a sugestão pareceu um traque. Como o partido de Aécio aposta suas fichas em um quadro afastado da política – há quem diga que do Estado também – há duas décadas? Um importante deputado estadual tucano afirmou, com todos os pingos nos is, que “a publicidade” daria um jeito nisso, que corrigiria a distância entre o escolhido e a memória do eleitor.
A fala mostra como os artífices de mídia são centrais nos processos eleitorais de nossa jovem democracia. Eles são elevados a uma espécie de tábua de salvação, mesmo de grupos de peso, como o PSDB em Minas.
Acontece que toda munição tem seu preço. A campanha de Dilma, por ter a maior coligação entre os presidenciáveis, terá a metade dos 20 minutos reservados à propaganda gratuita nas grades de programação. É difícil ter a dimensão da equipe e da parafernália necessárias para se produzirem três programas semanais de 11 minutos com qualidade. Só quem é do ramo consegue estimar a extensão desse “Projac transitório”.
A legislação eleitoral tem recursos que tentam equalizar as chances dos cidadãos que disputam um cargo eletivo. Mas as rachaduras das normas persistem, e é por elas que o dinheiro encharca a política. Se se suspeita que quem tem mais grana tem mais chance de se eleger, a conclusão é que o sistema é falho.
O poder financeiro joga um véu sobre aquilo que mais importa e faz da campanha uma mera corrida estética, ombreando a vitória nas urnas a um prêmio de televisão promovido por um semanário de celebridades. A TV segue como a rainha do lar dos eletroeletrônicos, e a internet, como meio de informação, apesar de sua franca expansão, ainda é restrita. A campanha feita por meio de sites e redes sociais é mais barata, talvez mais informativa e, portanto, mais democrática.
Mas a hegemonia da TV faz dela o principal meio ao qual as pessoas recorrem para decidir em quem votar, ainda que na “bacia das almas”. A postura com a qual se postar diante da tela, entretanto, não deveria ser a do semientorpecimento com que se assiste à novela ou ao futebol. O poder estético e artificial dos programas eleitorais não deve em nada às atrações campeãs de audiência. Ai dos desavisados.
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